Análise IEDI
Uma nova fase no comércio exterior
Os dados divulgados hoje pelo Mdic mostram claramente que entramos em uma nova fase no que diz respeito ao comércio exterior. Parece ter chegado ao fim o período de geração de saldos comerciais cada vez mais robustos, sob influência da crise da economia brasileira, que deprimiu importações e encorajou exportações. O contexto agora é outro, ainda que a recuperação econômica custe a apresentar a vitalidade desejada.
Selecionamos abaixo quatro pontos que acompanham essa inflexão de trajetória no comércio exterior brasileiro.
O primeiro ponto refere-se ao declínio do saldo da balança comercial. Embora em termos absolutos o saldo de US$ 30 bilhões no acumulado de janeiro-junho de 2018 permaneça significativo, a capacidade de nosso comércio internacional promover acréscimos adicionais não se verifica mais.
Desde janeiro deste ano, a geração de saldo tornou-se sistematicamente negativa quando considerada a média móvel trimestral das médias por dia útil na comparação interanual, saindo de -1,1% em jan/18 para -21,3% em jun/18. Deste modo, o resultado no acumulado do primeiro semestre do ano chegou a -17,0%.
O segundo ponto a ser destacado identifica as forças por trás desta evolução do saldo comercial, isto é, o fato de as importações estarem crescendo muito à frente de nossas exportações.
No acumulado do primeiro semestre, importamos um total de US$ 83,8 bilhões e exportamos US$ 113,8 bilhões, o que, na comparação com 1º sem/17, representa uma alta de 17,2% e 5,7%, respectivamente, tomadas as médias por dia útil, como mostram as variações abaixo. Isto é, mesmo com uma recuperação frouxa as importações correm a uma velocidade três vezes maior do que as exportações. O que dizer quando o crescimento do PIB finalmente se acelerar?
• Exportações: +19,3% no 1º sem/17; +15,8% no 2º sem/17 e +5,7% no 1º sem/18;
• Importações: +7,3%; +11,7% e +17,2%, respectivamente;
• Saldo da Balança: +53,1%; +28,0% e -17,0%, respectivamente.
O terceiro ponto importante a ser mencionado é a liderança das exportações de manufaturados. Segundo as médias por dia útil, os embarques acumulados de janeiro a junho de 2018 cresceram 8,6% no caso de bens manufaturados, seguidos por produtos básicos, com +4,8%, e semimanufaturados, com apenas +0,3%. Mesmo excluída a exportação meramente contábil de uma plataforma de petróleo, os manufaturados mantêm um desempenho razoável (+4,6%).
Dentre os produtos manufaturados de destaque na primeira metade do ano estão máquinas para terraplanagem (+47,2%), tratores (+37,3%), motores para veículos e partes (+27,0%), motores e geradores elétricos (+13,3%), autopeças (+13,0%) e aviões (+6,8%). Já exportação de veículos não é mais a mesma: retroagiu nada mesmo que -18,4% no caso de automóveis leves e -31,2% no caso de veículos de carga. Os recentes problemas econômicos da Argentina não têm ajudado o desempenho exportador da indústria automobilística.
O quarto e último ponto selecionado diz respeito ao expressivo avanço das importações de bens de capital, que frente ao 1º sem/17 atingiu +53,4%, tomadas as médias por dia útil. Este é um resultado que não reflete a intensidade da reativação da economia, mas sim o grande atraso que se acumulou nos últimos anos com a paralisação dos investimentos. Dado o envelhecimento de máquinas e equipamentos, alguma recomposição se faz necessária para defender os níveis de eficiência e de competitividade produtiva das empresas.
Conforme os dados divulgados pelo MDIC, no mês de junho de 2018 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 5,882 bilhões, retração de 18,1% frente ao alcançado em igual período de 2017, US$ 7,184 bilhões.
As exportações alcançaram a valor de US$ 20,202 bilhões, representando um crescimento de 2,1% em relação a junho de 2017, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês. As importações somaram US$ 14,320 bilhões, o que significou um aumento de 13,7% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
No mês de junho de 2018, as médias diárias das exportações e importações registradas foram de US$ 962 milhões e US$ 682 milhões, respectivamente.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$ 9,558 bilhões no período, decréscimo de 0,3% em comparação a junho de 2017. Os produtos industrializados somaram US$ 10,168, crescimento de 4,4% quando em relação a junho de 2017, os manufaturados somaram US$ 7,258 bilhões, sendo aumento de 7,6% na mesma base de comparação anterior e os semimanufaturados somaram US$ 2,910 bilhões, variação negativa de 2,7% quando comparado a junho de 2017.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2017 houve crescimento três dos cinco segmentos analisados, sendo de 7,5% para produtos manufaturados, 4,9% para operações especiais e 4,4% para produtos industrializados. Por outro lado, houve retração nos segmentos de produtos semimanufaturados 2,6% e para produtos básicos 0,3%.
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com junho de 2017, retrocederam as vendas principalmente de carne suína (-59,0%, para US$ 58 milhões), carne de frango (-41,9%, para US$ 326 milhões) e petróleo em bruto (-38,0%, para US$ 1,2 bilhão). Por outro lado, cresceram principalmente as vendas de farelo de soja (+33,3%, para US$ 630 milhões), soja em grão (+25,2%, para US$ 4,2 bilhões) e minério de ferro (+17,7%, para US$ 1,6 bilhão).
No grupo dos manufaturados, quando comparado com junho de 2017, cresceram as vendas principalmente de óleos combustíveis (+136,5%, para US$ 241 milhões), óxidos/hidróxidos de alumínio (+56,2%, para US$ 316 milhões), máquinas para terraplanagem (+51,6%, para US$ 279 milhões), motores para veículos e partes (+43,9%, para US$ 225 milhões) e aviões (+43,2%, para US$ 506 milhões).
Já no grupo dos semimanufaturados, quando comparado com junho de 2017, cresceram as vendas principalmente de catodos de cobre (+286,9%, para US$ 33 milhões), semimanufaturados de ferro/aço (+99,1%, para US$ 622 milhões), ferro ligas (+53,3%, para US$ 249 milhões), celulose (+34,1%, para US$ 832 milhões) e madeira serrada (+31,8%, para US$ 65 milhões).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 14,320 bilhões importados em junho, US$ 8,919 bilhões foram de bens intermediários, US$ 2,194 bilhões de bens de consumo, US$ 1,687 bilhões de bens de capital e US$ 1,514 bilhão foram referentes ao grupo de combustíveis e lubrificantes.
Na comparação frente ao mesmo período de 2017, considerando a média diária, houve crescimento em três dos quatro segmentos das importações, puxado por bens de capital (33,8%), bens de consumo (20,8%) e bens intermediários (13,3%). Já combustíveis e lubrificantes apresentou retração de 7,7%.