Análise IEDI
Por um Plano Nacional para a Indústria 4.0
A Carta IEDI a ser divulgada hoje procura estabelecer alguns princípios para um plano nacional voltado à Indústria 4.0 no Brasil. O trabalho faz parte de uma série de quinze estudos que subsidiaram a elaboração da estratégia industrial do IEDI e tem como base as reflexões feitas pelo consultor Roberto Vermulm, Professor de Economia da USP e Ex-Diretor do CGEE, da FINEP e da EMBRAPII.
Para fazer frente aos desafios da Indústria 4.0, o Brasil necessita retomar o investimento no setor industrial e, ao mesmo tempo, transformar a sua estrutura produtiva, modernizando sua pauta de produção e exportação, seus processos produtivos e modelos de negócios. Esse processo de transformação requer a cooperação entre agentes públicos e privados no direcionamento de uma estratégia de desenvolvimento nacional para evitar perdas adicionais ainda maiores em sua estrutura industrial.
A despeito de algumas iniciativas recentes, inclusive na esfera do governo federal, ainda existe, segundo o autor, a carência de um Plano Nacional para a Indústria 4.0 em que haja coordenação entre as instituições públicas entre si e entre elas e o setor privado. Vale lembrar que um grande problema da política industrial e tecnológica brasileira é a fragilidade da institucionalidade sobre a qual se apoia, refletindo-se em decisões que não são efetivamente implementadas, políticas sem definição de prioridades, não estabelecimento de instrumentos de ação, falta de articulação entre instituições e de cooperação efetiva entre governo e empresariado etc. Todas essas deficiências permanecem na ordem do dia e precisam ser endereçadas, segundo o autor.
Assumindo-se o compromisso dos agentes públicos e de lideranças empresariais com a agenda 4.0, é imprescindível a elaboração de um plano nacional para a Indústria 4.0 sob o comando no mais alto nível, de modo a, entre outros aspectos, assegurar convergências e sinergias. Recomenda-se ainda que seja um programa de longo prazo, algo como 10 anos, e que contemple princípios tais como:
• A política para a Indústria 4.0 deve estar voltada tanto para ações de inovação quanto de difusão de tecnologias. A questão da difusão é muito importante porque várias das tecnologias habilitadoras da Indústria 4.0 já são conhecidas e podem ser adotadas pelas empresas com impactos relevantes imediatos sobre sua produtividade. Por outro lado, não se pode restringir à difusão sob o risco de ficarmos presos em um horizonte curto demais para uma estratégia de desenvolvimento tecnológico.
• É importante que o Brasil defina sua estratégia no campo da inovação tecnológica na medida em que a Indústria 4.0 abre novas janelas de oportunidade. Todas as propostas sobre inovação ressaltam a importância da cooperação entre empresas e instituições científicas e tecnológicas como uma imposição.
• Tratar a indústria como se fosse um único campo de aplicação pode não ser o procedimento mais adequado, pois as especificidades setoriais são importantes em uma política para a Indústria 4.0. Isso porque o estágio e a dinâmica dos processos de digitalização industrial são diferenciados entre os setores industriais.
• Na dimensão da difusão tecnológica, o papel das empresas integradoras é considerado estratégico, o que justifica um conjunto de medidas de política para viabilizar e fortalecer esses empreendimentos.
• A estruturação de testbeds e as redes de inovação são infraestruturas relevantes para o desenvolvimento tecnológico da indústria brasileira na era 4.0. Esses laboratórios devem possuir foco de atuação bem definido, o que implica dizer que são necessários vários laboratórios desse tipo para atender a toda a demanda potencial do setor industrial. As empresas de menor porte seriam as maiores demandantes de serviços de testbeds.
• Dado que é bastante rara a cooperação entre empresas que possuem atividades de P&D, universidades e institutos de pesquisa e que as instituições de pesquisa no país não trabalham com foco bem delimitado em decorrência da grande instabilidade orçamentária na qual operam, pode ser mais aconselhável criar uma rede de laboratórios sob uma única instituição em parceria com o setor privado, com departamentos específicos definidos por conjuntos de competências necessárias para o desenvolvimento da Indústria 4.0.
• Diretamente, o governo deve se utilizar tanto de compras de bens e de serviços, em áreas como saúde, segurança, defesa, mobilidade, administração geral etc, bem como de encomendas tecnológicas com características específicas que sejam de interesse público.
• Indiretamente, o governo pode utilizar seus mecanismos tradicionais de redução de custo e de risco da pesquisa tecnológica. Nesse sentido pode se utilizar dos incentivos fiscais à P&D, subsídios financeiros na concessão de empréstimos com retorno, concessão de financiamento não reembolsável para institutos de pesquisa que desenvolvam tecnologias em parceria com empresas industriais, subvenção econômica etc. O pressuposto é que o Tesouro Nacional libere recursos para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) que tem essa possibilidade instrumental.
• Dada a intensidade de conhecimento das tecnologias habilitadoras da Indústria 4.0 e a intensidade de serviços embutidos nessas tecnologias, as startups se tornaram importantes como desenvolvedores de tecnologias e suas aplicações. Políticas específicas para esse segmento se justificam, abrangendo formação de recursos humanos, financiamento e gestão empresarial.