Análise IEDI
Exportações de manufaturados em uma conjuntura negativa
Segundo os dados divulgados hoje pelo Mdic, o saldo da balança comercial brasileira em julho de 2018 registrou um superávit de US$ 4,2 bilhões, decorrente de exportações de US$ 22,8 bilhões e de importações de US$ 18,6 bilhões. Apesar de positivo, o resultado da balança foi menor do que em igual mês do ano passado, algo que vem marcando a evolução de nossas contas externas em 2018.
Os dados acumulados no período de janeiro a julho já prenunciam o fato de que devemos ter um saldo menos robusto este ano: são US$ 34,1 bilhões contra US$ 42,5 bilhões em igual período de 2017. Isto é, mesmo compreendendo um superávit significativo, o resultado da balança regrediu 19,6%, devido à vitalidade com que vem crescendo as importações do país, muito à frente de nossas vendas externas.
Ainda considerando o agregado dos sete primeiros meses de 2018, compramos do exterior o equivalente a US$ 102,4 bilhões, implicando um avanço de nada menos do que +22% em relação ao mesmo período do ano passado. Este ritmo contrasta com o desempenho importador em igual período de 2017 havia sido de apenas +7,2%.
É verdade que alguns fatores pontuais contribuíram para essa evolução das importações, especialmente no mês de julho, quando a compra de uma plataforma de petróleo do exterior fez com que a importação de bens capital, segundo a média por dia útil, saltasse 240% frente a jul/17. O dinamismo das compras externas, porém, não se restringe a causas isoladas e reflete a saída da recessão da economia. Bens de capital (+83,6%), bens intermediários (+12,2%) e bens de consumo (+16,9%) tem importações em elevação a um ritmo de dois dígitos no acumulado de jan-jul/18.
As exportações, por sua vez, mantiveram sua trajetória ascendente, atingindo US$ 136,6 bilhões em janeiro-julho de 2018. Embora tenha havido alta de 8% frente a igual período do ano anterior foi de 8%, o ritmo de crescimento foi menos da metade do que em mesmo acumulado de 2017 (+18,7%). Neste aspecto, os dados mais recentes sugerem que a desaceleração possa ser ainda mais intensa do que indica o acumulado do ano, especialmente para alguns produtos.
As variações interanuais abaixo das exportações por dia útil mostram que são os produtos manufaturados e semimanufaturados quem não vive um momento muito favorável e isso desde o mês de abril, ou seja, antes mesmo da paralisação dos caminhoneiros afetaram nossas exportações. Desde então se inicia uma sequência de resultados negativos.
• Exportações totais: -4,3% em abr/18; +1,4% em mai/18; +2,2% em jun/18 e +16,5% em jul/18;
• Exportações de básicos: -4,6%; +17,2%; -0,2% e +48,3%, respectivamente;
• Exportações de semimanufaturados: -2,7%; -9,5%; -2,6% e -11,8%;
• Exportações de manufaturados: -4,4%; -17,4%; +7,5% e -6,2%, respectivamente.
Essa evolução de manufaturados e semimanufaturados não contribui para o desempenho da indústria, especialmente porque o mercado doméstico segue sem grande vigor devido a travas importantes, tais como o desemprego ainda muito elevado.
Os produtos básicos, por sua vez, tampouco vinham conseguindo repetir, até recentemente, o bom desempenho do final do ano passado, quando registraram taxas de crescimento acima de 30% por meses seguidos. Em julho de 2018, petróleo bruto (+112,1% ante jul/17), soja em grão (+53,4%) e minério de ferro (+47,0%) alavancaram o total das exportações de básicos.
Conforme os dados divulgados pelo MDIC, no mês de julho de 2018 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 4,227 bilhões, queda de 32,7% ao alcançado em igual período de 2017, US$ 6,285 bilhões.
As exportações atingiram o valor de US$ 22,870 bilhões, representando um aumento de 16,4% em relação a julho de 2017, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês. As importações somaram US$ 18,643 bilhões, o que significou um crescimento de 42,7% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
Para o mês de julho de 2018, as médias diárias das exportações e importações registradas foram de US$ 1,040 bilhões e US$ 847 milhões, respectivamente.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$12,980 bilhões no período, expansão de 55,3% em comparação a julho de 2017. Os produtos industrializados alcançaram US$ 9,666, retração de 3,2%, os manufaturados somaram US$ 7,260 bilhões, retração de 1,7%, e os semimanufaturados somaram US$ 2,406 bilhões, decréscimo de 7,6%, todas as variações frente ao mesmo mês do ano anterior.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2017 houve expansão de um dos cinco segmentos analisados, sendo ele, produtos básicos (48,2%). Por outro lado, houve retração nos segmentos de operações especiais (-48,1%), produtos semimanufaturados (-11,8%), produtos industrializados (-7,6%) e produtos manufaturados (-6,1%).
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com julho de 2017, aumentaram as vendas principalmente de tripas/buchos de animais (+350,9%, para US$ 136 milhões), petróleo em bruto (+112,1%, para US$ 3,5 bilhões), minério de cobre (+89,4%, para US$ 361 milhões), farelo de soja (+71,8%, para US$ 725 milhões), soja em grão (+53,4%, para US$ 4,1 bilhões), minério de ferro (+47,0%, para US$ 1,8 bilhão), carne bovina (+36,2%, para US$ 637 milhões) e carne de frango (+14,2%, para US$ 660 milhões).
No grupo dos manufaturados, ainda frente a julho de 2017, retrocederam as vendas principalmente de aviões (-45,9%, para US$ 152 milhões), automóveis de passageiros (-35,7%, para US$ 355 milhões), veículos de carga (-28,8%, para US$ 187 milhões), tratores (-21,8%, para US$ 116 milhões), autopeças (-19,0%, para US$ 163 milhões), polímeros plásticos (-17,7%, para US$ 139 milhões), óxidos/hidróxidos de alumínio (-12,1%, para US$ 210 milhões) e motores p/veículos e partes (-3,9%, para US$ 149 milhões). Por outro lado, cresceram as vendas de partes de motores e turbinas p/aviação (+331,7%, para US$ 260 milhões), óleos combustíveis (+77,5%, para US$ 283 milhões), suco de laranja não congelado (+42,0%, para US$ 133 milhões), plataforma p/extração de petróleo (+31,6%, para US$ 1,2 bilhão), motores/geradores elétricos (+9,3%, para US$ 108 milhões), tubos flexíveis de ferro/aço (+4,5%, para US$ 141 milhões) e máquinas p/terraplanagem (+4,3%, para US$ 226 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, quando comparado com julho de 2017, decresceram as vendas principalmente de couros e peles (-50,2%, para US$ 77 milhões), açúcar em bruto (-45,7%, para US$ 479 milhões), ferro fundido (-45,4%, para US$ 46 milhões), ouro em forma semimanufaturada (-26,3%, para US$ 131 milhões) e madeira serrada (-0,6%, para US$ 56 milhões). Por outro lado, subiram as vendas de catodos de cobre (+106,7%, para US$ 51 milhões), óleo de soja em bruto (+38,3%, para US$ 147 milhões), semimanufaturados de ferro/aço (+35,1%, para US$ 427 milhões), celulose (+16,1%, para US$ 604 milhões) e ferro ligas (+5,9%, para US$ 207 milhões).
Ao analisar os mercados compradores, cresceram as vendas para a Ásia (+42,7%, sendo que a China cresceu 65,3%, para US$ 7,0 bilhões, por conta de soja em grão, petróleo em bruto, minério de ferro, carne bovina, celulose, carne suína, óleo de soja em bruto, catodos de cobre, carne de frango, óleos combustíveis, tripas/buchos de animais, miudezas de animais), União Europeia (+24,3%, por conta de petróleo em bruto, farelo de soja, minério de cobre, tripas/buchos de animais, minério de ferro, soja em grão, suco de laranja não congelado, carne de frango, partes de motores e turbinas p/aviação, ferro fundido, motores e turbinas p/aviação, torneiras e válvulas, gasolina), Oceania (+20,9%, por conta de óleos combustíveis, máquinas p/uso agrícola, inseticidas, máquinas p/terraplanagem, lagostas congeladas, medicamentos, pneumáticos), América Central e Caribe (+5,9%, por conta de aviões, motores/turbinas p/aviação, petróleo em bruto, minério de ferro, carne de frango, celulose, preparações de carne bovina, óleos combustíveis) e Estados Unidos (+0,9%, por conta de petróleo em bruto, semimanufaturados de ferro/aço, partes de motores e turbinas p/aviação, gasolina, celulose, máquinas p/terraplanagem, minério de ferro, motores/geradores elétricos, óxidos/hidróxidos de alumínio, óleos combustíveis, móveis e partes, motores e turbinas p/aviação, partes e peças de aeronaves). Por outro lado, diminuíram as vendas para a África (-34,1%, em decorrência de açúcar, milho em grão, carne bovina, veículos e materiais p/vias férreas, carne de frango, máquinas p/terraplanagem, arroz em grão), Oriente Médio (-11,4%, principalmente por açúcar, chassis c/motor, milho em grão, ouro em forma semimanufaturada, óxidos/hidróxidos de alumínio, tubos de ferro fundido, café em grão, carne bovina, fumo em folhas) e Mercosul (-3,6%, sendo que a Argentina decresceu 27,4%, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, tratores, semimanufaturados de ferro/aço, máquinas p/terraplanagem, óleos combustíveis, ônibus, autopeças, pneumáticos, motocicletas, máquinas p/uso agrícola, chassis c/motor, papel e cartão, motores p/veículos e partes).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 18,643 bilhões importados em julho, US$ 10,088 bilhões foram de bens intermediários, US$ 2,184 bilhões de bens de consumo, US$ 4,767 bilhões de bens de capital e US$ 1,603 bilhão foram referentes ao grupo de combustíveis e lubrificantes.
Na comparação frente ao mesmo período de 2017, considerando a média diária, houve crescimento em todos os segmentos das importações, puxado por bens de capital (239,7%), bens intermediários (22,3%), bens de consumo (20,1%) e combustíveis e lubrificantes (0,5%).
Destaques importações. Com relação a bens de capital, aumentaram as compras, principalmente, de plataforma p/extração de petróleo, veículos de carga, máquinas p/empacotar, máquinas p/preparação de carnes.
No segmento bens de consumo, os principais aumentos foram observados nas importações de automóveis de passageiros, medicamentos, aparelhos celulares, fungicidas, calçados esportivos, azeite de oliva.
No segmento de bens intermediários, cresceram as aquisições de naftas p/petroquímica, tubos flexíveis de ferro/aço, sulfetos de minério de cobre, trigos e misturas de trigo, caixas de marchas, torneiras, compostos heterocíclicos.
No grupo dos combustíveis e lubrificantes, o crescimento ocorreu principalmente pelo aumento das compras de gás natural, coques, querosene de aviação, carvão, fuel-oil, energia elétrica, butanos liquefeitos, óleos lubrificantes.
Por fim, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação julho 2018/2017, aumentaram as compras originárias dos principais mercados, a saber: Mercosul (+221,2%, sendo que da Argentina cresceu 27,0%, por conta de automóveis de passageiros, trigo em grão, veículos de carga, milho em grão, alhos fresco/refrigerado, alumínio em bruto, cevada em grão, malte não torrado, algodão em bruto, autopeças, ônibus), América Central e Caribe (+103,2%, por conta de gás natural, medicamentos, álcoois acíclicos, instrumentos médicos, chumbo em bruto, alumínio em desperdícios), Ásia (+50,3%, sendo que a China cresceu 82,0%, por conta de plataforma p/extração de petróleo, inseticidas, compostos heterocíclicos, coques de linhita, aparelhos transmissores/receptores, motores/geradores elétricos, barras de alumínio, rolamentos/engrenagens, aparelhos de ar condicionado, brinquedos, bombas/compressores), Oceania (+17,4%, por conta de carvão, inseticidas, máquinas p/empacotar, instrumentos de medida, medicamentos, sementes de produtos hortícolas, carne bovina, vinhos), União Europeia (+23,0%, por conta de naftas, medicamentos, compostos heterocíclicos, tubos flexíveis de ferro/aço, autopeças, compostos organo-inorganicos, máquinas p/empacotar, automóveis de passageiros, adubos e fertilizantes, partes de motores p/veículos automóveis, compostos de funções nitrogenadas, instrumentos de medida), Estados Unidos (+14,5%, por conta de petróleo em bruto, gás natural naftas, gasolina, inseticidas, querosene de aviação, medicamentos, etanol, partes de motores e turbinas p/aviação, instrumentos de medida, trigo em grão, soda cáustica, enxofre, motores/geradores elétricos) e Oriente Médio (+9,8%, por conta de adubos e fertilizantes, gás natural, inseticidas, óleos lubrificantes, polímeros plásticos, alumínio em desperdícios, compostos heterocíclicos, compostos de funções nitrogenadas, óleos combustíveis alumínio em bruto). Por outro lado, diminuíram as compras originárias da África (-2,7%, por conta de petróleo em bruto, gás GLP, carvão, gás propano, adubos e fertilizantes, naftas, hidrocarbonetos).