Análise IEDI
Maior importação em todas as faixas de intensidade tecnológica da indústria
A Carta IEDI a ser divulgada hoje analisa a evolução da balança comercial brasileira, notadamente da indústria, na primeira metade de 2018, período em que nossas importações registraram aceleração importante, passando a crescer muito à frente de nossas exportações. Como resultado, o saldo da balança, embora continue superavitário e robusto, já apresenta sinais de declínio.
O superávit acumulado nos primeiros seis meses de 2018 (US$ 29,9 bilhões) foi galgado principalmente pelo saldo positivo dos demais produtos, mormente agropecuários, da pesca e minerais, recorde para janeiro-junho (US$ 39,4 bilhões). Os bens típicos da indústria de transformação, por sua vez, apresentaram déficit de US$ 9,4 bilhões, isto é, expressivamente maior do que aquele da primeira metade de 2017 (US$ 1,2 bilhão), ainda que permanece inferior às marcas obtidas entre 2010 e 2015 (déficit médio da ordem de US$ 26 bilhões no primeiro semestre).
De positivo no resultado do comércio exterior da indústria, pode ser citado o fato de que suas exportações continuaram em expansão, chegando a US$ 66,5 bilhões. Isso representou uma alta de 5,2% frente ao primeiro semestre de 2017. Apesar do crescimento, é importante notar a perda de dinamismo, já que o resultado para janeiro-junho de 2017 havia sido de 10,6% ante mesmo período do ano anterior.
Enquanto as exportações industriais se desaceleraram, suas importações seguem o caminho oposto e ganham velocidade, até devido à retomada industrial, demandando mais bens intermediários. Seu crescimento passou de +7,6% no primeiro semestre de 2017 para +17,8% no primeiro semestre de 2018 (US$ 75,9 bilhões) frente a igual período do ano anterior.
A fim de melhor caracterizar a dinâmica dos fluxos de comércio exterior de manufaturas, o IEDI construiu uma série de dados a partir da classificação da indústria de transformação por intensidade tecnológica, seguindo a metodologia da OCDE. As principais observações a respeito dos resultados obtidos nos seis primeiros meses de 2018 são sintetizados nesta Análise.
O intercâmbio externo de bens produzidos por atividades de alta intensidade tecnológica apresentou déficit de US$ 9,7 bilhões, maior do que os dos dois anos anteriores para o semestre em tela. Suas exportações cresceram pela quinta vez seguida na comparação entre primeiros semestres, chegando a US$ 5,6 bilhões, seu maior patamar da série.
Este avanço exportador da alta tecnologia se deveu, sobretudo, aos produtos da indústria aeronáutica, que lograram exportações e superávits recordes em 2018. Já os ramos do complexo eletrônico e os produtos farmacêuticos tiveram déficits maiores em janeiro-junho de 2018 e continuam com exportações tímidas, mesmo naqueles cujas exportações cresceram no período.
A faixa de média-alta intensidade, por sua vez, obteve o maior déficit dentre as quatro faixas analisadas. Seu valor atingiu US$ 16,3 bilhões, acima dos déficits registrados no acumulado do primeiro semestre tanto em 2017 como em 2016. Suas exportações cresceram 4,3%, com destaque positivo para os produtos automotivos (veículos automotores, reboques e semi-reboques), mas ficaram muito aquém do dinamismo apresentado por suas importações, de +17,2%, puxado por equipamentos mecânicos ou não especificados noutras atividades; as máquinas elétricas; produtos químicos, excl. farmacêuticos; além dos veículos automotores.
Já para os bens da indústria de média-baixa intensidade tecnológica, sua balança voltou a registrar déficit no primeiro semestre de 2018 (de US$ 1,2 bilhão), após dois anos seguidos de resultados positivos e três de melhora do saldo. Isso se deu mesmo com aumento de 22,9% nas exportações, atingindo US$ 16,7 bilhões, porque as importações cresceram ainda mais: +32,2%. Tal mudança de sinal refletiu, de um lado, a magnitude do déficit em produtos derivados do petróleo refinado, álcool e outros combustíveis, mesmo tendo sido menor do que no mesmo semestre de 2017, e, de outro, o declínio do superávit de produtos metálicos.
Por fim, quanto aos bens típicos das atividades de baixa intensidade tecnológica, em janeiro-junho de 2018 seu saldo foi superavitário em US$ 17,8 bilhões. Vale enfatizar que compreendeu a única faixa com superávit neste período. O resultado foi puxado por exportações de US$ 25,7 bilhões, mas tanto as vendas externas quanto a balança diminuíram frente a igual período de 2017.
A redução de 4,3% nas exportações da indústria de baixa tecnologia refletiu a queda das vendas externas da indústria de alimentos, bebidas e fumo, que sobrepujou o avanço exportador dos produtos madeireiros, seus derivados, papel e celulose. Por sua vez, os ramos dessa faixa cuja produção é mais intensiva em força de trabalho, como produtos têxteis, de vestuário, artigos de couro e calçados, ampliaram seus déficits.