Análise IEDI
Começo de semestre com sinal de melhora
Os dados de crédito para o mês de julho, divulgados hoje pelo Banco Central, apontam para uma continuidade da melhora das condições de financiamento da economia na entrada da segunda metade de 2018. Isso, porém, são significa que tenham sido superados alguns entraves que há tempos vêm bloqueando uma mudança mais substancial no quadro do crédito. Em outras palavras, o que vem ocorrendo é uma melhora restringida.
Em julho, as concessões de crédito, já corrigidas pela inflação segundo o IPCA, cresceram a um ritmo de dois dígitos tanto nas operações realizadas junto às famílias como naquelas às empresas. Mantido este dinamismo, o crédito pode voltar a desempenhar um papel de maior relevo na recuperação da economia.
Ilustra bem a evolução recente a sequência de resultados interanuais desde o final do ano passado até hoje. O total das concessões reais de empréstimos avançou de +8% no último trimestre de 2017, para +9,9% e +10% nos dois primeiros trimestres de 2018, chegando a +15,1% agora em julho.
As variações frente ao mesmo período do ano anterior abaixo mostram que esse movimento de aceleração das concessões é ainda mais claro no caso das operações com pessoas jurídicas, cuja recuperação vem ocorrendo há menos tempo do que aquelas para as famílias.
• Concessões reais totais: +8,0% no 4º trim/17; +9,9% no 1º trim/18, +10,0% no 2º trim/18 e +15,1% em jul/18;
• Concessões reais para pessoas jurídicas: +6,1%; +9,4%; +12,9% e +22,3%;
• Concessões reais para pessoas físicas: +9,5%; +10,4%; +7,7% e +10,2%, respectivamente.
Entretanto, por mais bem-vindas que sejam estas trajetórias, é preciso levar em consideração o contexto em que estão inseridas. A principal ponderação a ser feita é que a recente crise do crédito foi intensa e permanecemos longe de superá-la, como sugere a atual baixa relação crédito/PIB no país.
O estoque total dos empréstimos como percentagem do PIB estava, na entrada do segundo semestre, a mais de 7 pontos percentuais abaixo da sua melhor marca, obtida em dez/15: 46,4% contra 53,7%. Na origem desta defasagem estão os empréstimos às empresas, cujo saldo em julho de 2018 (R$ 1,41 trilhão, em termos reais) era 16% menor do que aquele de dez/15 (R$ 1,69 trilhão). Por se tratar de uma medida de estoque, essa diferença é bastante expressiva.
Caminharíamos mais rapidamente para a recuperação do crédito, notadamente dos empréstimos corporativos se dois obstáculos não estivessem presentes. O primeiro deles diz respeito às operações com financiamento direcionado, sobretudo aquele realizado pelo BNDES, que não param de encolher.
A sequência de resultados interanuais que vimos acima, se tomarmos apenas o crédito direcionado às empresas, seria a seguinte: -13,8%; -12,3% e -16,1% do quarto trimestre de 2017 até o segundo trimestre de 2018. Em julho, tampouco houve melhora: -16,1% ante jul/17, já descontada a inflação. Essa é uma trajetória das mais preocupantes, dada a importância dessas operações para o financiamento dos investimentos no país.
O segundo obstáculo é o custo do crédito. A despeito de alguma redução, ensejada pela queda da taxa de juros do Banco Central (Selic), os juros médios dos empréstimos permanecem elevados: 20,6% a.a. para empresas e 52% a.a. para as famílias, considerados apenas aqueles contratos com taxas de juros livremente pactuadas entre credores e tomadores.
A redução dos juros dos empréstimos tem ficado atrás não apenas da queda da Selic, como já apontamos em outras Análises, mas também da inadimplência, especialmente no segmento corporativo. Entre julho de 2017 e julho de 2018, a inadimplência das empresas recuou 38%, enquanto os juros médios cobrados de seus financiamentos caíram apenas a metade disso: -19%.
Os dados de crédito apresentados hoje pelo Banco Central registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,1 trilhões em julho, retração de 0,2% no mês influenciado tanto pela concessão na carteira para empresas (-1,0%, para R$ 1,4 trilhão), quanto na carteira das pessoas físicas (0,5%, para R$ 1,7 trilhão), e apresentando acréscimo de 2,4% em comparação com o mesmo mês do ano anterior. A relação crédito/PIB ficou em 46,4%.
A carteira de crédito com recursos livres ficou em R$ 1,639 bilhões, queda de 0,1% em relação ao mês anterior e acréscimo de 7,7% quando comparado com julho de 2017. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$ 891,2 bilhões, aumento de 1,0% frente ao mês imediatamente anterior e crescimento de 8,3% frente a julho de 2017. Para as operações junto a pessoas jurídicas registrou-se R$ 748,1 bilhões, decréscimo de 1,3% em relação ao mês anterior e crescimento de 7,0% na comparação com o mesmo período de 2017.
O estoque de crédito com recursos direcionados aferiu valor de R$ 1,485 bilhões para julho, em termos nominais, indicando uma queda de 3,0% frente ao mesmo mês de 2017 e retração de 0,3% quando comparado ao mês imediatamente anterior. O saldo referente a pessoas físicas ficou em R$ 811,5 bilhões, crescimento de 4,5% frente a julho de 2017, com influência destacada do financiamento imobiliário. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 674,2 bilhões, variação negativa de 10,6%.
Foram concedidos R$ 299,3 bilhões em novas operações de crédito no mês de julho, crescimento de 15,2% frente ao montante de R$ 259,8 bilhões observado em julho de 2017. Deste volume, R$ 274,5 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 24,8 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, incremento de 16,8% para recursos livres e estabilidade para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 116,0 bilhões), cartão de crédito (R$ 89,0 bilhões), crédito não rotativo (R$ 39,2 bilhões), cheque especial (R$ 30,9 bilhões) e crédito pessoal (R$ 24,6 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$ 25,9 bilhões), cheque especial (R$ 17,1 bilhões), conta garantida (R$ 17,1 bilhões) e capital de giro (R$ 12,7 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 7,7 bilhões), crédito rural (R$ 6,7 Bilhões), microcrédito (R$ 866 milhão) e BNDES (R$ 614 milhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram BNDES (R$ 3,9 bilhões), Crédito Rural (R$ 2,9 bilhões) e Financiamentos Imobiliários (R$ 1,0 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 711,4 bilhões, o que significa uma expansão nominal de 2,6% frente a julho de 2017, expansão de 7,7% na administração pública, aumento de 4,7% em transporte e retração de 0,6% no comércio geral. Para o setor industrial registrou-se valor de R$ 658,7 bilhões, retração em termos nominais de -8,1% frente ao mesmo mês do ano anterior. Por fim, o setor agropecuário apresentou crédito de R$ 22,5 bilhões, variação positiva de 2,4% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mesmo mês de julho de 2017.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,6 trilhões, representando 52,9% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais contribuíram com R$ 1,0 trilhão, representando 32,9%, e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 444,7 bilhões, representando por sua vez 14,2% do crédito total no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em julho alcançou 24,5% a.a., com reduções de 0,1 p.p. no mês e de 4,4 p.p. nos últimos doze meses. Na carteira livre, a taxa atingiu 38,1% (-0,4 p.p. e -8,4 p.p., nos mesmos períodos). A redução da taxa refletiu a queda de 1,1 p.p. na taxa média do crédito livre às famílias (52% a.a.), a mais baixa desde janeiro de 2015. Destacaram-se as reduções em cheque especial (-1,7 p.p.), cartão rotativo regular (-9 p.p.) e cartão rotativo não regular (-28,1 p.p.). No crédito livre às empresas, a taxa média alcançou 20,6% a.a. (+0,4 p.p. mês). A taxa de juros do crédito livre, excluindo-se as operações rotativas, situou-se em 29,2% a.a., aumento de 0,5 p.p. no mês e queda de 3,7 p.p. em doze meses. Por fim, o spread bancário relativo às concessões do mês de julho situou-se em 17,8 p.p. (+0,1 p.p. no mês e -3,5 p.p. em doze meses). No crédito livre, o spread permaneceu estável em 29,4 p.p. (-7,9 p.p. em doze meses).