Análise IEDI
Piora disfarçada de melhora
Segundo a Pnad contínua divulgada hoje, a segunda metade de 2018 se iniciou com um pequeno declínio da taxa de desemprego e alta de 1,1% da população ocupada frente a maio-julho do ano passado. Isolados, estes dados poderiam sugerir uma melhora do quadro do emprego no país. Não foi este o caso. Ao contrário, o que vem ocorrendo é uma piora sucessiva desde o começo de 2018 que se agravou ainda mais na virada do semestre, sobretudo no caso da indústria que voltou a desempregar.
A taxa de desocupação saiu de 12,8% no trimestre findo em jul/17 para 12,3% naquele findo em jul/18. Além do recuo ser muito modesto, é preciso considerar que contribuiu muito para esta evolução o crescimento da força de trabalho, isto é, o número de pessoas adicionais em busca de um posto de trabalho, ter ficado praticamente estável. Na origem disso, está o fato de que muitos vêm desistindo de procurar emprego, depois do insucesso de tentativas recorrentes. É o desalento, que segundo o IBGE ficou quase 18% maior do que em mai-jul/17.
Para um país que almeja reduzir o desemprego, é grave que o desalento cresça a este ritmo enquanto a ocupação varia apenas +1,1%, resultado mais recente de uma trajetória de nítida desaceleração desde a entrada de 2018. Vale lembrar que a taxa de crescimento da população ocupada caiu pela metade do último trimestre de 2017 (+2%) até agora no trimestre findo em jul/18.
Este menor crescimento da ocupação total ocorre, ainda, antes mesmo dos empregos com carteira assinada – que são de maior qualidade por apresentaram rendimentos maiores e mais regulares – mostrarem alguma reação: em mai-jul/18 houve queda foi de -1,1% ante igual período do ano anterior. Por sua vez, trabalho sem carteira (+3,4%) e por conta própria (+2,1%), que são os responsáveis pela melhora do emprego desde o ano passado, vêm crescendo cada vez menos.
Outro sintoma de que a situação do emprego pode vir a passar por um novo retrocesso, reforçando o perfil não apenas lento mas também descontínuo da atual recuperação econômica, é o retorno ao negativo do emprego industrial, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Ocupação total: +1,8% em jan-mar/18; +1,1% em abr-jun/18 e +1,1% em mai-jul/18;
• Ocupados na indústria: +2,0%; +1,2% e -0,4%, respectivamente;
• Ocupados na construção: -4,1%; -2,5% e -1,6%;
• Ocupados no comércio e reparação de veículos: +1,5%; -0,1% e +0,1%;
• Ocupados em alojamento e alimentação: +5,7%; +2,6% e +1,5%;
• Ocupados em info., com., ativ. financeiras, imob., profissionais e adm.: +1,3%; +0,9% e +2,1%, respectivamente.
Depois de ter liderado a criação de vagas no último trimestre do ano passado, a ocupação na indústria caiu -0,4% em mai-jul/18, referente a 43 mil ocupados a menos do que um ano antes, o que não chega a surpreender pois sua trajetória do ponto de vista da produção já apontava para esta possibilidade. O desempenho recente do setor é um retrocesso porque é a indústria quem tem grande capacidade de espalhar dinamismo para o restante da economia e porque emprega majoritariamente com carteira assinada. Assim, o revés da indústria reduz as chances de uma reação do emprego formal.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre entre maio e julho de 2018 atingiu 12,3%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, fevereiro a abril de 2018, houve redução de 0,3 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve retração de 0,5 p.p., quando apresentou 12,8%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi registrado em R$2.205, apresentando retração de 0,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior (fev-mar-abr), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve crescimento de 0,8%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$197,2 bilhões no trimestre que fechou em julho, registrando acréscimo de 0,6% frente ao trimestre imediatamente anterior e expansão de 2,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$195,9 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada foi de 91,6 milhões de pessoas, aumento de 1,1% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (90,6 milhões de pessoas ocupadas). Em relação ao trimestre imediatamente anterior (fev-mar-abr) aferiu-se variação de 1,0%.
Em comparação com o trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados retraiu 4,1%, com 12,9 milhões de pessoas. Já frente ao mesmo trimestre do ano anterior observou-se decréscimo de 3,4%. Em relação a força de trabalho, registrou-se neste trimestre 104,5 milhões de pessoas, crescimento de 0,4% frente ao trimestre imediatamente anterior e aumento de 0,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram expansão da ocupação foram: Outros serviços (6,0%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (2,7%), Serviços domésticos (2,5%), Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (2,1%), Alojamento e alimentação (1,5%), Transporte, armazenagem e correios (0,2%) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,1%). Por outro lado, os agrupamentos que apresentaram retração na ocupação foram: Construção (-1,6%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-0,6%) e Indústria (-0,4%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, observamos expansões nas seguintes categorias: empregador (4,0%), trabalho privado sem carteira (3,4%), trabalho doméstico (3,2%), trabalhador por conta própria (2,1%) e setor público (1,9%). Em sentido oposto, os seguintes segmentos registraram quedas: trabalho familiar auxiliar (-4,0%) e trabalho privado com carteira (-1,1%).