Análise IEDI
Massa de rendimentos: uma trajetória aquém do desejável
A recuperação lenta e descontínua da economia brasileira em 2018, que já fez as projeções de crescimento do PIB para o ano serem cortadas pela metade, tem permitido uma mudança tímida do quadro dramático do emprego. Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que a taxa de desocupação do trimestre findo em agosto recuou apenas 0,5 p.p. em comparação com um ano atrás, mantendo-se, assim, em um patamar bastante elevado: 12,1%.
Este, contudo, não é o único sinal de que temos visto uma melhora muito aquém do desejável. A fraca evolução do rendimento real é outro aspecto a ser destacado. Em termos interanuais, seu ritmo de crescimento médio em 2018 (+0,8%) tem sido de apenas 1/3 daquele registrado no ano passado (+2,4%), muito embora no trimestre findo em ago/18 tenha se saído um pouco melhor do que no restante do ano, ao variar +1,3% ante mesmo período de 2017.
• Rendimento Real: +1,3% em jun-ago/18, com taxa média de crescimento de +0,8% em 2018;
• População Ocupada: +1,1% em jun-ago/18 e taxa média de +1,5% em 2018;
• Massa Real de Rendimentos: +2,6% em jun-ago/18 e taxa média de +2,2% em 2018.
As razões para isso são conhecidas. Em primeiro lugar, a inflação já atingiu um patamar baixo (+2,8% em jan-ago/18) e por isso parou de recuar acentuadamente como fez em 2017 (de 6,3% em 2016 para 2,9%), permitindo ganhos reais à população empregada. Em segundo lugar, como o desemprego continua elevado, não há espaço para negociar aumentos salariais. Um terceiro fator é que muito da ocupação que tem sido gerada ultimamente refere-se a postos sem carteira assinada ou por conta própria, que têm rendimentos menores e irregulares.
Como consequência, a massa real de rendimentos não tem conseguido recobrar o dinamismo que apresentava antes da crise (média de +4,8% em 2013, por exemplo) e nem sequer manter as taxas de crescimento registradas na segunda metade de 2017 (acima de 3,5%). No trimestre findo em agosto, sua variação foi positiva em 2,6%, mas a taxa média de crescimento em 2018 tem sido menor ainda: +2,2%. Teria sido muito favorável se tivesse sido renovada a expansão da ordem de 3,5% do final do ano passado.
Na ausência de um crescimento mais robusto da massa de rendimentos, não surpreende o fato de que o consumo das famílias encontra dificuldades para desempenhar um papel mais ativo na reativação da economia, especialmente porque outras alavancas do consumo também não estão em plena operação. É o caso do crédito, cujos juros ainda muito elevados prejudicam as decisões de compra de alguns bens, e da confiança das famílias, prejudicada pelas tensões políticas e pelo persistente medo do desemprego.
A situação poderia estar melhor se o crescimento da ocupação viesse se acelerando de modo a ocupar, cada vez mais, o papel de principal motor da expansão da massa de rendimentos. Não é bem isso que tem ocorrido. A melhora do número de ocupados perdeu força na entrada de 2018 e depois se estabilizou: +1,8% no 1º trim/18; +1,1% no 2º trim/18 e +1,1% em jun-ago/18. Na atual conjuntura, a massa de rendimentos e o consumo dificilmente avançarão com maior vigor se a engrenagem do emprego não estiver girando mais rápido.
Setores que estavam por trás da volta do crescimento da ocupação no ano passado parecem, agora, estar emperrados. É notadamente o caso da indústria, cujo número de ocupados cresceu quase 5% na virada de 2017 para 2018 e ficou praticamente estável em jun-ago/18: só +0,2% frente a igual período do ano anterior. O comércio e reparação de veículos chegou a registrar alta de mais de 2% em alguns trimestres de 2017 e em jun-ago/18 também variou apenas +0,2%. A ocupação em alojamento e alimentação, por sua vez, teve avanços de mais de 10% na maior parte do ano passado, mas conseguiu crescer apenas 1,9% frente a jun-ago/17.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre junho e agosto de 2018 atingiu 12,1%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, março a maio de 2018, houve queda de 0,6 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve decréscimo de 0,5 p.p., quando registrou 12,6%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi registrado em R$2.225, apresentando estabilidade (0,0%) em relação ao trimestre imediatamente anterior (mar-abr-mai/2018), já frente ao mesmo trimestre de referência de 2017, houve expansão de 1,3%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$199,8 bilhões no trimestre que fechou em agosto, registrando expansão de 1,3% frente ao trimestre imediatamente anterior e crescimento de 2,6% quanto ao trimestre do ano anterior (R$194,8 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada ficou em 92,0 milhões de pessoas, incremento de 1,3% em relação ao trimestre imediatamente anterior (mar-abr-mai), e aferiu-se expansão de 1,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (91,0 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados decresceu em 4,0% com 12,7 milhões de pessoas, já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se queda de 3,1%. Em relação a força de trabalho, aferiu-se neste trimestre 104,7 milhões de pessoas, isto é, expansão de 0,6% frente ao trimestre imediatamente anterior e expansão de 0,6% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, os seguintes grupamentos de atividades obtiveram expansão da ocupação: Outros serviços (5,7%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,0%), Serviços domésticos (2,5%), Alojamento e alimentação (1,8%), Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (1,2%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (0,4%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,2%) e Indústria (0,1%). De outro lado, os agrupamentos que apresentaram decréscimos na ocupação foram: Construção (-2,8%) e Transporte, armazenagem e correios (-0,4%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, comparados ao mesmo trimestre do ano anterior, observamos variações positivas nas seguintes categorias: empregador (5,2%), trabalho privado sem carteira (4,0%), trabalho doméstico (3,1%), setor público (2,2%), trabalhador por conta própria (1,9%). Paralelamente, os seguintes segmentos registraram retrações: trabalho familiar auxiliar (-3,3%) e trabalho privado com carteira (-1,3%).