Análise IEDI
A indústria no Brasil e no Mundo: em ritmos muito diferentes
Uma das mensagens do relatório trimestral da UNIDO - Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, divulgado recentemente, é que a indústria de transformação tanto no Brasil como no mundo segue em ritmos de crescimento radicalmente distintos, muito embora em ambos os casos tenha havido perda de ímpeto após os primeiros meses de 2018.
Segundo os últimos dados reunidos pela Unido, o crescimento da indústria mundial desacelerou, na comparação interanual, de 4,2% para 3,8% do primeiro para o segundo trimestre de 2018, sob os efeitos negativos da escalada das tensões internacionais devido a medidas protecionistas e das incertezas em relação ao Brexit. Com isso, segundo as estimativas da instituição, o valor adicionado da indústria mundial deve repetir em 2018 o mesmo ritmo de expansão de 2017 (+3,9%), isto é, sem avanço adicional.
No caso do Brasil, contudo, a queda do dinamismo da indústria de transformação foi muito mais acentuada do que no restante do mundo, ao cair de 4% para apenas 0,8% na passagem do 1º trim/18 para o 2º trim/18. Muito disso, como sabemos, se deveu à paralisação dos caminhoneiros no mês de maio, que aprofundou um movimento de enfraquecimento industrial que se ensaiava já no início do ano e que foi retomado na entrada da segunda metade do ano. Os dados mais recentes do IBGE mostraram declínio da produção da indústria tanto em julho como em agosto.
Outros países têm se saído melhor que o Brasil, seja porque crescem a um ritmo superior seja porque não apresentaram uma desaceleração tão intensa no segundo trimestre. A China, por exemplo, apontou crescimento de 6,4% em abril-junho e de 6,3% em janeiro-março, frente a iguais períodos do ano anterior. As demais economias emergentes e em desenvolvimento, por sua vez, expandiram sua produção de manufaturas em 3,7% no 2º trim/18 ante 4,8% no 1º trim/18.
A América Latina, em particular, assinalou um dos desempenhos mais fracos, em boa medida devido ao Brasil. A indústria de transformação latino-americana cresceu 1,3% em abril-junho, isto é, quase a metade da alta de 2,7% em janeiro-março de 2018.
As economias desenvolvidas, por sua vez, continuam em um bom momento, devido, sobretudo, aos estímulos fiscais, e a despeito das incertezas do BREXIT e da nova onda protecionista no mundo. Na comparação interanual, este grupo de economias havia registrado alta de 2,9% na produção de manufatura no 1º trim/18 e, em seguida, de 2,5% no 2º trim/18.
Na origem deste dinamismo nas economias desenvolvidas e em muitas economias em desenvolvimento estão os setores de alta e média-alta intensidade tecnológica, que vêm liderando o crescimento da indústria de transformação mundial. Os destaques do 2º trim/18 cabem à produção de equipamentos de escritório e computadores (8,2%), produtos farmacêuticos (8,2%), máquinas e equipamentos (5,4%) e veículos automotores (5,4%). Vale observar, contudo, que todos os demais setores industriais também registraram taxas de variação positivas no período.
Projeções para 2018. O mais recente relatório da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization, II quarter 2018) mostra que em 2018 o valor adicionado da indústria de transformação mundial deve manter crescimento estável em relação à 2017, de 3,9%, mas sujeito a cair caso continuem as sanções econômicas, o aumento de tarifas e a maior incerteza relacionada ao BREXIT.
A taxa de variação do valor adicionado da indústria de transformação das economias industrializadas foi projetada em 2,7%, contando com maior expansão tanto dos países europeus quanto Norte-americanos, enquanto os asiáticos tendam a crescer menos do que em 2017. Já na China, maior produtor mundial, o valor adicionado das manufaturas deve crescer acima de 6%. Nas economias industriais e emergentes, deve assinalar elevação de 4,4%. Por sua vez, espera-se que na América Latina em 2018 registre crescimento de apenas 0,4%, em boa medida devido ao fraco desempenho do Brasil.
A indústria mundial no 2º trimestre de 2018. No segundo trimestre de 2018, a taxa de crescimento da produção mundial de manufaturas foi de 3,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, tendo sido 4,2% em janeiro-março na mesma comparação. Apesar da redução do ritmo, a indústria de transformação das economias desenvolvidas continua, segundo a Unido, em um bom momento, ao registrar alta de 2,5%, sobretudo por causa de estímulos fiscais. Nos países industrializados da Europa, o crescimento da produção de manufaturas em abril-junho de 2018 relativamente a igual período de 2017 chegou a 3,0%, sendo mais modesto na América do Norte, de 1,8%, e na Ásia, de 2,6%.
A China, por sua vez, conseguiu crescer 6,4% no segundo trimestre do corrente ano, ainda na comparação interanual, enquanto as demais economias emergentes e em desenvolvimento expandiram suas produções industriais em 3,7%. A América Latina se destaca por assinalar desempenho mais fraco no segundo trimestre, de apenas 1,3%, puxado pelo crescimento mais fraco da produção de manufaturas no Brasil, que registrou variação de apenas +0,8%, e pela retração de 1,9% na produção da Argentina.
Economias industrializadas. Nas economias industrializadas europeias, nota-se que a aceleração da produção de manufaturas perdeu um pouco de ímpeto nos dois primeiros trimestres de 2018, mas a UNIDO afirma que, por ora, não existem evidências de que haverá uma reversão do ciclo de expansão. Assim, destacam-se as seguintes taxas de crescimento no segundo trimestre de 2018 em comparação ao mesmo período de 2017: Alemanha (2,9%), Itália (2,5%), Espanha (2,1%), França (1,4%), Eslovênia (6,8%), Áustria (6,2%), Lituânia (6,0%), Eslováquia (4,0%), Holanda (3,7%) e Finlândia (3,5%). Na Zona do Euro, apenas Portugal (-0,3%) e Malta (-2,9%) registraram variação negativa.
O Reino Unido, em especial, apontou crescimento de apenas 1,4% em abril-junho de 2018 versus abril-junho de 2017, graças às expectativas negativas relacionadas às negociações do Brexit, principalmente para o setor exportador. Enquanto isso, a indústria de transformação da Rússia tem melhorado seu desempenho, marcando alta de 2,9% no primeiro e 2,8% no segundo trimestre do ano, ambos em relação ao mesmo período de 2017.
Na América do Norte, por sua vez, tanto os EUA como o Canadá apresentaram aumento de 1,8% na produção da indústria de transformação no segundo trimestre de 2018. Na Ásia industrializada, a produção de manufaturas japonesa cresceu 2,1%, liderado pelos setores automotivo e de máquinas e equipamentos. Ademais, Singapura, Taiwan e Malásia expandiram suas produções em 10,3%, 6,8% e 4,6%, respectivamente.
Economias em desenvolvimento e emergentes. A indústria de transformação da China avançou 6,4% em abril-junho de 2018 frente a abril-junho de 2017, puxada por veículos automotores (13,2%), computadores e eletrônicos (11,9%) e farmacêuticos (10,3%) – de forma que as manufaturas intensivas em tecnologia em geral cresceram 9,1%.
Nos países em desenvolvimento da Ásia e Pacífico, a indústria de transformação cresceu 4,8% no segundo trimestre do ano, com destaque para a expansão na Índia (5,3%), Indonésia (4,6%) e Filipinas (11,5%).
Já em alguns países da América Latina, houve robusto aumento da produção de manufaturas no segundo trimestre de 2018, como no Uruguai (11,5%), Chile (5,3%), Colômbia (4,7%) e Equador (4,0%). No México a variação da produção industrial foi bem mais modesta, de apenas 1,3%, e pior ainda no caso do Brasil, que chegou a mero 0,8%, sob os efeitos negativos da greve dos caminhoneiros e da crise política e econômica do país. Na Argentina, o resultado foi negativo em 1,9%.
Tal como neste últimos países latino-americanos, as indústrias de transformação da África também apresentam baixa expansão: em média de 1,6% no segundo trimestre de 2018 vis-à-vis ao mesmo período de 2017, devido fundamentalmente ao desempenho fraco do país mais industrializado da região, isto é, da África do Sul, cuja indústria ficou virtualmente estagnada ao variar somente +0,3%.
Por fim, a produção de manufaturas no Leste Europeu continuou se expandindo a taxas bastante elevadas, registrando alta de 5,3% em abril-junho de 2018.
Análise setorial. Em abril-junho de 2018, todos os setores da indústria de transformação mundial apontaram taxas de variação positivas na comparação com igual período do ano anterior. Mantendo a tendência dos últimos trimestres, as indústrias de alta-média e alta tecnologia lideram a expansão, tanto nas economias desenvolvidas como nas economias em desenvolvimento.
Mundialmente, no segundo trimestre de 2018 destacaram-se os setores de equipamentos de escritório e computadores (8,2%), produtos farmacêuticos (8,2%), máquinas e equipamentos (5,4%) e veículos automotores (5,4%). Assinalaram menor expansão têxteis (0,5%), publicação e impressão (0,6%), e móveis (1,1%).
Os setores de tabaco (-5,5%), publicação e impressão (-0,8%) e petróleo refinado e coque (-1,0%) foram os únicos a registrar taxas de variação negativas nas economias industrializadas no segundo trimestre de 2018.
Já na China não houve queda da produção em nenhum setor industrial em abril-junho de 2018, enquanto que nas economias em desenvolvimento e emergentes dois setores ficaram no negativo neste período: produtos do tabaco (-2,1%) e outros manufaturados (-5,6%).