Análise IEDI
Recomendações da Unido para a exportação de manufaturados
A Carta IEDI a ser divulgada hoje analisa o estudo “Capturando rendas da demanda global por manufaturados” elaborado por pesquisados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), que retoma a discussão a respeito da importância da ampliação das exportações de manufaturados, especialmente daqueles produtos complexos e intensivos em tecnologia, para a construção do desenvolvimento dos países.
Neste estudo são destacadas as relações existentes entre a demanda externa por bens manufaturados, a industrialização e o crescimento de longo prazo. Em seguida, o trabalho avalia como operam os efeitos de volume, preço e variedade quando os países tentam gerar renda a partir da captura de uma fração da expansão da demanda global de manufaturados e como as mudanças dos preços de exportação desses bens impactam no crescimento econômico.
Os ganhos que um país obtém em suas interações com a economia global dependem em grande parte da relação entre o valor de suas exportações de manufaturados e o preço de suas importações, que reflete o “poder de compra” externo das exportações de manufaturados, isto é, quanto um país pode importar usando a renda gerada pelas exportações de seu setor manufatureiro.
Segundo a Unido, existe uma forte correlação positiva entre as mudanças no poder aquisitivo das exportações de manufaturados e a evolução da renda per capita. Países que melhoraram mais rapidamente seu poder de compra dessas exportações entre 2003 e 2014 também viram suas economias crescerem mais rápido.
Os efeitos de preço ou volume e a variedade da pauta exportadora podem melhorar a situação de um país. Em alguns casos, um volume maior de produtos exportados a preços declinantes é capaz de ampliar o poder de compra externo de suas exportações de manufaturados. Em outros casos, são a diversificação e o avanço na qualidade dos produtos que aumentam este poder de compra.
Isto é, os países podem aumentar os preços de exportação diversificando a composição de suas cestas de exportação, passando a exportar bens mais complexos, e/ou atualizando o conteúdo tecnológico das linhas de produtos já presentes em suas pautas exportadoras. É a combinação de ambos os fatores que assegura uma inserção das mais virtuosas ao longo do tempo.
De acordo com a Unido, se os países falharem consistentemente em atualizar seus portfólios de exportação de manufatura, eles correm o risco de ver seus termos de troca se deteriorar como resultado de um processo de “comoditização”, termo que descreve o persistente declínio nos preços de exportação de um determinado produto manufaturado devido à padronização e aumento da concorrência nos mercados globais.
Os países em desenvolvimento podem combater o impacto da “comoditização”, aumentando o conteúdo tecnológico e a qualidade das exportações (lado da oferta) e estimulando a exportação para destinos com renda mais alta e demanda mais sofisticada (lado da demanda). Os países que não exploram essas oportunidades correm o risco de entrar em uma espiral descendente de declínio dos termos de troca e de competitividade que neutraliza efeitos positivos do avanço industrial.
Neste aspecto, cabe destacar a importância dos acordos comerciais. Em um ambiente de comércio internacional cada vez mais orientado por regulamentos técnicos e padrões de qualidade, a conformidade com os padrões regulatórios do mercado de destino podem ajudar a aumentar a qualidade dos produtos e dos procedimentos de produção doméstica. Por isso, segundo a Unido, a adesão a acordos comerciais é importante não apenas para garantir ou manter o acesso ao mercado, mas também para aumentar a competitividade de um país.
O estudo da Unido propõe algumas recomendações aos formuladores de políticas de promoção ao desenvolvimento industrial orientado para a exportação:
• Analisar mercados potenciais de destino para exportação dos produtos domésticos e seu feedback potencial sobre os esforços de industrialização doméstica.
• Expandir os volumes de exportação por meio da diversificação e modernização de produtos nos mercados existentes.
• Considerar o feedback das mudanças nas receitas domésticas na base industrial doméstica. Rendas mais altas podem favorecer mais variedade na produção manufatureira de um país.
• Utilizar as forças de especialização e vantagem comparativa para impulsionar a diversificação e a mudança estrutural, e identificar e atuar nas necessidades das competências e bases de conhecimento existentes.
• Conduzir uma análise aprofundada dos pontos fortes e fracos do setor manufatureiro nacional, suas capacidades, suas conexões com outros setores e formas de realocar os fatores de produção de atividades de baixa a alta produtividade.
• Reconhecer a interação entre a especialização industrial e a diversificação além das vantagens comparativas existentes.