Análise IEDI
Recomposição tardia e parcial
Diferentemente da indústria, cuja produção ficou no vermelho em agosto, o comércio varejista registrou não apenas aumento de suas vendas reais, como atingiu a melhor marca de 2018 na série com ajuste sazonal. A alta foi de 1,3%, depois de uma sequência de três meses de declínio iniciada com as perturbações decorrentes da paralisação dos caminhoneiros no final de maio. Em seu conceito ampliado, que inclui veículos, autopeças e material de construção, o resultado foi de +4,2%.
Assim, o desempenho de agosto funcionou como uma recomposição tardia e parcial da perda acumulada de vendas entre maio e julho, da ordem de -1,5% no conceito restrito e de -2,7% no conceito ampliado, mas fatores pontuais também podem ter contribuído para o crescimento no mês, como a liberação extraordinária de recursos das contas PIS-PASEP. Isso em um ambiente de baixa inflação e de condições de crédito e de emprego um pouco menos prejudiciais às decisões de consumo.
O avanço das vendas foi também disseminado entre os segmentos do varejo. Apenas um dos dez acompanhados pelo IBGE, o de livros, jornais, revistas e papelaria, que passa por transformações estruturais em seus mercados, ficou no negativo. O principal destaque positivo do mês ficou por conta do segmento de tecidos, vestuário e calçados, com crescimento de 5,6% ante julho, com ajuste sazonal, o que reforça a hipótese do papel favorável da liberação das contas PIS-PASEP.
Outro destaque foram as vendas reais de material de construção, que obteve o melhor resultado de 2018 (+4,6% frente a julho, com ajuste), se excluirmos os solavancos derivados da greve de maio. Neste caso, a melhora das condições de financiamento à habitação da Caixa Econômica Federal pode ter conferido estímulo adicional às vendas deste segmento.
De todo modo, a despeito de agosto ter sido um mês de avanços, o quadro geral de 2018 não parece se distinguir muito daquele da indústria. Em outras palavras, o comércio varejista também enfrenta dificuldades para obter uma recuperação mais robusta. O que, por enquanto, tem evitado uma performance inferior é o fato de os primeiros meses do ano não terem sido ruins. As variações abaixo com dados já ajustados sazonalmente, mostram que isso vale para a maioria dos segmentos do varejo, muito embora haja exceções:
• Varejo restrito: +2,7% para ago18/dez17, mas +2,9% para abr18/dez17 e -0,2% para ago18/abr18;
• Combustíveis e lubrificantes: -0,4%, +3,9% e -4,1%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +2,6%; +2,6% e 0%;
• Tecidos, vestuário e calçados: 0%; +4,1% e +4,1%;
• Móveis e eletrodomésticos: -1,5%; -0,6% e -0,9%;
• Material de escritório, informática e comunicação: +11,1%; +13,9% e -2,4%;
• Varejo Ampliado: +5,6%; +4,2% e +1,4%;
• Veículos e autopeças: +15,1%; +13,3% e +1,6%;
• Material de construção: +2,3%; -0,1% e +2,5%, respectivamente.
O nível de vendas reais do varejo como um todo em agosto encontrava-se 2,7% acima daquele de dez/17 (+5,6% no conceito ampliado), mas não em função da evolução após a paralisação dos caminhoneiros, que, a apesar do bom resultado de agosto, permanece negativa: -0,2% (só +1,4% no caso do varejo ampliado).
Em alguns segmentos, a perda neste período mais recente foi tão forte que os manteve no vermelho, como nos casos de combustíveis e lubrificantes (-0,4% ago18/dez17) e móveis e eletrodomésticos (-1,5%). Já para tecidos, vestuário e calçados e para material de construção, o quadro se inverte, com o período entre abril e agosto implicando reforço no resultado em 2018 (+4,1% e +2,5%, respectivamente).
A comparação no acumulado do ano indica igualmente a dificuldade de dar passos à frente na trajetória de reativação do varejo. De janeiro a agosto, o setor em seu conceito restrito cresceu 2,6% frente a igual período do ano anterior, não muito diferente do resultado de 2017 como um todo (+2,1%). A alta de apenas +1,6% no 2º trim/18 e no bimestre de julho-agosto, se vier a se configurar como um novo padrão de dinamismo, deve aproximar ainda mais 2018 de 2017.
A situação é melhor no varejo ampliado, devido a veículos e autopeças, com expansão das vendas reais de +5,6% em jan-ago/18 contra +4,0% em jan-dez/17. Há, contudo, uma mesma tendência de perda de dinamismo em 2018, com taxas de +4,7% no 2º trim/18 e +4,9% em julho-agosto, depois de ter ficado em torno de 7% até os primeiros meses do presente ano.
A partir dos dados de agosto de 2018 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional, na série com ajuste sazonal, apresentou expansão de 1,3%, compensando em grande parte a queda de 1,5% acumulado nos últimos três meses. Para o acumulado dos últimos doze meses, o resultado cresceu em 3,3% e para o acumulado do ano o incremento foi de 2,6%.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou expansão de 3,7% em relação a julho de 2018, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao mesmo mês de 2017, houve acréscimo de 6,9%. Para o acumulado dos últimos 12 meses houve crescimento de 6,4% e no acumulado do ano aferiu-se expansão 5,6%.
A partir de dados dessazonalizados, sete dos oito setores apresentaram expansão em comparação ao mês imediatamente anterior: tecido, vestuário e calçados (5,6%), combustíveis e lubrificantes (3,0%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,5%), móveis e eletrodomésticos (2,0%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,9%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,7%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,6%). Por outro lado, o seguimento que apresentou queda foi livros, jornais, revistas e papelaria (-2,5%). Para o comércio varejista ampliado, houve acréscimo de 4,2%, influenciado por veículos, motos, partes e peças (5,4%) e material de construção (4,6%).
Em relação ao mês de agosto de 2017, registraram-se resultados positivos em cinco das oito atividades que compõem o varejo, com maiores incrementos observados em: outros artigos de uso pessoal e doméstico (9,5%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (7,4%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (5,5%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (3,1%) e tecidos, vestuário e calçados (2,9%). Os demais setores apresentaram retrações, sendo eles: livros, jornais, revistas e papelaria (-12,0%), tecidos, vestuário e calçados (-2,4%) e combustíveis e lubrificantes (-2,0%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se expansão de 6,9%, com aumentos de 15,9% em veículos e motos, partes e peças, e 5,9% em material de construção.
Para a análise referente ao acumulado do ano (janeiro a agosto de 2018), verificaram-se resultados positivos em três das oito atividades que compõem o varejo. As variações foram as seguintes: outros artigos de uso pessoal e doméstico (7,7%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,9%) e hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (4,9%). Em relação aos outros segmentos analisados, foi registrado decréscimos em: livros, jornais, revistas e papelaria (-9,3%), tecidos, vestuário e calçados (-3,5%), combustíveis e lubrificantes (-6,5%), móveis e eletrodoméstico (-0,8%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-0,5%). Em relação ao comércio varejista ampliado, verificou-se expansão de 5,6%, em função do crescimento de veículos, motos, partes e peças (16,4%) e material de construção (4,7%).
Para a análise do acumulado de 12 meses, registrou-se variações positivas em cinco dos oito segmentos, sendo eles: outros artigos de uso pessoal e doméstico (6,5%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (6,3%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,8%), móveis e eletrodomésticos (3,7%) e tecidos, vestuário e calçados (0,7%). Os demais setores observaram decréscimos, sendo eles: livros, jornais, revistas e papelaria (-8,1%), combustíveis e lubrificantes (-5,1%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-2,8%). Para o comércio varejista ampliado, houve aumento de 6,4%, sendo que veículos, motos, partes e peças apresentou aumento de 14,2% e material de construção 7,8%.
Por fim, comparando agosto de 2018 com agosto de 2017, 23 das 27 unidades federativas registraram variações positivas do volume de comércio, sendo as maiores variações na ordem decrescente: Paraíba (14,1%), Espírito Santo (9,6%), Maranhão (9,6%), Pará (9,1%), Rio Grande do Sul (7,3%), Santa Catarina (6,5%), Rio Grande do Norte (6,4%), Goiás (6,0%), São Paulo (5,3%) e Tocantins (4,2%). Por fim, os demais estados registraram quedas na mesma base de comparação: Amapá (-3,9%), Piauí (-2,7%), Roraima (-2,4%) e Distrito Federal (-2,3%).