Análise IEDI
Uma prévia de 2018
Os dados divulgados hoje pelo Banco Central, ao cobrir três quartos do ano, já permitem algumas conclusões sobre o significado de 2018 para o mercado de crédito no país. Mantidas as tendências atuais, teremos um ano de continuidade da reativação das concessões de empréstimo e de redução da inadimplência dos tomadores. Entretanto, também deverá ser um ano de amortecimento da queda dos juros cobrados das empresas e das famílias, o que tem funcionado como um importante entrave para melhoras adicionais das condições de financiamento.
As concessões de crédito, corrigidas pela inflação segundo o IPCA, atingiram alta de 13,2% no 3º trim/18 ante igual período do ano anterior. Essa retomada do crescimento já vinha ocorrendo desde os primeiros meses do ano passado, mas em um ritmo mais tímido e, em grande medida, devido apenas às operações junto às famílias. O que diferencia 2018 de 2017, além do ritmo, é que a expansão tem sido mais generalizada, envolvendo cada vez mais o financiamento das empresas.
As concessões reais às pessoas jurídicas quase triplicaram seu ritmo de crescimento interanual do 4º trim/17 para o 3º trim/18, passando de +6,1% para 17%, como mostram os dados abaixo. Na origem desta evolução está sobretudo o crédito livremente pactuado entre credores e tomadores, dado que as operações oficiais, face ao encolhimento do BNDES, vinham em franca retração até recentemente. Depois de 14 trimestres seguidos de queda, o crédito direcionado voltou ao azul no 3º trim/18 (+3,7%), mas não devido às concessões às empresas (-7,5% ante 3º trim/17).
• Concessões reais – total geral: +8,0% no 4º trim/17; +9,9% no 1º trim/18; +10,0% no 2º trim/18 e +13,2% no 3º trim/18;
• Concessões reais – empresas: +6,1%; +9,3%; +12,9% e +17%;
• Concessões reais – famílias: +9,5%; +10,4%; +7,7% e +10,3%, respectivamente;
Vale enfatizar que este é apenas um começo para a normalização do financiamento no país. Os patamares continuam muito baixos. Por ora, o que se conseguiu foi apenas interromper a trajetória de declínio da relação crédito/PIB, cujo patamar atual de 46% está longe do pico de 54% atingido no final de 2015. No caso do crédito corporativo a situação exige ainda mais atenção pois 2018 tem trazido declínio dessa relação: 22% em dez/17 e 21,2% em set/18.
Um aspecto favorável para que o crédito venha a fluir com mais vigor é o comportamento recente da inadimplência. Os índices de inadimplência média vêm caindo sistematicamente em 2018, sobretudo para o crédito livre, trimestre após trimestre, passando de 5,2% no 4º trim/17 para 4,2% no 3º trim/18. Como os atrasos no crédito direcionado estão estáveis, esse movimento cadente também se verifica para o crédito total, chegando a 3% no 3º trim/18.
Seria de se esperar, então, que a boa evolução da inadimplência estivesse abrindo caminho para uma redução mais acentuada das taxas de empréstimo, mas não é isso que vem ocorrendo em 2018. Embora os juros continuem dando sinais de baixa, caem em ritmo mais moderado do que no passado. Em termos nominais, as taxas médias cobradas no crédito cujos juros são livremente pactuados entre as partes saíram de 53,4% a.a. no 4º trim/16 para 42,1% a.a. no 4º trim/17. O movimento perdeu força e chegou a 38,1% a.a. no 3º trim/18.
No caso das empresas, a média dos juros entre os meses de julho e setembro significou o estancamento da tendência anterior de declínio, ficando em 20,5% a.a., o mesmo patamar verificado no 2º trim/18. Se houve continuidade do movimento para a média total das taxas, foi então, exclusivamente devido ao crédito às famílias, ao sair de 54,5% a.a. para 52% a.a. no mesmo período – um nível que, cabe observar, continua extremamente elevado. Esta realidade dos juros finais às empresas e às famílias é um dos maiores obstáculos para o progresso das condições de crédito no país, assim como constitui uma das principais travas para a recuperação da economia brasileira após a crise recente.
Os dados de crédito apresentados pelo Banco Central hoje registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,2 trilhões em setembro, com expansões de 0,4% no mês, observadas no total e nas operações com pessoas físicas e com pessoas jurídicas. O crédito a pessoas físicas aumentou 0,4%, para R$1,7 trilhão, enquanto a carteira de pessoas jurídicas cresceu 0,4%, alcançando R$1,4 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o saldo total de crédito manteve trajetória de crescimento, com elevação de 3,9% relativamente a setembro de 2017. A relação crédito/PIB ficou em 46,6%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$ 1,677 bilhões, expansão de 0,8% em relação ao mês anterior e crescimento de 9,7% quando comparado com setembro de 2017. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas foi de R$ 903,5 bilhões, aferindo estabilidade em relação ao mês imediatamente anterior e acréscimo de 9,2% quando comparado com o mês de setembro de 2017. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se R$ 774,4 bilhões, crescimento de 1,7% em relação ao mês anterior e de 10,3% na comparação com o mesmo período de 2017.
O estoque de crédito com recursos direcionados apresentou valor de R$ 1,491 bilhões para setembro, em termos nominais, indicando um decréscimo de 2,0% frente ao mesmo mês do ano passado e estabilidade quando comparado ao mês imediatamente anterior. O saldo referente a pessoas físicas registrado foi de R$ 824,6 bilhões, quando comparado ao mês de setembro de 2017. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 666,4 bilhões, retração de 9,2%.
Para o mês de setembro de 2018, foram concedidos R$ 295,0 bilhões em novas operações de crédito, incremento de 9,2% frente ao montante de R$ 270,2 bilhões observado em setembro de 2017. Deste volume, R$ 268,7 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 26,2 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, crescimento de 10,3% para recursos livres e expansão de 1,9% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 108,5 bilhões), cartão de crédito (R$ 84,9 bilhões), crédito não rotativo (R$ 37,3 bilhões), cheque especial (R$ 27,8 bilhões) e crédito pessoal (R$ 22,7 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$ 29,7 bilhões), cheque especial (R$ 15,6 bilhões), conta garantida (R$ 15,2 bilhões) e capital de giro (R$ 12,4 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 8,0 bilhões), financiamento imobiliário (R$ 7,4 bilhões), microcrédito (R$ 808 milhão) e BNDES (R$ 722 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o crédito rural (R$ 4,3 bilhões), o BNDES (R$ 3,1 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 922 milhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 727,3 bilhões, o que significa um incremento nominal de 5,7% frente a setembro de 2017, e as seguintes expansões para administração pública (9,3%), transporte (6,0%) e comércio geral (5,4%). Para o setor da indústria aferiu-se o valor de R$ 655,2 bilhões, queda de 7,3% frente ao mesmo mês do ano anterior, e por fim, o setor agropecuário apresentou crédito de R$ 24,3 bilhões, expansão de 10,8% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mesmo mês de setembro de 2017.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional, por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,6 trilhões, representando 52,3% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais contribuíram com R$ 1,0 trilhão, representando 33,1% e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 462,8 bilhões, representando por sua vez 14,6% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em setembro alcançou 24,4% a.a., -0,1 p.p. no mês e -2,5 p.p. nos últimos doze meses. Na carteira livre, a taxa atingiu 38,1% (+0,1 p.p. e -5,1 p.p., em iguais períodos), com aumento de 0,4 p.p. no segmento de pessoas físicas (52,2% a.a.) e estabilidade no de pessoas jurídicas (20,4% a.a.). Nas contratações com pessoas físicas, ocorreram aumentos de taxas no não consignado (+0,8 p.p.), cartão regular e não regular (+9,6 p.p., +0,9 p.p., na ordem) e reduções no cheque especial (-1,8 p.p.) e cartão parcelado (-2,2 p.p.). No crédito às empresas, aumentos de taxas em capital de giro e financiamentos a exportações (+0,6 p.p. em ambos) e diminuições em desconto de duplicatas e recebíveis (-1,1 p.p.) e antecipação de faturas (-2,9 p.p.). Por fim, a taxa de juros do crédito livre, excluindo-se as operações rotativas permaneceu estável em 29,3% (-2,2 p.p. na comparação interanual).