Análise IEDI
Sem dinamismo
Desde a virada do semestre, a indústria se mostra claramente sem dinamismo, ao registrar variações de -0,1% e -0,3% em julho e agosto, respectivamente, na série com ajuste sazonal. Não cabe creditar este pífio resultado a efeitos reminiscentes da paralisação dos caminhoneiros, dado que já se passaram três meses do forte distúrbio da produção ocorrido em maio e mais do que compensado em junho. O que temos é um retorno ao padrão insatisfatório de desempenho que tem caracterizado 2018 desde seu início. A indústria não consegue ir adiante.
Para ilustrar este ponto, basta resgatarmos a trajetória do setor mês após mês desde o início deste ano. Com dados já livres de efeitos sazonais, a produção caiu 2,1% em janeiro, ficou estagnada tanto em fevereiro (+0,1%) como em março (0%) e registrou sua primeira e única variação positiva considerável em 2018 no mês de abril: +0,9%. Depois disso, veio o tombo de maio (-10,9%) e a compensação mais do que suficiente em junho (+12,7%), que foi anulada pelo bimestre julho-agosto no vermelho.
Ao final, essa sequência de resultados gera um quadro desalentador. Ainda tomando os dados com ajuste, o nível de produção em agosto voltou àquele de abril, isto é, antes da greve dos caminhoneiros, mas mesmo assim permaneceu 1,1% abaixo daquele de dezembro de 2017.
Deste modo, o nível de produção atual permanece mais de 14% abaixo do último pico da série histórica, enquanto o resultado no acumulado de janeiro a agosto de 2018, de +2,5% frente a igual período do ano anterior, sugere que 2018 poderá não assegurar nenhum ganho de dinamismo a mais do que aquele de 2017. Vale lembrar que a alta da produção no ano passado como um todo foi de exatamente 2,5%. Por isso, a volta do setor para o azul não chega propriamente a configurar um processo de melhora continuada e consistente.
A única exceção neste quadro geral da indústria é o seu macrossetor de bens de capital, que conseguiu crescer 5,3% em agosto frente a julho. As variações a seguir com ajuste sazonal mostram ainda que a produção de bens de capital não só foi o macrossetor que mais cresceu tanto nos primeiros meses de 2018, antes da greve dos caminhoneiros de maio, como depois deste episódio. Seu nível de produção em ago/18 estava 6,8% acima daquele de dez/17.
• Indústria geral: -1,1% para abr18/dez17; 0% para ago18/abr18 e -1,1% para ago18/dez17;
• Bens de capital: +5,6%; +1,1% e +6,8%, respectivamente;
• Bens intermediários: -2,5%; +0,1% e -2,4%;
• Bens de consumo duráveis: +0,8%; -1,5% e -0,7%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +0,6%; -0,2% e +0,4%, respectivamente.
Os bens de consumo avançaram pouco até abril e ainda não conseguiram recompor seus níveis de produção para níveis anteriores à paralisação de maio. No caso de bens de consumo duráveis, o saldo total do período todo é negativo, isto é, o nível de produção em agosto de 2018 encontrava-se 0,7% abaixo daquele de dezembro de 2017. Já no caso dos bens de consumo semi e não duráveis, o resultado final ago18/dez17 permaneceu positivo em 0,4%, devido ao menor retrocesso entre abril e agosto (-0,2% apenas).
Bens intermediários, por sua vez, retomaram em agosto o nível de produção de abril (+0,1% para ago18/abr18), mas tinham registrado um declínio importante no começo do ano, decorrente de quedas sucessivas de janeiro a março. Desta maneira, seu nível de produção em agosto encontrava-se 2,4% abaixo daquele de dezembro de 2017.
Os dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de agosto divulgados hoje pelo IBGE indicam, para dados livres de influência sazonal, que a produção industrial nacional apresentou retração de 0,3% frente ao mês de julho de 2018. Em comparação a agosto de 2017, registrou-se expansão de 2,0%. Já para o acumulado do ano de 2018, o setor industrial aferiu acréscimo de 2,5% e para o acumulado de doze meses a expansão ficou em 3,1%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, três dos cinco segmentos obtiveram expansão: bens de capital (5,3%), bens de consumo duráveis (1,2%) e bens de consumo (0,2%). Por outro lado, os outros dois segmentos apresentaram decréscimos: bens intermediários (-2,1%) e bens de consumo semiduráveis e não duráveis (-0,6%).
O resultado observado na comparação com o mês de agosto de 2017 aponta expansão para todos os segmentos: bens de consumo duráveis (9,7%), bens de capital (8,2%), bens de consumo (2,1%), bens intermediários (1,2%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,1%). Para o índice acumulado do ano, também foi aferido crescimentos em todos os segmentos: bens de consumo duráveis (13,8%), bens de capital (9,0%), bens de consumo (3,2%), bens intermediários (1,5%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,6%).
Setores. Na comparação com agosto do ano passado, houve acréscimo no nível de produção para 14 dos 26 ramos pesquisados. Os maiores crescimentos estiveram nos seguintes segmentos: veículos automotores, reboques e carrocerias (15,0%), celulose, papel e produtos de papel (11,6%), máquinas e equipamentos (8,8%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (7,5%), manutenção reparação e instalação de maquinas e equipamentos (5,7%), produtos de fumo (4,5%), fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (4,4%), produtos de metal (4,3%), outros equipamentos de transporte (4,0%), outros produtos químicos (3,3%), indústrias extrativas (1,5%), metalurgia (1,3%), produtos de minerais não metálicos (1,0%) e produtos de borracha e material plástico (1,0%). De outro lado, os seguintes segmentos apresentaram retração: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-7,7%), produtos têxteis (-5,3%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-4,7%), produtos alimentícios (-4,6%), produtos de madeira (-3,4%), produtos diversos (-3,4%), couro, artigos de viagem e calçados (-3,0%), móveis (-2,7%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-2,6%), impressão e reprodução de gravações (-2,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-1,9%) e bebidas (-0,7%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2018, frente igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou crescimento em 16 dos 26 ramos analisados: veículos automotores, reboques e carrocerias (18,4%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (10,2%), celulose, papel e produtos de papel (5,7%), máquinas e equipamentos (5,3%), produtos de madeira (5,3%), metalurgia (5,1%), móveis (3,3%), bebidas (3,3%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (2,9%), produtos de borracha e de material plástico (2,8%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (2,8%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (2,0%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (1,6%), produtos de metal (1,3%), outros produtos químicos (0,3%) e indústrias extrativas (0,3%). Para os demais segmentos houve retrações nos seguintes seguimentos: couro, artigos de viagem e calçados (-5,3%), produtos de fumo (-4,2%), impressão e reprodução de gravações (-3,5%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,0%), produtos alimentícios (-2,3%), produtos diversos (-2,2%), produtos têxteis (-1,6%), outros equipamentos de transporte (-1,4%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-0,8%) e produtos de minerais não-metálicos (-0,6%).