Análise IEDI
Estagnação do emprego industrial
Os dados da Pnad Continua divulgados hoje pelo IBGE mostram que o quadro do emprego, por mais que não esteja mais em seu pior momento, continua longe de uma reabilitação depois da forte crise dos últimos anos. Sinais de esmorecimento da melhora recente continuaram presentes no terceiro trimestre de 2018.
Comparada com um ano atrás, a taxa de desocupação arrefeceu no 3º trimestre de 2018, passando de 12,4% para 11,9%, o que representa um contingente de 12,5 milhões de pessoas sem trabalho. Além deste patamar continuar muito elevado, a taxa de ocupação só tem declinado porque o desalento permanece em seus níveis mais elevados. Chegava a 4,8 milhões de pessoas em jul-set/18, isto é, um avanço de 12,6% frente a igual período de 2017. Isso significa menos pessoas em busca de empregos.
Fosse contar apenas pela abertura de novas vagas, a situação estaria um pouco mais complicada. Cabe observar que o número de ocupados continuou crescendo em 2018, mas em um ritmo bem menor. Depois de ter avançado, em média, algo como 2% entre o 3º trim/17 e o 1º trim/18 na comparação interanual, recuou para 1,1% no 2º trim/18 e chegou a 1,5% no trimestre findo em setembro último. Ou seja, temos visto o oposto do que precisamos para dar mais robustez à recuperação da economia.
Esta evolução mais acanhada do número de ocupados se deve, em boa medida, à desaceleração de alguns dos motores da melhora do emprego que estavam em operação no final do ano passado. Isso pode ser verificado tanto nos tipos de ocupação como nas atividades econômicas subjacentes.
Quanto à posição na ocupação, a perda de força veio principalmente do trabalho por conta própria, que assegurava no 4º trim/17 aumento de 1 milhão de ocupados frente a um ano antes (+4,8% ante 4º trim/16). Agora no 3º trim/18 a geração desse tipo de ocupação é quase a metade disso: +585 mil ou +2,6% frente ao mesmo período do ano anterior.
Outro tipo de ocupação que também vinha liderando a recuperação do número de ocupados desde o ano passado, a saber, o trabalho sem carteira assinada, preservou seu dinamismo, sem compensar a desaceleração do conta própria. Ainda na comparação interanual, a criação de postos sem carteira saiu de +598 mil (+5,7%) no 4º trim/17 para +601 mil (+5,5%) no 3º trim/18, depois dos dois primeiros trimestres do ano mais desfavoráveis.
Setorialmente, quem liderava a melhora do emprego em 2017 e claramente deixou este posto em 2018 foi a indústria, como mostram abaixo as variações interanuais em milhares de pessoas. Mesmo que outras atividades tenham avançado mais ao longo deste ano, mal chegaram a superar o dinamismo industrial na criação de vagas do final do ano passado.
• Ocupação total: +1,8 milhão no 4º trim/17; +1,6 milhão no 1º trim/18; +1 milhão no 2º trim/18 e +1,3 milhão no 3º trim/18;
• Ocupados na indústria: +527 mil; +232 mil; +143 mil e +38 mil, respectivamente;
• Ocupados no comércio e reparação de veículos: +219 mil; +260 mil; -24 mil e +19 mil;
• Ocupados em alojamento e alimentação: +421 mil; +283 mil; +133 mil e +137 mil;
• Ocupados em info.; comum.; atividades financ.; imob. e profissionais: +408 mil; +129 mil; +88 mil e +110 mil;
• Ocupados na adm. pública; defesa e serviços sociais: +250 mil; +467 mil; +570 mil e +504 mil, respectivamente.
O avanço do número de ocupados no setor industrial foi se reduzindo de +527 mil (+4,6%) no 4º trim/17 para meros 38 mil no 3º trim/18, isto é, ficando virtualmente estagnado (+0,3%) em relação ao mesmo período do ano anterior. Com isso, a indústria que contribuía com cerca de 30% do aumento da ocupação no final de 2017 passou a contribuir com apenas 3% em jul-set/18. É uma involução notável e, pela natureza formal do emprego industrial, certamente tem sido um grande obstáculo à retomada do emprego com carteira assinada, que ainda permanece no vermelho (-1% ante 3º trim/17).
Outro setor a parar de melhorar foi comércio e reparação de veículos (+19 mil ou +0,1% ante 3º trim/17), enquanto os serviços de alojamento e alimentação e de informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias e profissionais desaceleraram na entrada do ano, mas conseguiram manter um dinamismo superior. Construção e transporte e correios, a seu turno, ainda verificam queda do emprego em jul-set/18.
As únicas atividades em trajetórias favoráveis foram agropecuária, que voltou a registrar aumento do número de ocupados no 3º trim/18 (+137 mil ou +1,6% ante 3º trim/17), e administração pública, defesa e serviços sociais, em franca aceleração ao longo do ano (+504 mil ou +3,2%).
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação aferida no trimestre compreendido entre julho e setembro de 2018 atingiu 11,9%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, abril a junho de 2018, houve queda de 0,6 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve retração de 0,5 p.p., quando registrou 12,4%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos ficou em R$ 2.222, apresentando decréscimo de 0,3% em relação ao trimestre imediatamente anterior (abr-mai-jun/2018), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve crescimento de 0,6%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 200,7 bilhões no trimestre que fechou em setembro, computando acréscimo de 1,2% frente ao trimestre imediatamente anterior e expansão de 2,2% em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (R$ 196,3 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 92,6 milhões de pessoas, incremento de 1,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior (abr-mai-jun), e aferiu-se aumento de 1,5% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (91,2 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados retraiu em 3,7%, com 12,4 milhões de pessoas, e frente ao mesmo trimestre do ano anterior observou-se decréscimo de 3,6%. Em relação a força de trabalho, aferiu-se neste trimestre 105,1 milhões de pessoas, isto é, aumento de 0,9% frente ao trimestre imediatamente anterior e incremento de 0,8% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Na análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram expansão da ocupação foram: Outros serviços (8,9%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,1%), Alojamento e alimentação (2,6%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (1,5%), Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (1,0%), Serviços domésticos (0,8%), Indústria (0,3%) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,1%). Por outro lado, os agrupamentos que apresentaram retrações na ocupação foram: Construção (-1,1%) e Transporte, armazenagem e correios (-0,2%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, comparada com o mesmo trimestre do ano anterior, observamos crescimentos nas seguintes categorias: trabalho privado sem carteira (5,5%), empregador (4,3%), trabalhador por conta própria (2,5%), setor público (2,1%) e trabalho doméstico (1,3%). Paralelamente, os seguintes segmentos registraram decréscimos: trabalho familiar auxiliar (-1,8%) e trabalho privado com carteira (-0,9%).