Análise IEDI
Exportação é parte do problema industrial
Os dados da balança comercial divulgados hoje pelo Mdic mostram que as exportações em 2018 apresentam significativa desaceleração em relação ao desempenho registrado no ano passado. Evolução semelhante também tem sido verificada no caso das vendas externas de produtos manufaturados, contribuindo para a nítida deterioração do desempenho da indústria ao longo deste ano.
Em outubro de 2018, tomadas as médias por dia útil, as exportações totais avançaram tanto quanto as importações: +12,4% em ambos os casos frente ao mesmo mês do ano passado. Este resultado, contudo, pouco expressa o que tem ocorrido com a balança comercial nos últimos meses.
O que temos visto em 2018 é um dinamismo mais forte das importações do que das exportações. No acumulado de janeiro a outubro, frente ao mesmo período do ano anterior, a alta de 20,6% dos desembarques é o dobro do resultado de 8% dos embarques. Não por outra razão, o superávit da balança tem ficado cada vez menor: -18,7% em relação ao saldo acumulado em jan-out/17.
O desempenho de +8% das exportações também implica um crescimento menor do que aquele de igual período do ano passado: +19,8%. Muito disso deve-se ao 2º trim/18, quando houve retração de 0,4% em função da greve dos caminhoneiros. Este atenuante, porém, não cabe às exportações de bens produzidos pela indústria, sejam eles manufaturados ou semimanufaturados.
Como mostram as variações interanuais abaixo, as vendas externas de manufaturados no acumulado de 2018 crescem a um ritmo que é praticamente a metade daquele de 2017. E isso a despeito do ótimo desempenho do primeiro trimestre do ano e das exportações meramente contábeis de plataformas de petróleo ao longo do corrente ano.
• Exportações totais: +19,8% em jan-out/17 e +8,0% em jan-out/18;
• Exportações de manufaturados: +12,1% e +6,7%, respectivamente;
• Exportações de semimanufaturados: +15,0% e -2,9%;
• Exportações de básicos: +28,1% e +13,6%, respectivamente.
A indústria automobilística, que liderava as exportações de manufaturados até pouco tempo atrás, já registra declínio de -17% dos embarques de automóveis de passeios e de -17,8% de veículos pesados no acumulado de janeiro a outubro. A crise na Argentina, o principal destino dessas exportações brasileiras, é um destacado fator explicativo para estes resultados desfavoráveis.
Diferentemente das exportações totais, os sinais de desaceleração das vendas externas de manufaturados vão além do segundo trimestre (-4,6%). Depois da alta de 25,8% em janeiro-março, o crescimento caiu para +7,4% no 3º trim/18 e para +5,5% na comparação de out/18 com out/17, sempre segundo as médias por dias úteis.
O quadro de semimanufaturados é mais negativo. A retração no acumulado de jan-out/18, de -2,9%, foi produzida por queda não apenas do 2º trim/18 (-4,9%), mas também no terceiro trimestre, de nada menos do que -10,2%. Ao menos houve alguma reação em outubro, embora pouco intensa (+3%).
São os básicos quem têm preservado o dinamismo das exportações nos últimos meses. Depois de um começo de ano fraco, as vendas externas de soja e principalmente de petróleo em bruto conseguiram alavancar um crescimento de 28,5% no 3º trim/18 e de 26% em out/18 frente a iguais períodos do ano anterior. Por essa razão, o acumulado no ano permanece com crescimento de dois dígitos (+13,6%).
Conforme os dados divulgados pelo MDIC, no mês de outubro de 2018 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 6,121 bilhões, acréscimo de 17,9% ao alcançado no mesmo período do ano anterior, US$ 5,193 bilhões.
As exportações atingiram a valor de US$ 22,226 bilhões, representando acréscimo de 0,7% em relação a outubro de 2017, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês. As importações totalizaram US$ 16,105 bilhões, o que significou uma expansão de 1,5% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
Para o mês de outubro de 2018, as médias diárias das exportações e importações aferidas foram de US$ 1,010 bilhões e US$ 732 milhões, respectivamente.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$ 11,172 bilhões no período, crescimento de 32,0% em comparação a outubro de 2017. Os produtos industrializados alcançaram US$ 10,928, aumento de 9,8% quando comparado a outubro de 2017, os manufaturados somaram US$ 7,737 bilhões, representando por sua vez expansão de 10,6% na mesma base de comparação anterior e os semimanufaturados somaram US$ 3,191 bilhões, crescimento de 7,9% quando comparado a outubro de 2017.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2017 registrou-se incremento em três dos quatro segmentos analisados, sendo eles: produtos básicos (26,0%), produtos manufaturados (5,5%) e produtos semimanufaturados (3,0%). Por outro lado, houve queda no segmento de operações especiais (-73,3%).
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com outubro de 2017, aumentaram as vendas principalmente de petróleo em bruto (+126,8%, para US$ 2,9 bilhões), soja em grão (+114,2%, para US$ 2,1 bilhões), algodão em bruto (+1,1%, para US$ 283 milhões), carne bovina (+0,9%, para US$ 530 milhões), farelo de soja (+0,9%, para US$ 448 milhões) e minério de ferro (+0,4%, para US$ 2,1 bilhões).
No grupo dos manufaturados, quando comparado com outubro de 2017, cresceram as vendas principalmente de gasolina (de US$ 4 milhões para US$ 135 milhões), óleos combustíveis (+732,7%, para US$ 501 milhões), partes de motores e turbinas para aeronave (+280,4%, para US$ 232 milhões), aviões (+101,1%, para US$ 348 milhões), tubos flexíveis de ferro/aço (+79,9%, para US$ 118 milhões), etanol (+51,2%, para US$ 140 milhões), óxidos/hidróxidos de alumínio (+32,4%, para US$ 288 milhões), suco de laranja não congelado (+23,4%, para US$ 137 milhões), polímeros plásticos (+2,5%, para US$ 160 milhões) e motores para veículos e partes (+2,4%, para US$ 176 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, quando comparado com outubro de 2017, cresceram as vendas principalmente de semimanufaturados de ferro/aço (+75,8%, para US$ 828 milhões), ferro ligas (+11,4%, para US$ 289 milhões), celulose (+9,7%, para US$ 619 milhões) e madeira serrada (+9,0%, para US$ 71 milhões).
Ao analisar os mercados compradores cresceram as vendas para a Ásia (+32,0%, sendo que a China cresceu 67,5%, para US$ 6,2 bilhões, por conta de petróleo em bruto, soja em grão, óleos combustíveis, celulose, carne bovina, algodão em bruto, açúcar em bruto, ferro-ligas, minério de manganês, carne suína, polímeros plásticos, coque de petróleo, semimanufaturados de ferro/aço), Estados Unidos (+31,0%, por conta de semimanufaturados de ferro/aço, petróleo em bruto, aviões, partes de motores/turbinas para aeronaves, gasolina, rolamentos e engrenagens, éteres alcoólicos, pneumáticos, sucos de frutas, açúcar refinado, máquinas p/terraplanagem, suco de laranja não congelado, etanol, autopeças), Oceania (+14,2%, por conta de óleos combustíveis, máquinas para terraplanagem, minério de ferro, pneumáticos, gelatinas industriais, chassis com motor, papel e cartão, veículos de carga, castanha do pará), África (+6,6%, em decorrência de açúcar em bruto, minério de ferro, ônibus, óleos combustíveis, carne bovina, tubos de ferro fundido, óleos lubrificantes, centrifugadores, bombas e compressores, zinco em bruto, miudezas comestíveis, preparações de carne de peru, chassis c/motor) e União Europeia (+3,8%, por conta de celulose, gasolina, óleos combustíveis, milho em grão, partes de motores e turbinas p/aeronaves, farelo de soja, suco de laranja não congelado, tubos flexíveis de ferro/aço, naftas, motores e turbinas p/aeronaves, máquinas p/terraplanagem, ferro-ligas, laminados planos, bombas e compressores). Por outro lado, diminuíram as vendas para a Mercosul (-28,2%, sendo que a Argentina decresceu 40,2%, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, tratores, máquinas p/terraplanagem, laminados planos, autopeças, máquinas p/uso agrícola, semimanufaturados de ferro/aço, chassis c/motor, pneumáticos, polímeros plásticos, motocicletas, motores p/veículos e partes), Oriente Médio (-23,8%, principalmente por automóveis de passageiros, motores e turbinas p/aeronaves, açúcar em bruto, óxidos/hidróxidos de alumínio, chassis c/motor, açúcar refinado, soja em grão, carne bovina, bovinos vivos, painéis de fibra de madeira, tubos de ferro fundido, suco de laranja congelado) e América Central e Caribe (-2,1%, por conta de milho em grão, petróleo em bruto, ônibus, fio-máquina de ferro/aço, celulose, automóveis de passageiros, semimanufaturados de ferro/aço, medicamentos, laminados planos, papel e cartão, quadros de energia).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 16,105 bilhões importados em setembro, US$ 9,588 bilhões foram de bens intermediários, US$ 2,396 bilhões de bens de consumo, US$ 2,269 bilhão foram de combustíveis e lubrificantes e US$ 1,840 bilhões de bens de capital.
Na comparação frente ao mesmo período de 2017, considerando a média diária, houve incremento em três segmentos das importações, puxado por combustíveis e lubrificantes (25,9%), bens de consumo (3,1%) e bens de capital (0,7%). Por outro lado, o segmento de bens intermediários (-6,9%) registrou queda.
Destaques importações. Com relação ao grupo dos combustíveis e lubrificantes o crescimento ocorreu principalmente pelo aumento das compras de petróleo em bruto, óleo diesel, carvão, gás natural, querosene de aviação, propanos liquefeitos, gasolinas-exceto p/aviação, óleos lubrificantes.
No segmento de bens intermediários, cresceram as aquisições de cloreto de potássio, naftas para petroquímica, partes de aparelhos para telefonia, ureia, caixas de marchas, partes de aparelhos de radiodifusão, tubos flexíveis de ferro/aço, trigos e misturas de trigo, catodos de cobre, microprocessadores.
No segmento de bens de capital, aumentaram as compras, principalmente, de veículos de carga, plataforma p/extração de petróleo, máquinas/aparelhos mecânicos, equipamentos terminais ou repetidores, instrumentos cirúrgicos, aparelhos de comutação p/telefonia, instrumentos de medida, bobas centrífugas.
No grupo dos bens de consumo, os principais aumentos foram observados nas importações de automóveis de passageiros, produtos imunológicos, medicamentos, fungicidas, salmão, aparelhos celulares, obras de plástico, azeite de oliva, vinhos.
Por fim, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação outubro 2018/2017, aumentaram as compras originárias dos principais mercados, a saber: Oriente Médio (+125,1%, por conta de petróleo em bruto, óleos combustíveis, cloreto de potássio, polímeros plásticos, adubos e fertilizantes, óleos lubrificantes, querosene de aviação, chumbo em bruto, vidro flotado), Mercosul (+26,7%, sendo que da Argentina cresceu 3,3%, por conta de veículos de carga, trigo em grão, leite/creme de leite, arroz em grão, álcoois acíclicos, ônibus, medicamentos, polímeros plásticos, tubos de ferro fundido, gás propano, produtos hortícolas), África (+25,6%, por conta de petróleo em bruto, ureia, gás propano, adubos e fertilizantes, gás butano, alumínio em bruto, carvão, ródio em bruto, inseticidas, barras de alumínio, medicamentos, catodos de cobre, laminados planos), Estados Unidos (+17,5%, por conta de querosene de aviação, hidrocarbonetos, medicamentos, naftas, petróleo em bruto, partes e peças p/aeronaves, polímeros plásticos, ácidos carboxílicos, compostos organo-inorgânicos, adubos e fertilizantes, coque de petróleo, instrumentos de medida, partes de aparelhos transmissores/receptores, motores e turbinas p/aeronaves, álcoois alcíclicos, partes de motores e turbinas p/aeronaves), Ásia (+5,0%, sendo que a China cresceu 8,7%, por conta de inseticidas, adubos e fertilizantes, compostos organo-inorgânicos, compostos heterocíclicos, ácidos carboxílicos, sulfato de amônio, barras de alumínio, coques/semicoques de hulha, motores/geradores elétricos, obras de ferro/aço) e União Europeia (+0,004%, por conta de medicamentos, gás natural, tubos flexíveis de ferro/aço, compostos heterocíclicos, naftas, máquinas p/empacotar, adubos e fertilizantes, partes de motores p/veículos automóveis, dispositivos de armazenamento, instrumentos médicos, barras de alumínio). Por outro lado, diminuíram as compras originárias da Oceania (-31,3%, por conta de carvão, aparelhos p/interrupção de energia, alumínio em bruto, aparelhos transmissores/receptores, tripas de animais, medicamentos, ligas de alumínio em bruto) e América Central e Caribe (-15,9%, por conta de óleos combustíveis, gás natural, instrumentos médicos, inseticidas, chumbo em bruto, circuitos integrados, polímeros plásticos).