Análise IEDI
A ampliação do déficit comercial da indústria por intensidade tecnológica
A balança comercial da indústria de transformação caminha em direção ao passado, retomando patamares de déficits cada vez mais semelhantes àqueles que vigoraram antes da crise industrial de 2014-2016. No acumulado de janeiro a setembro de 2018, o saldo negativo chegou a US$ 20,3 bilhões, o pior resultado desde 2015 (US$ 30 bilhões) e dez vezes superior ao déficit de 2017 acumulado em igual período.
Por mais que a tendência de deterioração viesse ocorrendo desde meados do ano passado, o terceiro trimestre de 2018 foi o período de grande intensificação. Mais da metade do déficit da indústria de transformação em 2018 foi gerado entre os meses de julho e setembro, configurando o pior trimestre para a balança comercial do setor desde o 1º trim/2015. Muito disso, como veremos a seguir, deveu-se a fatores específicos associados ao setor de petróleo, em função da importação de plataformas e da elevação do patamar dos seus preços internacionais.
As exportações de bens manufaturados, depois de ter registrado declínio de 2,6% no segundo trimestre de 2018, ante mesmo período do ano anterior, variou apenas +0,4% no acumulado entre os meses de julho e setembro, implicando uma virtual estabilidade exportadora no terceiro trimestre do ano. Este desempenho agregado esconde, contudo, o fato de que a grande maioria dos grupos de setores industriais por intensidade tecnológica tenha, na verdade, ficado no vermelho, como mostra a Carta IEDI a ser divulgada hoje.
A única exceção foi a faixa de média-baixa intensidade tecnológica, cujas exportações cresceram 23,3% frente ao 3º trim/2017. É aqui que se encontram as atividades do setor de petróleo, que tiveram grande influência sobre a balança comercial da indústria neste período. As vendas externas de carvão, produtos de petróleo refinado e combustível nuclear aumentaram, na comparação interanual, nada menos do que 99,7% em julho-setembro de 2018. Já os produtos de construção e reparação naval registraram alta de 181,5% no mesmo período, refletindo a exportação meramente contábil de plataformas de petróleo.
Dentre as demais faixas, a média-alta e a baixa intensidade tecnológica apresentaram, pelo segundo trimestre consecutivo, queda das exportações: -10,4% e -3,0%, respectivamente, frente ao 3º trim/17. No primeiro caso, devido ao recuo das vendas externas da indústria automobilística e, em menor medida, de produtos químicos e de máquinas e equipamentos mecânicos, e no segundo caso, em função do desempenho negativo de tecidos, couros e calçados e da indústria alimentícia. Deste modo, a média-alta acumula perda de -1% no acumulado janeiro-setembro de 2018 e a baixa tecnologia de -3,9%. As únicas faixas em queda no ano.
A alta intensidade tecnológica, a seu turno, também sofreu retração dos embarques no terceiro trimestre (-9,3% ante 3º trim/17), em função da indústria aeronáutica e aeroespacial e da indústria farmacêutica. Porém, como a primeira metade do ano teve bons resultados, o desempenho no acumulado de janeiro a setembro de 2018 permanece positivo: +4,1% ante mesmo período do ano anterior.
Já as importações da indústria de transformação como um todo avançam sistematicamente há sete trimestres consecutivos. Em quatro deles, o ritmo de crescimento foi intenso, atingindo variações de dois dígitos. Agora no 3º trim/18, a alta foi de 27,8% frente ao mesmo período do ano anterior. Esta tendência de expansão se repete para a maioria dos grupos de setores industriais por intensidade tecnológica.
Na indústria de alta tecnologia, são quatro trimestres seguidos de expansão das importações, registrando alta de 3,7% em julho-setembro de 2018. Para a média-alta, são cinco trimestres de aumento dos desembarques, chegando a +17,2% no terceiro trimestre de 2018. No primeiro caso, a principal pressão altista tem sido exercida pela indústria farmacêutica, enquanto no segundo caso decorre de produtos químicos, máquinas e equipamentos mecânicos e veículos automotores.
O destaque importador do terceiro trimestre de 2018 cabe, contudo, à faixa de média-baixa intensidade tecnológica, com um avanço de nada menos do que 93,7% frente ao mesmo período do ano anterior, em grande medida devido à importação de plataformas de petróleo, como mencionado anteriormente, fazendo com que a importação da construção e reparação naval saísse de US$ 18 milhões no 3º trim/17 para US$ 5,4 bilhões no 3º trim/18. Em boa medida devido a isso a importação da média-baixa tecnologia em janeiro-setembro de 2018 é quem mais cresce: +53,6% ante igual período do ano anterior.
Por sua vez, a exceção pelo lado das importações compete à baixa tecnologia, que mostrou declínio no 3º trim/18: -0,9% frente ao mesmo período do ano anterior, graças a menores compras externas de tecidos, couros e calçados, que apresentaram a primeira queda (-1,1%) desde o 4º trim/2016. As importações da indústria de baixa tecnologia são as que menos crescem no acumulado de 2018 até setembro, chegando a apenas +3,1%, devido à retração registrada por alimentos, bebidas e fumo.