Análise IEDI
São Paulo em marcha à ré
A segunda metade de 2018 não começou nada bem para a indústria. Como vimos na semana passada, a indústria como um todo flertou com a recessão no terceiro trimestre do ano ao encolher, mês após mês, seu resultado com ajuste sazonal. Este desempenho, que põe em risco a reação do setor, ganha uma dimensão ainda maior com a evolução de alguns parques industriais regionais, como mostram os dados do IBGE divulgados hoje.
No mês de setembro, quando a indústria brasileira recuou 1,8% frente a agosto, não só a maioria de seus ramos ficou no vermelho (16 dos 26 acompanhados pelo IBGE) como também quase metade de suas localidades. A produção caiu em 7 das 15 indústrias regionais pesquisadas. Dentre elas, quem mais preocupa é São Paulo, tanto pela trajetória que vem apresentando nos últimos meses como pela importância que tem sua indústria, mais diversificada e complexa.
A exemplo do total Brasil, os resultados de São Paulo apontaram perda de produção em todos os meses do terceiro trimestre, com piora adicional no último mês em questão: -1,9% em jul/18; -1,1% em ago/18 e -3,9% em set/18, na série com ajuste sazonal. O que distingue esta evolução da média brasileira é que as quedas em São Paulo foram muito mais intensas, contribuindo para que seu nível de produção em set/18 ficasse 8% abaixo daquele de dez/17. No caso do total Brasil, esta diferença foi menor, de -3,6%.
Outra diferença do resultado de São Paulo é que também foi negativo na comparação com o terceiro trimestre de 2017. Enquanto para o Brasil houve desaceleração, como mostram os dados abaixo, a indústria paulista chegou a cair 1% no 3º trim/18, algo que não ocorria desde o 2º trim/17. Por isso não há dúvidas de São Paulo entrou na segunda metade de 2018 em marcha ré.
• Brasil: +5,0% no 4º tri/17; +2,8% no 1º tri/18; +1,7% no 2º tri/18 e +1,2% no 3º tri/18;
• São Paulo: +8,0%; +5,3%; +4,0% e -1,0%, respectivamente;
• Minas Gerais: +0,8%; -3,0%; -0,8% e -1,1%;
• Amazonas: +9,1%; +24,2%; +6,9% e -5,5%;
• Nordeste: +0,3%; -0,4%; -0,2% e +2,8%;
• Rio Grande do Sul: -0,3%; +0,9%; +0,4% e +12,4%, respectivamente.
Cabe ainda observar que a retração de São Paulo não se deve a problemas localizados, já que cerca de metade de seus ramos industriais registrou perda, com destaque para alimentos (-17,2% ante 3º trim/17), vestuário e acessórios (-11,3%), produtos de limpeza, cosmético e perfumaria (-7,0%) e coque e derivados de petróleo (-4,0%).
Também é grave o fato de que outros importantes parques industriais tenham acompanhado São Paulo nesta fase de adversidades renovadas. Amazonas, por exemplo, saiu de uma alta de 24,2% no 1º trim/18 para uma retração de 5,5% no 3º trim/18, devido a resultados negativos em 70% de seus ramos. Minas Gerais teve pela terceira vez um trimestre negativo em 2018, resultado este acompanhado por 46% de seus ramos.
Rio de Janeiro, por sua vez, manteve-se no positivo, mas apresentou desaceleração em julho-setembro, enquanto Santa Catarina também cresceu e retomou o dinamismo do primeiro trimestre do ano.
O quadro é mais favorável para o Rio Grande do Sul e o Nordeste (graças a Pernambuco), cujo desempenho no terceiro trimestre de 2018 foi bastante superior ao dos anteriores. Ambos os casos, contudo, vinham de uma sucessão de resultados bastante anêmicos, quando não negativos, desde o final do ano passado. Por isso, a continuidade desse maior ritmo de crescimento ainda está por ser comprovada.
Na passagem de agosto para setembro de 2018, a produção industrial brasileira registrou retração de 1,8%, a partir dos dados dessazonalizados. Entre os 15 locais pesquisados, oito registraram incrementos: Ceará (3,7%), Pará (3,5%), Pernambuco (1,7%), Goiás (1,4%), Rio Grande do Sul (1,3%), Rio de Janeiro (1,0%), Mato Grosso (0,9%) e Espírito Santo (0,9%). De outro lado, os estados que apresentaram decréscimos foram: Amazonas (-5,2%), São Paulo (-3,9%), Bahia (-3,3%), Paraná (-3,1%), Nordeste (-1,9%), Minas Gerais (-1,8%) e Santa Catarina (-1,8%).
Analisando em relação a setembro de 2017, registrou-se variação negativa de 2,0% da indústria nacional, sendo que 7 dos 15 locais pesquisados registraram expansões: Pernambuco (15,9%), Pará (14,1%), Rio Grande do Sul (12,4%), Mato Grosso (4,7%), Ceará (3,7%), Espírito Santo (3,6%) e Nordeste (1,4%). Para os demais estados observaram-se retrações: Amazonas (-14,8%), São Paulo (-6,6%), Goiás (-4,2%), Rio de Janeiro (-3,9%), Bahia (-2,6%) e Minas Gerais (-2,2%).
No acumulado do ano (janeiro a setembro de 2018) frente a igual período do ano anterior, observou-se crescimento de 1,9% em termos nacionais, com expansões da produção em 12 dos 15 estados pesquisados: Pará (9,9%), Amazonas (7,8%), Pernambuco (7,1%), Rio Grande do Sul (4,7%), Santa Catarina (4,1%), Rio de Janeiro (3,4%), São Paulo (2,5%), Paraná (2,2%), Mato Grosso (1,2%), Nordeste (0,8%), Bahia (0,3%) e Ceará (0,3%). Por outro lado, os estados que apresentaram variações negativas foram: Goiás (-3,7%), Espírito Santo (-2,7%) e Minas Gerais (-1,6%).
São Paulo. Na comparação com o mês de agosto de 2018, a produção da indústria paulista aferiu decréscimo de 3,9%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a setembro de 2017, houve retração de 6,6%. No entanto, analisando os dados acumulados de janeiro a setembro de 2018, tivemos aumentos nos seguintes setores: veículos automotores, reboques e carrocerias (14,9%), metalurgia (12,1%), máquinas e equipamentos (10,7%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (10,5%) e produtos de borracha e material plástico (4,7%). Por outro lado, os cinco setores que apresentaram retrações foram: confecção de artigos do vestuário e acessórios (-11,0%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-9,8%), produtos alimentícios (-8,2%), sabões, detergentes e produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene (-2,2%).
Minas Gerais. Na comparação com o mês de agosto de 2018, a produção da indústria mineira registrou variação negativa de 1,8%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a setembro de 2017, houve retração de 2,2%. No acumulado do ano, a indústria de Minas Gerais apresentou queda de 1,6%, sendo que os setores com contribuições positivas foram: máquinas e equipamentos (21,9%), metalurgia (4,6%), outros produtos químicos (3,7%), produtos minerais não-metálicos (3,5%) e coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (0,4%). Por outro lado, os cinco demais setores que apresentaram decréscimos foram: produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-11,2%), produtos têxteis (-8,4%), produtos alimentícios (-5,8%), produtos do fumo (-5,5%) e indústrias extrativas (-4,3%).
Amazonas. Na comparação com o mês de agosto de 2018, a produção da indústria amazonense registrou queda de 5,2%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a setembro de 2017, houve variação negativa de 14,8%. No entanto, e por fim, no acumulado do ano (janeiro a setembro de 2018) houve incremento de 7,8%. Os setores que registraram os maiores crescimentos foram: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (20,5%), bebidas (19,9%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (14,4%), indústria de transformação (8,3%) e produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (5,9%). Por fim, as maiores retrações se deram nos seguintes setores: impressão e reprodução de gravações (-20,4%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-18,4%), produtos de borracha e material plástico (-11,9%), coque, produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-8,9%), máquinas e equipamentos (-6,2%).