Análise IEDI
Um passo atrás também para o varejo
Não foi só a indústria que deu um passo atrás em setembro de 2018, as vendas reais do comércio varejista também recuaram e não foi pouco. A queda de 1,3% frente a agosto foi a mais intensa do ano na série com ajuste sazonal, anulando boa parte do crescimento mais substancial do mês anterior (+2%). Em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis, autopeças e material de construção, o resultado foi ainda pior: -1,5%.
Tal como o setor industrial, este mau desempenho não se deveu a fatores isolados, pois seis das dez atividades acompanhadas pelo IBGE ficaram no vermelho. Combustíveis e lubrificantes (-2,0%), supermercados, alimentos, bebidas e fumo (-1,2%), bem como material de construção (-1,7%), foram aqueles que registraram as maiores perdas na passagem de agosto para setembro, já descontados os efeitos sazonais.
Assim, depois de ter evitado a faixa negativa por quatro meses seguidos desde o começo de 2018, o varejo restrito parece ter descarrilhado a partir de maio, registrando uma sequência de quedas na série com ajuste, à exceção do mês de agosto, como mencionado anteriormente. Já o varejo ampliado, devido tanto às vendas de material de construção como às de automóveis e autopeças, assumiu uma trajetória bastante oscilante.
Em outras palavras, a contar por essas trajetórias o varejo não vem mostrando resultados compatíveis com uma recuperação consistente. Se, de um lado, os baixos níveis de inflação e a reativação do crédito às famílias aportam contribuições positivas, por outro, os juros altos cobrados dos empréstimos e o desemprego ainda muito elevado jogam contra uma reação vigorosa do setor.
Os resultados frente ao ano anterior também mostram uma evolução bastante restringida no comércio. Desde o final do ano passado, as vendas reais do varejo vêm sistematicamente perdendo dinamismo, como ilustram as variações interanuais abaixo, ainda que a desaceleração tenha se tornado mais moderada recentemente. Esse é um comportamento que também se verifica na indústria, como o IEDI já apontou em outras Análises.
• Varejo restrito: +4,2% no 4º tri/17; +3,8% no 1º tri/18; +1,6% no 2º tri/18 e +1,0% no 3º tri/18;
• Varejo ampliado: +7,7%; +6,6%; +4,7% e +4,0%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +4,4%; +5,7%; +4,0% e +2,4%;
• Tecidos, vestuário e calçados: +6,9%; -1,6%; -5,0% e -1,7%;
• Móveis e eletrodomésticos: +11,3%; +1,7%; -0,6% e -4,1%;
• Material de construção: +14,0%; +3,7%; +5,9% e +2,2%;
• Veículos, motos e autopeças: +9,5%; +17,9%; +15,1% e +14,5%, respectivamente.
Há, contudo, quem esteja em uma situação ainda mais grave que o agregado do setor. É notadamente os casos de combustíveis e lubrificantes, em declínio desde 2015, e de tecidos, vestuário e calçados, cujas vendas reais encontram-se no vermelho desde o início do ano. Ou seja, são três trimestres de retração depois de terem terminado 2017 com um nível razoável de dinamismo.
Algo semelhante ocorre no segmento de móveis e eletrodomésticos, que já somam dois trimestres de quedas em aprofundamento, implicando uma reviravolta importante frente ao 4º trim/17, quando era um dos que mais crescia.
Outros segmentos do varejo não chegaram a resvalar para o terreno negativo, mas registraram igualmente forte desaceleração, tal como material de construção, artigos farmacêuticos e supermercados, alimentos, bebidas e fumo. Equipamentos de escritório, informática e comunicação, por sua vez, alternam resultados positivos e negativos, sendo estes últimos mais intensos. Agora no 3º trim/18 variou apenas +0,4%, isto é, praticamente ficou estável.
Quem tem contribuído para manter certo dinamismo no varejo são as vendas de veículos, motos e autopeças, cuja desaceleração é pequena frente a seu ritmo de crescimento de dois dígitos, que atingiu +14,5% no 3º trim/18. Não é por outra razão que o varejo ampliado cresce mais no acumulado de 2018 até setembro (+5,8%) do que em 2017 como um todo (+4%), enquanto o varejo restrito caminha para repetir o mesmo resultado (+2,1% em 2017 e +2,8% em 2018 até setembro).
A partir dos dados de setembro de 2018 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional, na série com ajuste sazonal, apresentou queda de 1,3% frente ao mês anterior, após avanço de 2,0% em agosto. Para o acumulado dos últimos doze meses houve crescimento de 2,8% e para o acumulado do ano a expansão foi de 2,3%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se retração de 1,5% em relação a agosto de 2018, a partir de dados livres de influências sazonais. Frente ao mesmo mês de 2017, houve acréscimo de 2,2%. Para o acumulado dos últimos 12 meses houve incremento de 5,8% e no acumulado do ano aferiu-se expansão 5,2%.
A partir de dados dessazonalizados, dois dos oito setores apresentaram incremento em comparação ao mês imediatamente anterior: móveis e eletrodomésticos (2,0%) e tecido, vestuário e calçados (0,6%). Por outro lado, os demais seguimentos apresentaram retrações: combustíveis e lubrificantes (2,0%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,2%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,0%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,0%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,4%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-0,2%). Para o comércio varejista ampliado, houve queda de 1,5%, sendo influenciado por veículos, motos, partes e peças (-0,1%) e material de construção (-1,7%).
Em relação ao mês de agosto de 2017, registraram-se expansões em cinco das oito atividades que compõem o varejo: outros artigos de uso pessoal e doméstico (3,9%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,9%), tecidos, vestuário e calçados (1,2%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,8%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,4%). Os demais setores apresentaram variações negativas: livros, jornais, revistas e papelaria (-16,5%), combustíveis e lubrificantes (-5,0%) e móveis e eletrodomésticos (-2,2%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se expansão de 2,2%, com crescimento de 11,0% em veículos e motos, partes e peças, e retração de 1,6% em material de construção.
Para a análise referente ao acumulado do ano (janeiro a setembro de 2018) frente ao mesmo período do ano anterior, verificaram-se resultados positivos em três das oito atividades que compõem o varejo: outros artigos de uso pessoal e doméstico (7,3%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,4%) e hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (4,4%). Em relação aos outros segmentos analisados, foram registradas variações negativas em livros, jornais, revistas e papelaria (-10,1%), combustíveis e lubrificantes (-5,8%), tecidos, vestuário e calçados (-3,0%), móveis e eletrodoméstico (-1,0%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-0,2%). Em relação ao comércio varejista ampliado, verificou-se incremento de 5,2%, em função do crescimento de veículos, motos, partes e peças (15,7%) e material de construção (3,9%).
Para a análise do acumulado de 12 meses, registrou-se variações positivas em quatro dos oito segmentos: outros artigos de uso pessoal e doméstico (6,0%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,8%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,4%) e móveis e eletrodomésticos (2,3%). Para tecidos, vestuário e calçados aferiu-se estabilidade (0,0%). Os demais setores observaram retrações: livros, jornais, revistas e papelaria (-8,9%), combustíveis e lubrificantes (-5,2%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-2,4%). Para o comércio varejista ampliado, houve crescimento de 5,8%, sendo que veículos, motos, partes e peças apresentou aumento de 14,2% e material de construção 6,3%.
Por fim, comparando setembro de 2018 com setembro de 2017, 11 das 27 unidades federativas registraram variações positivas do volume de comércio: Rondônia (8,1%), Acre (6,6%), Santa Catarina (6,2%), Pará (5,5%), Rio Grande do Norte (4,3%), Espírito Santo (3,6%), Rio Grande do Sul (2,6%), Maranhão (2,3%), Tocantins (2,2%), São Paulo (0,9%) e Amazonas (0,2%). Por fim, para os demais estados os maiores decréscimos foram registrados em: Piauí (-5,9%), Mato Grosso (-5,1%), Distrito Federal (-5,0%), Roraima (-3,8%), Rio de Janeiro (-3,2%), Amapá (-2,5%), Alagoas (-2,2%) e Paraíba (-2,1%).