Análise IEDI
Um ano de avanço incompleto
Depois de uma crise profunda em 2015 e sobretudo 2016, o mercado de crédito deve registrar em 2018 seu primeiro ano de aumentos mensais consecutivos nas concessões totais. Já corrigido pela inflação apurada pelo IPCA, o valor do crédito concedido em outubro do corrente ano foi 13,2% maior do que de igual período do ano anterior. No acumulado de janeiro-outubro a alta das concessões totais soma 11,2%.
Além de se mostrar como um ano de inconteste reativação do financiamento da economia, o ano de 2018 também se distingue pela reviravolta do crédito corporativo. Foram quatro anos seguidos de contração das concessões reais às empresas, de 2014 a 2017, período em que o acesso a novos empréstimos ficou 20% menor no total.
Agora em 2018, entre janeiro e outubro, essas operações junto às empresas acumulam alta de 13,4%. A contar pelo resultado de outubro, de +15,8% ante out/17, o desempenho final em 2018 pode ser ainda mais robusto.
Ajudaria muito nesta direção, se a melhoria do financiamento das empresas não estivesse restrita apenas às operações cujos termos são livremente pactuados pelas partes. O crédito direcionado, por sua vez, continua em queda livre: -14,1% no acumulado dos dez meses de 2018 e o dobro desta retração no mês de outubro (-28,6% ante out/17).
É por causa do crédito direcionado que o estoque de empréstimos às empresas como proporção do PIB chegou em out/18 a 20,7%, isto é, ao ponto mais baixo desde agosto de 2008. Em consequência, a relação crédito total/PIB da economia brasileira ficou em 46,3% (a menor desde jan/12).
Em contrapartida, conforme mostram as variações interanuais abaixo das concessões reais, o crédito livre às empresas não só avança no acumulado do ano, mas também dá sinais de aceleração:
• Concessões de crédito livre às empresas: +16,4% em jan-out/18 e +20,1% em out/18;
• Concessões de crédito direcionado às empresas: -14,1% e -28,6%, respectivamente;
• Concessões de crédito livre às famílias: +10,1% e +11,0%;
• Concessões de crédito direcionado às famílias: +5,7% e +19,4%, respectivamente.
O mau desempenho das fontes oficiais de financiamento, tais como o BNDES, que acumulam retração de 19% no acumulado do ano até outubro, muito provavelmente terá prosseguimento nos próximos meses. Além de diretrizes administrativas, também concorre para isso a significativa elevação da inadimplência total do crédito direcionado às empresas, que saiu de 1,4% em jul/18 para 2,2% em out/18.
Quanto ao financiamento das famílias, este está em rota de recuperação deste março de 2017. As concessões totais avançaram, em termos reais, 8,6% no acumulado dos doze meses do ano passado e 9,7% em 2018 até o mês de outubro. Embora sejam ritmos muito próximos, a alta de 11,8% em out/18 ante out/17 indica ser possível encerrarmos o ano com um dinamismo de dois dígitos para essas operações.
Neste caso dos empréstimos às famílias, a contribuição mais significativa para um crescimento mais acelerado deve vir do crédito direcionado, diferentemente do que vem ocorrendo no crédito corporativo. No acumulado de jan-out/18, a alta das concessões reais de financiamento oficial às famílias, que em grande medida diz respeito ao credito imobiliário, é de +5,7%, mas já há quatro meses seguidos que os aumentos mensais são de dois dígitos: +19,4% em out/18 frente a out/17.
Enquanto isso, os empréstimos livres às pessoas físicas vão dando sinais de que já poderiam ter atingido um teto para seu ritmo de crescimento, dada a proximidade dos resultados nas seguintes comparações interanuais: +9,2% em jan-dez/17; +10,1% em jan-out/18 e +11% em out/18. Se verificado, este é um comportamento que não surpreende, dado o desemprego em patamares ainda muito elevados e ao aumento gradativo de ocupações concentrado basicamente em trabalho sem carteira assinada ou por conta própria, que asseguram à população um menor acesso ao crédito.
Os dados de crédito apresentados pelo Banco Central aferiram que o saldo das operações alcançou R$ 3,2 trilhões em outubro, retração de 0,2% no mês, efeito derivado da apreciação cambial de 7,1% na carteira de pessoas jurídicas, com redução de 1,6% (saldo de R$1,4 trilhão). O saldo de crédito a pessoas físicas cresceu em 1,1%, na comparação do mês com o mês anterior (R$1,7 trilhão), enquanto a carteira de pessoas jurídicas retraiu em 1,6%, alcançando R$1,4 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o saldo total de crédito manteve trajetória de crescimento, com incremento de 3,5% relativamente a outubro de 2017. A relação crédito/PIB ficou em 46,3%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$1,682 bilhões, expansão de 0,2% em relação ao mês anterior e aumento de 9,4% quando comparado com outubro de 2017. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$916,8 bilhões, aferindo incremento de 1,5% em relação ao mês imediatamente anterior e acréscimo de 9,5% quando comparado com o mês de outubro de 2017. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se R$ 765,6 bilhões, decréscimo de 1,3% em relação ao mês anterior e incremento de 9,3% na comparação com o mesmo período de 2017.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$1,482 bilhões para outubro, em termos nominais, indicando uma queda de 2,4% frente ao mesmo mês do ano anterior e queda de 0,6% quando comparado ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$ 829,3 bilhões, aumento de 5,0% quando comparado ao mês de outubro de 2017. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 652,8 bilhões, decréscimo de 10,5%.
Para o mês de outubro de 2018, foram concedidos R$322,0 bilhões em novas operações de crédito, um crescimento de 13,3% frente ao montante de R$284,3 bilhões observado em outubro de 2017. Deste volume, R$295,0 bilhões foram originados de recursos livres e R$26,9 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, incremento de 14,8% para recursos livres e retração de 1,5% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$122,2 bilhões), cartão de crédito (-R$ 94,7 bilhões), crédito não rotativo (R$ 43,3 bilhões), cheque especial (R$ 31,7 bilhões) e crédito pessoal (R$ 27,1 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$ 29,7 bilhões), cheque especial (R$ 15,6 bilhões), conta garantida (R$ 15,2 bilhões) e capital de giro (R$ 12,4 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 8,3 bilhões), crédito rural (R$ 8,1 bilhões), BNDES (R$ 1,1 bilhão) e microcrédito (R$ 929 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o crédito rural (R$ 3,8 bilhões), o BNDES (R$ 3,1 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 677 milhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 719,4 bilhões, o que significa um crescimento nominal de 4,6% frente a outubro de 2017, e as seguintes expansões para administração pública (6,2%), comércio geral (6,0%) e transporte (4,7%). Para o setor da indústria aferiu-se o valor de R$ 648,2 bilhões, retração de 7,4% frente ao mesmo mês do ano anterior, e por fim, o setor agropecuário registrou crédito de R$ 24,6 bilhões, expansão de 13,0% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mesmo mês de outubro de 2017.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional, por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,6 trilhões, representando 52,1% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$ 1,0 trilhão, representando 33,3% e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 463,2 bilhões, representando por sua vez 14,6% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das contratações efetuadas em outubro atingiu 24,6% a.a., o que representou expansão de 0,2 p.p. no mês e declínio de 2,8 p.p. nos últimos doze meses. Na carteira livre, a taxa de juros das contratações alcançou 38,0% (+0,1 p.p. e -5,5 p.p., em iguais períodos). Nas contratações livres com pessoas físicas, houve queda de 0,1 p.p. nessa taxa, que alcançou 51,9% a.a., determinada pelas modalidades rotativas (cheque especial: -1 p.p.; cartão regular e não regular: -6,7 p.p. e -1,1 p.p.). No crédito livre a empresas, a taxa de juros das contratações permaneceu estável em 20,4% a.a. A taxa de juros do crédito livre, excluindo-se as operações rotativas, aumentou 0,2 p.p., para 29,5% a.a. Por fim, no crédito direcionado, a taxa geral elevou-se 0,4 p.p., para 8,4%, destacando-se aumento de 1 p.p. com empresas, para 9,7% a.a., notadamente nos financiamentos para investimentos do BNDES (+1,2 p.p.).