Análise IEDI
Recuperação Limitada
Passado um período de virtual estagnação que durou três trimestres seguidos, o PIB registrou alta de 0,8% no terceiro trimestre de 2018 frente ao trimestre anterior, configurando o segundo melhor resultado na série com ajuste sazonal desde o início da recuperação econômica. Apesar disso, expressa um dinamismo muito baixo, o que contribui para que 2018 se firme como um ano de acomodação. Como veremos, o crescimento da economia é fraco e a indústria é parte disso.
Dois aspectos ilustram quão limitada é a atual recuperação. O primeiro é que o PIB do 3º trim/18, na série com ajuste sazonal, retoma um nível muito próximo daquele do 3º trim/15, um momento em que a crise que vivemos nos últimos anos entrava em sua fase mais aguda. Em outras palavras, o PIB apenas saiu do seu ponto mais baixo, mas se encontra longe de seu auge anterior. É o que mostra a comparação entre o 3º trim/18 e o 1º trim/14, que resulta em um patamar 5% inferior.
Outro aspecto a ser mencionado é que o crescimento da economia atingiu um ritmo próximo de 1% e, ao que tudo indica por ora, lá tem ficado sem esboçar nenhuma aceleração. É o que indica o resultado do PIB não apenas no acumulado de janeiro a outubro, de 1,1%, como em cada um de seus trimestres na comparação interanual: 1,2%; 0,9% e 1,3%. Importante notar que este é um padrão que representa a metade do dinamismo do último quarto de 2017 (2,2%).
Isso se deu porque vários componentes do PIB que vinham se acelerando desde o ano passado perderam ímpeto em 2018, enquanto a melhora do desempenho de outros foi insuficiente. Na ótica da demanda, como mostram as variações interanuais abaixo, minguaram os resultados do consumo das famílias e das exportações. Já na ótica da oferta, pisaram no freio notadamente a indústria de transformação, o comércio e outras atividades de serviços.
• PIB Total: +2,2% no 4º trim/17; +1,2% no 1º trim/18; +0,9% no 2º trim/18 e +1,3% no 3º trim/18
• Consumo das Famílias: +3,1%; +2,9%; +1,8%; +1,4%, respectivamente
• Consumo do Governo: +0,2%; +0,7%; -0,3% e +0,3%;
• Formação Bruta de Capital Fixo: +3,6%; +2,6%; +3,0% e +7,8%;
• Exportação: +9,2%; +5,3%; -2,9% e +2,6%;
• Importação: +8,3%; +7,8%; +6,5% e +13,5%, respectivamente.
A expansão do consumo das famílias está longe de ser aquela do final de 2017, quando uma recomposição parcial foi alavancada por fatores pontuais, como a liberação dos recursos do FGTS, bem como pela ampliação do poder de compra da população derivada da forte desaceleração da inflação e do retorno do crédito às famílias. Hoje, a melhora muito marginal do emprego, baseada em ocupação de menor qualidade, cobra seu preço, limitando o avanço do consumo das famílias.
Assim, diante de uma retomada insuficiente do mercado interno, para a qual o consumo do governo em nada tem ajudado, as exportações poderiam funcionar como uma alavanca do PIB, como de fato funcionaram no 4º trim/17. Porém, esta também não foi uma via assumida, já que as exportações igualmente perderam ritmo, passando a ser largamente superadas pelo crescimento das importações.
O resultado disso é que o setor externo pouco tem contribuído para o crescimento, ainda que a alta de 13,5% das importações no 3º trim/18 não reflita a realidade, já que está sob forte influência da internalização de ativos do setor de petróleo e gás decorrente da mudança das regras do Repetro. Aliás, este também é o fator que explica a alta expressiva de 7,8% da formação bruta de capital fixo.
O investimento vem de fato registrando reação desde o ano passado, em uma intensidade não desprezível, mas certamente não naquela apontada no 3º trim/18 dado o novo Repetro. Ao contrário, o investimento não decolou como deveria em uma saída de crise. Depois de perdas tão severas em 2015-2016, seu desempenho recente é flagrantemente baixo. Basta lembrarmos que na saída da recessão de 2009, quando a crise global de 2008 atingiu o Brasil, o investimento cresceu em média 22% nos três primeiros trimestres de 2010.
Do lado da oferta, é a indústria de transformação quem mais claramente perdeu fôlego. No último quarto de 2017, seu PIB crescia 5,7% e agora o setor gira a uma velocidade que é menos do que 1/3 disso: +1,6% no 3º trim/18, premido pelo desaquecimento do mercado interno e de suas exportações e por investimentos que não deslancham. Assim, o PIB da indústria de transformação permanece 15% abaixo de seu pico atingido no 2º trim/13.
A construção, por sua vez, se contra em um quadro ainda mais dramático. Com a retração de 1% no 3º trim/18, já são 18 trimestres consecutivos de resultados negativos, período em que o setor encolheu quase 1/3 do que era. Diante da queda da construção e da desaceleração da indústria de transformação, a indústria total também apresentou resultados cada vez mais modestos em 2018 (+0,8% no 3º trim/18).
Outros importantes setores a perderem dinamismo foram comércio, cujo PIB cresceu mais de 4% do 3º trim/17 ao 1º trim/18, mas que agora chega a apenas 1,6% no 3º trim/18, e outras atividades de serviços, que reúne um conjunto amplo de atividades. Porém, outros segmentos do setor de serviços despontaram com os resultados mais robustos no 3º trim/18, como transportes (+2,9%) e atividades imobiliárias (+3,2%), ou vem registrando aceleração, como as atividades financeiras (+1% no 3º trim/18).
Assim, a desaceleração dos serviços como um todo pôde ser parcialmente amortecida, de modo a preservar a recuperação da economia. A melhora do desempenho da agropecuária, que cresceu 2,5% no 3º trim/18, também foi um fator favorável para o resultado geral do PIB.
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou, no terceiro trimestre de 2018, R$ 1,716 trilhão a preços correntes, apresentando crescimento de 0,8% na comparação com o trimestre anterior, a partir de dados dessazonalizados.
Com relação ao terceiro trimestre de 2017, houve incremento de 1,3%. No que se refere à oscilação do acumulado nos últimos três trimestres frente a igual período do ano anterior o crescimento aferido foi de 1,1%.
Ótica da oferta. Frente ao segundo trimestre de 2018, a partir de dados dessazonalizados, houve expansão de 0,7% no setor agropecuário, 0,4% no setor da indústria e 0,5% no setor de serviços.
Para os subsetores da indústria, na mesma comparação, houve variações positivas nos seguintes segmentos: indústria de transformação (0,8%), construção (0,7%) e extrativa mineral (0,7%). Em sentido oposto, apresentou retração a produção de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana (-1,1%).
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, apresentaram expansões os segmentos de transporte, armazenagem e correio (2,6%), comércio (1,2%), atividades imobiliárias e aluguel (1,0%), intermediação financeira e seguros (0,3%), serviços de informação (0,2%), outros serviços (0,2%) e administração, saúde e educação pública (0,1%).
Em relação ao terceiro trimestre de 2017, houve expansão no setor agropecuário de 2,9%, sendo que o setor industrial aferiu crescimento de 0,8% e o de serviços também obteve incremento de 1,2%.
Para os componentes do setor industrial, ainda frente ao mesmo trimestre do ano anterior, os segmentos que registram acréscimos foram: indústria de transformação (1,8%), produção e distribuição de eletricidade, gás e água (0,7%) e extração mineral (0,7%). Para o segmento da construção civil houve queda de 1,2%.
No setor de serviços, na mesma base de comparação, apresentaram expansão os segmentos de atividades imobiliárias e aluguel (3,1%), transporte, armazenagem e correios (3,0%), comércio (1,6%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,1%), serviços de informação (1,0%), outros serviços (0,6%). Administração, saúde e educação públicas manteve-se estável (0,0%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao segundo trimestre de 2018, para dados com ajuste sazonal, a Importação e Exportação variaram positivamente em 10,2% e 6,7%, respectivamente, e a formação bruta de capital fixo cresceu em 6,6%. Para o consumo das famílias houve crescimento de 0,6% e para consumo do governo registrou-se incremento de 0,3%.
Por fim, na comparação com o terceiro trimestre de 2017, a formação bruta de capital fixo variou positivamente em 7,8%, seguido pelo consumo das famílias (1,4%) e pelo consumo do governo (0,3%). Já o setor externo apresentou expansão nas exportações (2,6%) e nas importações (13,5%).