Análise IEDI
A desaceleração industrial por intensidade tecnológica
Não há dúvidas de que o terceiro trimestre de 2018 pouco ajudou a recuperação do setor industrial. Tanto os dados do PIB como os dados da produção física mostram uma patente desaceleração industrial ao longo dos três primeiros trimestres do ano. A contar pelo pífio resultado da produção em outubro, divulgado esta semana, esta trajetória cadente ainda não dá sinais de reversão.
A alta de 5,7% do PIB da indústria de transformação refluiu para apenas 1,6% no 4º trim/17 para o 3º trim/18. Já a produção física da indústria geral saiu de 5,9% para 1,2% no mesmo período e chegou a 1,1% em outubro. Face a esta perda de ímpeto, não causa surpresa que a retomada do emprego industrial, que havia registrado avanço de 4,6% no último quarto de 2017, regrediu para mera estabilidade em jul-set/18 ante mesmo período do ano anterior.
Na Carta IEDI a ser divulgada hoje, analisaremos como se comportaram neste processo de esmorecimento, até o terceiro trimestre de 2018, os diferentes ramos da indústria de transformação agrupados segundo seu nível de intensidade tecnológica, conforme a metodologia desenvolvida pela OCDE. Ao todo, o setor é dividido em quatro faixas: alta, média-alta, média-baixa e baixa intensidade tecnológica.
O movimento de desaceleração foi bastante generalizado, em maior ou menor intensidade, atingindo as quatro faixas identificadas. As principais contribuições negativas tiveram origem nos extremos, isto é, nos grupos de alta e de baixa intensidade, como resumido logo abaixo, enquanto na indústria de média-baixa intensidade tecnológica a desaceleração foi muito marginal.
A indústria de alta tecnologia, que havia registrado crescimento satisfatório na virada de 2017 (+8,4% no 4º trim.) para 2018 (+12,2% no 1º trim.), ficou virtualmente estagnada no terceiro trimestre deste ano, variando mero 0,2%. Este resultado foi produzido por quase todos os seus ramos. Apenas a indústria farmacêutica conseguiu avançar em jul-set/18 (+9,5%).
Material de escritório e informática, em contrapartida, recuou 1%, interrompendo uma sucessão de taxas de crescimento acima de 20% nos quatro trimestres anteriores. Já o ramo de equipamentos de rádio, TV e comunicação foi quem mais caiu em jul-set/18: -11,3%. Apesar destes recentes resultados pouco animadores, graças ao desempenho do começo do ano, a faixa de alta tecnologia acumula crescimento de 4,6% em jan-set/18, bastante acima da alta de 2,8% de 2017 como um todo.
Já a perda de ritmo da indústria de baixa intensidade tecnológica foi mais grave, pois a jogou de volta ao terreno negativo. Sua produção declinou -2,4% no 2º trim./18 e -3,8% agora no 3º trim./18 frente ao mesmo período do ano anterior. Por trás disso estão alimentos e bebidas (-2,5% e -6,8%, respectivamente) e têxteis, couro e calçados (-5% e -2,8%), isto é, ramos que são mais estreitamente relacionados ao emprego, que ainda tem muito a melhorar, e ao poder de compra da população, que em 2018 não vem recebendo a mesma ajuda da desaceleração inflacionária vista em 2017.
O quadro da baixa tecnologia só não é ainda mais grave porque conta com ramos tradicionalmente exportadores que continuam assegurando certo dinamismo positivo, como é o caso de madeira, papel e celulose, em alta desde a segunda metade do ano passado. Agora no 3º trim./18 registrou crescimento de +4,3%. Apesar disso, o quadro da baixa tecnologia no acumulado de jan-set/18 já é negativo novamente: -1,6%, o que contrasta com a alta de 2% em 2017.
Os grupos intermediários quanto à intensidade tecnológica são aqueles que vêm apresentando resultados mais consistentes. Coube à média-alta tecnologia o melhor resultado do 3º trim./18, com +7,1%, mas nem por isso deixou de registrar alguma desaceleração em relação ao final do ano passado, quando chegou a crescer 11,6% em out-dez.
A desaceleração da média-alta veio principalmente do ramo automobilístico, que ainda cresce bem, mas a metade do que crescia no último quatro de 2017: +13,4% em jul-set/18 contra +24,2% em out-dez/17. Ainda assim, 2018 caminha para ser um ano melhor (+7,2% para jan-set) do que 2017 (+5,8% para jan-dez).
Por fim, o grupo de média-baixa intensidade tecnológica por pouco não foge à regra geral, pois não deu grandes sinais de perda de dinamismo. Embora o primeiro trimestre de 2018 tenha sido desfavorável (-0,1%), sua produção voltou a crescer 3,2% no 3º trim./18, um ritmo não muito distante daquele do 4º trim./17 (+3,8%) ou do 2º trim./18 (+3,6%). Em jul-set/18 todos os seus componentes registraram variações positivas, notadamente produtos metálicos (+4,9%) e petróleo e combustíveis (+3,6%). Esta, que foi a única faixa a perder produção no ano passado (-0,9% jan-dez), agora cresce 2,3% no acumulado de 2018 até o mês de setembro.