Análise IEDI
Desaceleração também na indústria mundial
Relatório recente da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) mostra que não foi apenas a indústria brasileira quem perdeu ritmo em 2018. O dinamismo da produção manufatureira no mundo todo encolheu ao longo do ano, de +4,2% para +3,2% do primeiro ao terceiro trimestre de 2018 na comparação com igual período do ano anterior.
A desaceleração foi generalizada entre os grupos de países. Nas nações industrializadas, a taxa de variação da produção de manufaturas diminuiu de +2,9% em janeiro-março para +2,6% em abril-junho e então para +1,7% em julho-setembro de 2018. Nas economias em desenvolvimento e emergentes exceto China, a involução nos três primeiros trimestres de 2018 foi de: +4,8%, +3,6% e +3,0%, respectivamente.
Já a produção da indústria de transformação chinesa vem conservando sua vitalidade, com direito a uma pequena aceleração no segundo trimestre de 2018 (+6,4%) em relação ao resultado do primeiro trimestre (+6,3%). Agora no terceiro trimestre, entretanto, mais do que devolveu o ganho de velocidade, registrando variação de +6,1%.
Este comportamento da indústria mundial em julho-setembro de 2018 tem sido puxado sobretudo maioria dos grupos de países industrializados, notadamente pela Europa (+1,1% ante 3º trim/17) e pela Ásia do Leste (+0,7%), que perderam cerca de 2/3 de seu crescimento na passagem do 2º para o 3º trimestre de 2018.
Em contrapartida, a América do Norte assinalou maior velocidade, passando de +2,0% em abril-junho para +3,4% em julho-setembro. Contribuiu positivamente para isso o desempenho da indústria dos EUA, apoiado na expansão da demanda e nos incentivos fiscais concedidos pelo governo americano.
Dentre os emergentes, a América Latina manteve ritmo fraco de crescimento e abaixo da média mundial. Em julho-setembro de 2018, a produção dos países da região cresceu apenas +1,4% frente ao mesmo trimestre do ano anterior. Muito desta alta deveu-se à indústria do México (+2,7%), na esteira do crescimento dos EUA, mas também à da Colômbia (+3,4%) e Peru (+2,2%).
A indústria do Brasil (+1,6%) também ajudou no resultado da América Latina, já que ficou no positivo. Entretanto, assim como no caso do Chile (+1,5%) superou em muito pouco o ritmo agregado da região. Na contramão, a Argentina registrou queda dramática no 3º trimestre (-7,2%).
A partir de dados dos próprios países, da OCDE e Eurostat, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da produção indústria com 46 países para o acumulado jan-out de 2018. O Brasil ocupou a 32ª colocação, com um resultado de +1,6%. Ficou à frente de países importantes, como França (+1,4%), Reino Unido (+0,9%) e Coreia do Sul (+0,1%), mas muito abaixo do dinamismo referente à mediana da amostra considerada (+3,3%).
Do ponto de vista setorial, os dados da UNIDO monstram que as indústrias de média-alta e alta tecnologia, que estavam liderando o crescimento da produção de manufaturas mundial, foi quem concentrou o enfraquecimento dos resultados. Os efeitos negativos vieram, sobretudo, dos setores automobilísticos da Alemanha, Japão e China. Ainda assim, em julho-setembro de 2018, a indústria de média-alta e alta tecnologia continuou exibindo taxa de variação da produção (+4,2%) das mais elevadas dentre os grupos por intensidade tecnológica.
A indústria de transformação mundial no terceiro trimestre de 2018. De acordo com o relatório trimestral da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), no terceiro trimestre de 2018 o crescimento da produção manufatureira mundial desacelerou devido, sobretudo, às tensões sobre comércio e tarifas entre os Estados Unidos (EUA), União Europeia e China.
Em relação ao mesmo período do ano anterior, a produção da indústria de transformação cresceu 3,2% em julho-setembro de 2018, tendo sido 3,8% em abril-junho e 4,2% em janeiro-março deste ano. Já em comparação ao trimestre imediatamente anterior, já descontados os efeitos sazonais, o aumento foi de apenas 0,5% em julho-setembro de 2018.
A desaceleração se deu tanto nas economias industrializadas quanto nas economias em desenvolvimento e emergentes, e até mesmo na China. No caso das nações industrializadas, a taxa de variação da produção de manufaturas foi diminuindo ao longo do ano, de 2,9% em janeiro-março, 2,6% em abril-junho para 1,7% em julho-setembro, em comparação a igual período de 2017.
Nas economias em desenvolvimento e emergentes, excluindo a China, os três primeiros trimestres de 2018 apontaram crescimento de 4,8%, 3,6% e 3,0%. Já na China, a produção de manufaturas registrara leve aumento no segundo trimestre de 2018 (6,4%) em relação ao primeiro (6,3%), na comparação anual, porém, no terceiro trimestre desacelerou novamente (6,1%).
Economias industrializadas. A redução no ritmo de expansão da indústria de transformação desse grupo de países se deveu, essencialmente, às desacelerações nas economias industrializadas europeias e do Leste Asiático, que assinalaram, respectivamente, crescimento de 1,1% e 0,7% no terceiro trimestre de 2018 em relação ao mesmo período do ano passado. Por outro lado, na América do Norte, houve aceleração da produção de manufaturas, passando de 2,0% para 3,4% do segundo para o terceiro trimestre de 2018, na mesma comparação.
Essa expansão na América do Norte foi puxada pela indústria estadunidense, que contou com crescimento da demanda e incentivos fiscais. Já na Europa, a desaceleração da produção de manufaturas se deveu ao crescimento mais moderado da indústria de algumas das maiores economias da zona do Euro, como França, Espanha, Alemanha e Itália (que, inclusive, apontou taxa de variação negativa no terceiro trimestre de 2018, comparativamente a julho-setembro de 2017).
Fora da zona do Euro, os destaques positivos foram: Dinamarca (4,3%), Hungria (3,6%), República Tcheca (3,3%), Noruega (2,7%) e Rússia (2,4%). Por outro lado, o Reino Unido assinalou nova desaceleração na taxa de crescimento da produção de manufaturas (1,0%), associada ao Brexit.
Por fim, nas economias desenvolvidas do Leste Asiático, após 8 meses de aumento, a produção da indústria de transformação do Japão obteve variação negativa (-0,1%) em junho-setembro de 2018, relativamente a igual trimestre de 2017, devido principalmente aos severos choques climáticos (que forçaram até mesmo a interrupção da produção de alguns setores, principalmente da indústria automobilística). Já a produção manufatureira dos outros países do grupo apontou crescimento: Malásia 4,0%, Singapura 3,8%, Taiwan 2,7%, Hong Kong 1,4% e Coreia 1,0%.
Economias em desenvolvimento e emergentes. Apesar da pequena desaceleração na taxa de crescimento trimestral da indústria de transformação chinesa em julho-setembro de 2018 (6,1%, relativamente ao terceiro trimestre de 2017), a produção industrial manteve uma trajetória estável. Os setores que apresentam melhor desempenho foram: eletrônicos e computadores (13,2% em julho-setembro de 2018, na mesma comparação), metais básicos (8,1%) e máquinas e equipamentos (8,0%).
Nas demais economias em desenvolvimento da Ásia, o crescimento trimestral da produção de manufaturas ao longo do ano continuou expressivo, assinalando +4,4% no terceiro trimestre de 2018 relativamente a igual período de 2017. Em especial, neste trimestre a indústria de transformação da Índia cresceu 6,0% e da Indonésia, 5,1%.
Já na América Latina, a indústria de transformação manteve ritmo fraco de crescimento, abaixo da média mundial. Em julho-setembro de 2018, a produção dos países da região cresceu 1,4% vis-à-vis o mesmo trimestre do ano anterior, sob efeito da expansão na indústria de transformação mexicana (2,7%) - na esteira do crescimento dos EUA. Também apontaram elevação significativa a produção de manufaturas na Colômbia (3,4%) e Peru (2,2%). Em contraste, Brasil (1,6%) e Chile (1,5%) cresceram pouco e Argentina (-7,2%) apontou dramática queda na produção industrial, devido à sua crise econômica, que foi acompanhada de depreciação do peso e altas taxas de juros.
Finalmente, as economias emergentes da África apontaram crescimento da produção de manufaturas igual ao da América Latina (1,4%) no terceiro trimestre de 2018, devido principalmente ao fraco desempenho da indústria de transformação da África do Sul (1,5%). Já a indústria de transformação das economias em desenvolvimento do Leste Europeu cresceu a um ritmo mais forte (2,9%), bem como a da Grécia (2,8%). Este, porém, não foi o caso da Turquia (1,1%).
Análise setorial. Analisando-se os grupos de intensidade tecnológica, percebe-se que as indústrias de média-alta e alta tecnologia estavam liderando o crescimento da indústria de transformação mundial – de forma que sua desaceleração também explica o esfriamento do ritmo de crescimento total. Em julho-setembro de 2018, relativamente a igual período do ano anterior, esse grupo continua exibindo as taxas mais elevadas de variação da produção (4,2%). De acordo com a UNIDO, o menor ritmo de crescimento da produção de manufaturas de média-alta e alta intensidade tecnológicas teve origem principalmente no desempenho das indústrias automobilísticas da Alemanha, Japão e China.
Por outro lado, as indústrias de média intensidade tecnológica melhoraram seu desempenho no terceiro trimestre de 2018 (3,3%, relativamente a julho-setembro de 2017) devido principalmente ao crescimento da produção de aço na China (maior produtor mundial).
Tomando-se as médias mundiais, no terceiro trimestre de 2018 destacaram-se a indústria de equipamentos de escritório e computadores (7,7%), produtos farmacêuticos (6,4%), máquinas e equipamentos (4,8%) e metais básicos (4,6%). Em contraste, apontaram fraco crescimento têxteis (0,4%), produtos do papel (0,4%), publicação e impressão (0,3%), e móveis (0,2%).
Ranking Indústria Mundial. A partir dos dados coletados pela OCDE, Eurostat e pelo National Bureau of Statistics of China, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da indústria geral com 46 países para o acumulado dos dez primeiros meses de 2018. Para que o tamanho da amostra fosse o maior possível, optou-se por trabalhar apenas com as séries com ajuste sazonal, ainda que as comparações utilizadas sejam frente ao mesmo período do ano anterior. Usualmente, o IBGE calcula as comparações interanuais a partir das séries sem ajuste.
Cabe observar também que, em função da celeridade na divulgação dos dados da indústria pelos institutos de pesquisa estatística de cada país, o cômputo do resultado acumulado em 2018 para alguns casos considera um período menor, como janeiro-setembro, enquanto que para a maioria dos países, como o Brasil, o período de referência é janeiro-outubro. À medida que o ano avança, menos influência esse aspecto exerce sobre o ranking.
O dinamismo industrial do Brasil no período janeiro-outubro/18 foi modesto, chegando a +1,6%, depois de ter atingido +2,3% em igual acumulado no ano passado e +2,9% no acumulado dos doze meses de 2017.
Assim, o desempenho mais fraco de 2018, referente à metade do ritmo de crescimento mediano da amostra de países considerada, não foi suficiente para colocar o Brasil em posição de destaque no ranking internacional do setor: ficou na 32ª colocação. Ou seja, longe dos líderes da expansão industrial em 2018.
Serve, porém, de algum atenuante o fato de o Brasil ter se posicionado à frente de países importantes, tais como França (+1,4%), Espanha (+1,4%), Reino Unido (+0,9%) e Coreia do Sul (+0,1%). Dentre aqueles que estão melhores do que nós, encontramos: China (+6,4%), EUA (+4,0%), Alemanha (+2,5%), Japão (+1,8%) e Itália (+1,7%).