Análise IEDI
Crédito à indústria ainda travado
Segundo os dados divulgados hoje pelo Banco Central, as concessões de crédito no mês de novembro de 2018, já descontada a inflação medida pelo IPCA, mantiveram rota ascendente, variando +13,4% frente ao mesmo período do ano passado. Houve alta de magnitude semelhante tanto para as operações junto a famílias (+14,3%) como para os empréstimos corporativos (+12,1%).
Como já enfatizado em Análises anteriores, 2018 vem sendo marcado pela reativação do financiamento das empresas, ainda que as fontes oficiais de crédito, tais como o BNDES, não tenham ajudado em nada para esse desempenho. No acumulado de janeiro a novembro do presente ano, as concessões totais de crédito direcionado às pessoas jurídicas registraram retração real de -7,9% e no caso somente das concessões do BNDES a retração chegou a -16%.
Assim, com o crédito direcionado jogando contra, o estoque total de empréstimos da economia brasileira apenas parou de cair como proporção do PIB, não ensaiando, por ora, nenhuma reação. Depois de ter atingido 53,7% do PIB em dez/15, recuou sistematicamente para 46,4% em fev/18, patamar que ficou praticamente estável desde então.
Ainda em termos de estoque das operações, cujas variações refletem mais lentamente as mudanças nas condições de crédito que as variações das concessões, o financiamento às empresas estancou o movimento de contração visto nos anos anteriores. O saldo real dessas operações em nov/18 era 0,1% menor do que aquele de dez/17, contrastando fortemente com a evolução do estoque de empréstimos às famílias, que aumentou 8,1% em igual período.
Quando este quadro do crédito corporativo é analisado do ponto de vista setorial, fica evidente que ainda existe uma trava no financiamento da indústria. O saldo de empréstimos às empresas industriais em nov/18 ainda apontava retração no acumulado de 2018, enquanto outros grandes setores da economia já viam melhoras em sua condição de financiamento.
É isso que mostram as variações para o acumulado de 2018 até novembro do saldo de crédito total às empresas, já corrigido pela inflação, a seguir:
• Saldo crédito às empresas: -0,1% em nov/18 frente a dez/17;
• Saldo de crédito às empresas agropecuárias: +13,6%
• Saldo de crédito às empresas industriais: -4,4%
• Saldo de crédito às empresas do setor de serviços: +1,7% em igual comparação.
A retração de -4,4% do crédito à indústria em 2018 sucede dois anos seguidos de encolhimento em torno de -9,5% em cada um deles. Ou seja, o quadro não é tão adverso como já foi, mas, embora menores, as quedas continuam se acumulando. Dentre os ramos industriais, aqueles que enfrentam restrições mais severas no acesso ao crédito compreendem: construção, bens de consumo não duráveis, mineração e química e farmacêutica.
O financiamento à indústria poderia estar melhor se canais importantes de financiamento ao setor não estivessem obstruídos, como é notadamente o caso do BNDES. Outro fator a exercer uma pressão negativa sobre as empresas não apenas industriais, mas também de todos os outros setores é a resistência à baixa das taxas de juros.
A taxa média dos juros cobrados nos empréstimos corporativos em novembro de 2018 era de 20,3% ao ano em termos nominais, se consideramos apenas as operações livres, que sinalizam melhor nível de juros praticado no mercado. Este patamar não está muito distante daquele do final de 2017, de 21,6% a.a.
Ou seja, depois de intensa flexibilização da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central ao longo de 2017, sua manutenção em patamar historicamente baixo (6,5% a.a.) ao longo de quase 2018 todo não foi capaz de ensejar cortes maiores das taxas de empréstimos. O expressivo declínio da inadimplência nessas operações também sugere que houve espaço para isso, mas que não foi consumado.
Enquanto os juros nominais médios do crédito corporativo foram reduzidos em algo como 6% entre dez/17 e nov/18, a inadimplência dessas operações caiu cerca de 33% em igual período. Este grande descompasso não foi verificado, por exemplo, no caso do crédito às famílias, cuja taxa média de juros declinou 6,2% e inadimplência dessa carteira ficou 7,7% menor nesta mesma comparação.
Em outros termos, o conjunto de dados analisados anteriormente indica que, a despeito da melhora do crédito corporativo em 2018, ainda há avanços que precisam ser conquistados em 2019, como a recuperação dos empréstimos direcionados, retomada do acesso ao crédito pela indústria, redução do custo dos financiamentos corporativos, entre outros.
Os dados de crédito apresentados pelo Banco Central hoje aferiram que o saldo das operações alcançou R$ 3,2 trilhões em novembro, expansão de 1,1% frente ao mês anterior. O saldo de crédito a pessoas físicas cresceu em 1,4%, na comparação do mês com o mês anterior (R$1,8 trilhão), e a carteira de pessoas jurídicas aumentou 0,4%, alcançando R$1,4 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o saldo total de crédito manteve trajetória de crescimento, com acréscimo de 4,4% relativamente a novembro de 2017.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$ 1,714 bilhões, crescimento de 1,9% em relação ao mês anterior e expansão de 10,4% quando comparado com novembro de 2017. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$ 936,1 bilhões, aferindo incremento de 2,1% em relação ao mês imediatamente anterior e expansão de 10,4% quando comparado com o mês de novembro de 2017. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se R$ 778,7 bilhões, crescimento de 1,7% em frente a outubro e expansão de 10,3% na comparação com o mesmo período de 2017.
O estoque de crédito com recursos direcionados aferiu valor de R$ 1,487 bilhões para novembro, em termos nominais, indicando uma retração de 1,8% frente ao mesmo mês do ano anterior e acréscimo de 0,2% quando comparado ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$ 835,3 bilhões, incremento de 5,3% quando comparado ao mês de novembro de 2017. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 652,1 bilhões, retração de 9,6%.
Para o mês de novembro de 2018, foram concedidos R$ 330,0 bilhões em novas operações de crédito, expansão de 12,8% frente ao montante de R$ 292,5 bilhões observado em novembro de 2017. Deste volume, R$ 302,3 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 27,7 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, acréscimo de 13,2% para recursos livres e expansão de 9,1% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 133,8 bilhões), cartão de crédito (R$ 106,5 bilhões), crédito não rotativo (R$ 41,6 bilhões), cheque especial (R$ 31,8 bilhões) e crédito pessoal (R$ 24,6 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$ 28,4 bilhões), cheque especial (R$ 17,8 bilhões), conta garantida (R$ 16,1 bilhões) e capital de giro (R$ 15,9 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 7,5 bilhões), crédito rural (R$ 6,8 bilhões), BNDES (R$ 1,4 bilhão) e microcrédito (R$ 1,0 bilhão). Já para as empresas, as principais modalidades ficaram com o BNDES (R$ 4,7 bilhões), crédito rural (R$ 4,1 bilhões) o e financiamentos imobiliários (R$ 646 milhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 722,9 bilhões, o que significa um crescimento nominal de 4,3% frente a novembro de 2017, e as seguintes expansões: administração pública (6,1%), comércio geral (5,9%) e transporte (5,8%). Para o setor da indústria aferiu-se o valor de R$ 651,6 bilhões, decréscimo de 6,1% frente ao mesmo mês do ano anterior, e por fim, o setor agropecuário registrou crédito de R$ 24,4 bilhões, crescimento de 12,8% em termos nominais, na mesma base de comparação.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,6 trilhões, representando 51,7% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$ 1,0 trilhão, representando 33,6% e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 472,0 bilhões, representando por sua vez 14,7% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros. A taxa média de juros das contratações em novembro permaneceu estável relativamente ao mês anterior em 24,6% a.a. (-2,2 p.p. nos últimos doze meses). Na carteira livre, a taxa situou-se em 37,9% (-0,1 p.p. no mês), com redução de 0,3 p.p. em pessoas físicas (51,6%), destacando-se quedas no não consignado (-3,1 p.p.) e no financiamento de veículos (-0,7 p.p.). No crédito livre a empresas, a taxa de juros alcançou 20,3% a.a. (-0,1 p.p.). A taxa de juros do crédito livre, excluindo-se as operações rotativas, recuou 0,3 p.p., para 29,2% a.a.