Análise IEDI
Ainda em um quadro de crise
Em 2018, o emprego vem se distanciando dos piores momentos por que passou nos últimos anos, mas nem por isso deixou para trás um quadro de crise, dado o elevado contingente de pessoas que continuam buscando trabalho sem nenhum sucesso. Em outros termos, é nadar contra a corrente para pouco sair do lugar.
Segundo a Pnad Contínua do IBGE divulgada hoje, a taxa de desocupação recuou de 12,2% em agosto-outubro de 2017 para 11,7% no mesmo período de 2018. Este patamar, contudo, é praticamente o mesmo verificado em 2016 (11,8%), um ano de forte contração da economia brasileira.
Deste modo, ainda são nada menos que 12,3 milhões de pessoas sem uma ocupação no país. Sua reabsorção ao mercado de trabalho poderia ser muito mais rápida se o nível de atividade econômica, ao invés de perder ímpeto, como vimos em muitos setores, viesse ganhando robustez ao longo do ano.
Como resultado, a ocupação, que voltou a crescer desde meados do ano passado, não tem conseguido manter o mesmo ritmo de expansão com o avançar de 2018. O aumento de 2% no último quarto de 2017 refluiu para 1,5% no trimestre findo em out/18. Em outras palavras, existem entraves importantes para a recuperação do emprego que atingem algumas modalidades de ocupação mais do que outras.
Não há dúvidas de que o grande obstáculo a ser superado é a persistente contração do emprego formal. Desde o início de 2015 o número de ocupados com carteira assinada só declina e o resultado de 2018 caminha para fechar novamente no negativo, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Total de ocupados: +1,8% em jan-mar/18; +1,1% em abr-jun/18; +1,5% em jul-set/18 e +1,5% em ago-out/18
• Trabalho com carteira assinada: -1,5%; -1,5%; -1,0% e -1,1%, respectivamente;
• Trabalho sem carteira assinada: +5,2%; +3,4%; +5,5% e +5,9%;
• Trabalhado por conta própria: +3,8%; +2,5%; +2,6% e +2,9%, respectivamente.
Embora o ritmo de destruição do emprego com carteira assinada já não seja tão intenso quanto em anos anteriores, tampouco conseguiu entrar em uma trajetória consistentemente favorável, ou seja, de quedas cada vez menores. O resultado interanual de ago-out/18 (-1,1%) sugere que a desaceleração da queda de ocupados com carteira de -1,5% para -1% na virada do semestre pode não se sustentar.
Por sua vez, os tipos de ocupação que têm funcionado como motor da melhora gradativa do emprego no corrente ano não parecem estar plenamente em forma. O trabalho por conta própria, que grosso modo consiste nas atividades consideradas “bicos”, funcionando como uma via de escape à perda de empregos de melhor qualidade, já não crescem como antes.
O dinamismo no segmento por conta própria regrediu de um intervalo de +4,5% a +5,5% no final de 2017 e começo de 2018 para +2,9% no trimestre findo em out/18, sugerindo que há limites para se contornar o desemprego por meio destas ocupações.
Outra fonte importante na criação de vagas, o trabalho sem carteira assinada, permanece com um ritmo de crescimento em linha com suas melhores marcas desde que começou a se recuperar. A alta no trimestre móvel findo em out/18 foi 5,9% ante mesmo período do ano anterior.
Por mais que a resiliência do trabalho sem carteira seja um dado favorável, pois impede uma desaceleração ainda mais forte do aumento do total de ocupados, sabemos que os postos sem carteira garantem um rendimento menor e mais irregular à população, aspectos que restringem a reativação do consumo e, consequentemente, da economia como um todo.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação aferida no trimestre compreendido entre agosto e outubro de 2018 alcançou 11,7%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, maio a julho de 2018, houve queda de 0,7 p.p, e para o mesmo trimestre do ano anterior houve decréscimo de 0,5 p.p, quando registrou 12,2%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.230, apresentando expansão de 0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior (mai-jun-jul), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve incremento de 0,4%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 201,9 bilhões no trimestre que fechou em outubro, aferindo incremento de 1,4% frente ao trimestre imediatamente anterior e crescimento de 1,9% em relação ao mesmo trimestre de referência do ano anterior (R$198,1 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 92,9 milhões de pessoas, incremento de 1,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior (mai-jun-jul), e expansão de 1,5% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (91,5 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados decresceu em 4,0% com 12,3 milhões de pessoas, já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se queda de 3,1%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 105,2 milhões de pessoas, isto representa expansão de 0,7% frente ao trimestre imediatamente anterior e crescimento de 0,9% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram expansão da ocupação foram os seguintes: Outros serviços (8,9%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,4%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (2,3%), Alojamento e alimentação (1,8%), Indústria (1,3%), Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (1,0%), Transporte, armazenagem e correios (0,7%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,1%). De outro lado, os agrupamentos que apresentaram decréscimos na ocupação foram: Serviços domésticos (-0,4%) e Construção (-2,2%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, observamos expansões nas seguintes categorias: trabalho privado sem carteira (5,9%), empregador (4,7%), trabalhador por conta própria (2,8%), setor público (1,6%), trabalho familiar auxiliar (1,5%). Para o seguimento do trabalho doméstico registrou-se estabilidade, e para o segmento de trabalho privado com carteira retração de 1,1%.