Análise IEDI
Imobilismo industrial
Na segunda metade de 2018, a indústria deu alguns passos para trás em sua recuperação e quase nenhum para frente. Caiu em quatro dos cinco meses já conhecidos. Porém, o que caracteriza o período mais recente é que o setor praticamente não se move. Em um quadro já de baixo dinamismo, parece em compasso de espera das definições do novo governo, um comportamento que, inclusive, pode se prolongar para o início de 2019.
Depois de variar -0,1% em outubro, na série com ajuste sazonal, os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que o resultado de novembro foi positivo na mesma magnitude: +0,1% frente ao mês anterior. O imobilismo da indústria geral neste último mês foi produto de um placar setorial bastante desfavorável, já que 16 dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE ficaram no vermelho. Do ponto de vista de seus macrossetores foi ainda pior: apenas bens intermediários conseguiram crescer.
Resultado? O nível de produção em novembro encontrava-se 2,7% abaixo daquele de junho de 2018, indicando que, sem sombra de dúvida, o segundo semestre do ano foi frustrante. O acumulado de 2018, deste modo, caminha para um desempenho inferior ao de 2017. Em jan-nov/18 a alta é de +1,5% contra +2,6% em jan-dez/17 frente ao mesmo período do ano anterior. Ou seja, aquilo que já era pouco, ficou menor ainda.
Tão ou mais preocupante quanto o resultado agregado em 2018 é a trajetória que a indústria apresentou ao longo do ano. As variações interanuais abaixo mostram que, período após período, as forças do setor como um todo e de seus grandes segmentos foram se exaurindo, a ponto de voltaram a flertar com o terreno negativo no bimestre outubro-novembro.
• Indústria geral: +2,8% no 1º trim/18; +1,7% no 2º trim/18; +1,2% no 3º trim/18 e -0,1% em out-nov/18;
• Bens de Capital: +11,2%; +7,7%; +6,6% e +7,1%, respectivamente;
• Bens Intermediários: +1,7%; +0,6%; +0,7% e -1,0%;
• Bens de Consumo Duráveis: +17,0%; +11,3%; +7,1% e +1,6%;
• Bens de Consumo semi e não duráveis: 0%; +0,6%; -0,4% e -0,1%, respectivamente.
A deterioração é generalizada entre os macrossetores industriais, porém, é mais aguda em bens de consumo semi e não duráveis, que registraram retração no 3º trim/18 e, ao que tudo indica, também podem ficar no negativo no último quarto do ano. A reação conquistada em 2017 tem, assim, grandes chances de ser abortada. É isso que sugere o resultado acumulado em jan-nov/18: 0% frente ao mesmo período do ano passado.
A melhora pouco significativa do quadro do emprego, como temos visto, está cobrando seu preço e são os bens de consumo semi e não duráveis, cujos mercados são mais dependentes da renda corrente das famílias, quem parece estar pagando mais caro. Pertencem a este macrossetor os ramos com os maiores revezes em 2018, tais como alimentos (+1,2% em 2017 e -4,7% em jan-nov/18), têxteis (+5,6% e -1,7%, respectivamente), vestuário e confecção (+3,5% e -3,4%) e couros e calçados (+0,8% e -2,6%).
Em bens de consumo duráveis, o regresso não chegou a ser tão acentuado, muito provavelmente porque alguns de seus ramos são exportadores e porque, internamente, puderam contar com a continuidade da melhora das condições de crédito. De todo modo, foi o macrossetor a mais perder dinamismo ao longo de 2018, saindo de +17% no 1º trimestre para somente +1,6% em out-nov/18. E isso graças ao forte crescimento da indústria automobilística (+17,8% em 2017 e +14,5% em jan-nov/18); sem ela a involução dos duráveis poderia ter sido maior.
Influenciado pela desaceleração de bens de consumo duráveis e pelo declínio de semi e não duráveis, os bens intermediários registraram o pior resultado no bimestre out-nov (-1,0%) e caminham para um ritmo de crescimento em 2018 (+0,6% até nov.) de apenas 1/3 daquele de 2017 (+1,7%). Intermediários de alimentos, têxteis e derivados de petróleo estão em queda e, em alguns destes casos, não é de hoje.
Por outro lado, quem mostra um comportamento mais consistente são os bens de capital, que a despeito de uma desaceleração, mantiveram um crescimento razoável ao longo do ano e devem encerrar 2018 (+8,2% até nov.) com uma alta mais forte que a de 2017 (+6,6%). Vale sempre observar que este macrossetor foi um dos que mais perdeu na crise e que seu nível de produção atual permanece 34% abaixo do pico atingido em set/13. Ainda assim, tem reagido com algum vigor.
A partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de novembro divulgados hoje pelo IBGE, a produção da indústria nacional registrou crescimento de 0,1% frente ao mês de outubro de 2018 segundo dados livres de influência sazonal, interrompendo quatro meses seguidos de taxas negativas.
Em comparação a novembro de 2017, houve retração de 0,9%. Já para o acumulado do ano de 2018, o setor industrial aferiu aumento de 1,5% e para o acumulado de doze meses a expansão foi de 1,8%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, dos cinco segmentos analisados um apresentou variação positiva, sendo ele o segmento de bens intermediários (0,7%). Por outro lado, os demais segmentos apresentaram decréscimos: bens duráveis (-3,4%), bens de capital (-2,7%), bens de consumo (-0,4%), e bens semiduráveis e não duráveis ficou estável (0,0%).
O resultado observado na comparação com o mês de novembro de 2017 aponta incremento em um dos cinco segmentos, sendo ele: bens de capital (3,5%). Para os demais segmentos houve variações negativas: bens de consumo duráveis (-3,4%), bens intermediários (-1,4%), bens de consumo (-0,9%) e bens semiduráveis e não duráveis (-0,9%). Para o índice acumulado do ano, registrou-se incrementos em todos os segmentos: bens de consumo duráveis (9,5%), bens de capital (8,2%), bens de consumo (1,9%), bens intermediários (0,6%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,0%).
Setores. Frente a novembro de 2017, houve expansão no nível de produção em 14 dos 26 ramos pesquisados. Os maiores crescimentos forma observados nos seguintes segmentos: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (7,3%), produtos de fumo (6,5%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (5,9%), preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (4,0%), celulose, papel e produtos de papel (3,9%), fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria (3,4%), fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (2,3%). De outro lado, os seguintes segmentos apresentaram os decréscimos mais expressivos: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-11,4%), impressão e reprodução de gravações (-10,6%), fabricação de madeiras (-8,6%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-5,8%), outros produtos químicos (-5,0%) e produtos alimentícios (-5,0%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2018 frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou crescimento em 19 dos 26 ramos analisados sendo os maiores: veículos automotores, reboques e carrocerias (14,5%), celulose, papel e produtos de papel (5,8%), metalurgia (4,7%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (4,7%), máquinas e equipamentos (4,3%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (4,3%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (3,2%), produtos de madeira (2,5%), produtos de borracha e de material plástico (1,8%), sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal (1,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (1,1%) e móveis (0,9%). Para os demais segmentos registrou-se retrações: produtos alimentícios (-4,7%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,4%), produtos de fumo (-3,0%), preparação de couros, artigos de viagem e calçados (-2,6%), impressão e reprodução de gravações (-1,8%), produtos têxteis (-1,8%) e outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-0,9%).