Análise IEDI
Perda de ímpeto no eixo Rio-São Paulo
No final do ano passado, a indústria brasileira viveu tempos mais difíceis do que na virada de 2017 para 2018. Nesta semana, os dados do IBGE mostraram que o setor parou no bimestre de outubro-novembro, sugerindo aprofundamento da trajetória de desaceleração verificada ao longo de todo o ano. Hoje, é possível analisar o perfil regional deste movimento, que se exprime com mais gravidade em importantes parques industriais do país.
O resultado de +0,1% do total Brasil em novembro frente a outubro, já descontados os efeitos sazonais, foi acompanhado de perda de produção em 9 das 15 localidades pesquisadas pelo IBGE. Já a retração de -0,9% ante nov/17 atingiu 8 delas, entre as quais São Paulo (-3,4%) e Rio de Janeiro (-5,5%).
Deste modo, há quem esteja em um quadro razoavelmente pior do que o agregado da indústria nacional, cujo dinamismo refluiu de +5,1% no 4º trim/17 para -0,1% no bimestre out-nov/18, frente ao mesmo período do ano anterior. São os casos, em maior ou menor medida, de Amazonas, Mato Grosso, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo. De fato, a dissipação do ímpeto de recuperação do setor industrial ao longo de 2018 se deu com mais ênfase nos principais polos industriais do país, notadamente, no eixo Rio-São Paulo.
A indústria carioca, que havia crescido +7,6% no último quarto de 2017, operou em um patamar de crescimento bem abaixo disso nos períodos seguintes até acenar com uma nova retração no último trimestre de 2018, já que seu resultado interanual em out-nov/18 é de -4,2%. Com isso, cresce +2,0% em jan-nov/18 contra +4,0% em jan-dez/17, uma involução muito associada ao declínio da produção de bebidas (-13,5% em jan-nov/18), do setor extrativista (-1,7%) e de borracha e plástico (-7,8%).
São Paulo já se encontrava no vermelho e não parece ter saído de lá nos últimos meses do ano. Como mostram as variações interanuais abaixo, a queda da produção industrial paulista dá indícios de ter sido acentuada, ao retroceder -1,1% no 3º trim/18 e -3,2% em out-nov/18. Este é um quadro radicalmente distinto daquele do final de 2017, quando avançou +8,0% em out-dez.
• Brasil: +2,8% no 1º trim/18; +1,7% no 2º trim/18; +1,2% no 3º trim/18 e -0,1% em out-nov/18;
• São Paulo: +5,2%; +4,0%; -1,1% e -3,2%, respectivamente;
• Rio de Janeiro: +2,9%; +4,7%; 3,0% e -4,2%;
• Amazonas: +24,0%; +6,7%; -5,7% e +0,1%;
• Nordeste: -0,4%; -0,1%; +3,0% e +0,7%;
• Minas Gerais: -3,0%; -0,8%; -1,2% e +0,7%;
• Rio Grande do Sul: +0,8%; +0,4%; +12,3% e +13,9%, respectivamente.
O resultado disso é que a desaceleração paulista tem sido mais proeminente do que a da indústria nacional como um todo. Em jan-nov/18, frente a igual período do ano anterior, São Paulo acumula resultado de +1,3%, o que representa quase 1/3 da alta de +3,5% obtida em 2017. No caso do Brasil, a velocidade do crescimento recuou menos, passando de +2,6% em 2017 para +1,5% em 2018 até o mês de novembro.
Esta, porém, não é a única diferença no desempenho paulista. Há outro agravante que é a disseminação de quedas dentro seus ramos. No acumulado de jan-nov/18, metade dos ramos da indústria de São Paulo (50%) se encontra no negativo, de modo bastante acentuado em alimentos (-10%), vestuário e acessórios (-9,4%) e outros equipamentos de transporte (-9,4%). No total Brasil apenas 27% dos ramos acumulam perdas neste período.
Em outras palavras, São Paulo está no centro da frustração dos resultados da indústria. Rio de Janeiro e Minas Gerais também contribuíram para isso, mais recentemente no primeiro caso e principalmente no começo do ano no segundo caso. A indústria mineira acumula perda de -1,2% em jan-nov/18, mas parece ter caminhado para uma estabilização no final do ano (+0,7% em out-nov/18).
Em direção oposta ao núcleo industrial do Sudeste, Pará e Santa Catarina conseguiram preservar seus resultados em 2018, enquanto Amazonas, devido aos primeiros meses do ano, Nordeste e Rio Grande do Sul adicionaram vigor à sua recuperação. A indústria nordestina muito provavelmente evitará um quarto ano de perda de produção (+0,8% em jan-nov/18), sobretudo em função da reação de Pernambuco (+6,1%). O Rio Grande do Sul (+6,3%), por sua vez, reforçou seu desempenho na segunda metade de 2018, graças à produção de veículos e papel e celulose.
Na passagem de outubro para novembro de 2018, a produção industrial brasileira registrou expansão de 0,1%, a partir dos dados dessazonalizados. Entre os 15 locais pesquisados seis registraram variações positivas: Pernambuco (1,4%), Paraná (1,1%), Ceará (0,9%), São Paulo (0,7%), Minas Gerais (0,7%) e Rio Grande do Sul (0,4%). De outro lado, os estados que registraram retrações foram: Goiás (-6,2%), Amazonas (-3,5%), Rio de Janeiro (-2,2%), Pará (-1,3%), Bahia (-1,2%), Santa Catarina (-0,9%), Espírito Santo (-0,8%) e Mato Grosso (-0,4%).
Analisando em relação a novembro de 2017, registrou-se decréscimo de 0,9% da indústria nacional, sendo que 7 dos 15 locais pesquisados registraram crescimentos: Rio Grande do Sul (12,7%), Pará (8,3%), Espírito Santo (4,1%), Santa Catarina (3,6%), Ceará (2,9%), Pernambuco (1,2%) e Paraná (0,3%). Para os demais estados observaram-se variações negativas em: Goiás (-14,2%), Rio de Janeiro (-5,5%), São Paulo (-3,4%), Amazonas (-2,0%), Mato Grosso (-1,6%), Minas Gerais (-0,6%) e Bahia (-0,3%).
No acumulado do ano (janeiro a novembro de 2018) frente a igual período do ano anterior, observou-se crescimento de 1,5% em termos nacionais, com expansões da produção em 12 dos 15 estados pesquisados: Pará (9,9%), Rio Grande do Sul (6,3%), Pernambuco (6,1%), Amazonas (6,1%), Santa Catarina (4,3%), Paraná (2,1%), Rio de Janeiro (2,0%), São Paulo (1,3%), Nordeste (0,8%), Bahia (0,8%), Ceará (0,7%) e Mato Grosso (0,1%). Por outro lado, os estados que registraram decréscimos foram: Goiás (-4,7%), Espírito Santo (-1,3%) e Minas Gerais (-1,2%).
São Paulo. Na comparação com o mês de outubro de 2018, a produção da indústria paulista aferiu expansão de 0,7%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a novembro de 2017, houve retração de 3,4%. No entanto, analisando os dados acumulados de janeiro a novembro de 2018, registrou-se expansão de 1,3% e aferiu-se expansões nos seguintes setores: veículos automotores, reboques e carrocerias (13,0%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (9,5%), metalurgia (9,4%), máquinas e equipamentos (9,0%) e produtos de borracha e material plástico (4,0%). Por outro lado, os cinco setores que apresentaram decréscimos foram: produtos alimentícios (-10,0%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-9,4%), sabões, detergentes e produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene (-1,8%) e produtos têxteis (-1,3%).
Rio Grande do Sul. Na comparação com o mês de outubro de 2018, a produção da indústria Rio Grandense registrou expansão de 0,4%, a partir de dados dessazonalizados. Frente a novembro de 2017, houve incremento de 12,7%. No acumulado do ano, aferiu-se crescimento de 6,3% sendo que os setores com maiores contribuições positivas foram: celulose, papel e produtos de papel (40,4%), veículos automotores, reboques e carrocerias (27,4%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (11,6%), metalurgia (9,8%) e máquinas e equipamentos (6,8%). Por outro lado, os cinco demais setores que apresentaram decréscimos foram: bebidas (-5,8%), produtos de borracha e de metal plástico (-4,4%), outros produtos químicos (-2,9%), produtos de fumo (-2,3%) e produtos alimentícios (-0,8%).
Pernambuco. Na comparação com o mês de outubro de 2018, a produção da indústria pernambucana apresentou expansão de 1,4%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a novembro de 2017, houve incremento de 1,2%. Por fim, no acumulado do ano (janeiro a novembro de 2018) houve crescimento de 6,1%. Os setores que registraram os maiores crescimentos foram: produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (23,2%), sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene (15,2%), produtos de borracha e de material plástico (10,7%), produtos alimentícios (8,6%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (6,3%). Em sentido oposto, as maiores quedas se deram nos seguintes setores: produtos têxteis (-7,9%), metalurgia (-6,1%), outros produtos químicos (-6,0%) e celulose, papel e produtos de papel (-0,6%).