Análise IEDI
Avanço pouco significativo
Há claramente alguns movimentos de reativação do emprego do país, como bem mostram os dados da Pnad divulgados hoje pelo IBGE. A melhora, contudo, permanece bastante restrita e, ao longo de 2018, foi dando sinais de enfraquecendo. Por isso, sem nenhum pessimismo, a evolução recente do emprego deve ser vista com alguma cautela e pode não contribuir muito para o deslanchar da economia em 2019.
Em 2018, o número total de ocupados cresceu 1,3% frente à média de 2017, o que implica um reforço no desempenho registrado na passagem de 2016 para 2017, que havia sido de apenas +0,3%. Concorreram para isso, principalmente os primeiros meses de 2018. No 1º trimestre do ano foram ocupadas 1,6 milhão de pessoas a mais do que em igual período do ano anterior, número que caiu para 894 mil no último trimestre, como mostram abaixo as variações interanuais em milhares de pessoas.
• Ocupação total: +1,6 milhão no 1º trim/18; +1,0 milhão no 2º trim/18; +1,3 milhão no 3º trim/18 e +894 mil pessoas no 4º trim/18;
• Indústria: +232 mil; +143 mil; +38 mil e -141 mil, respectivamente;
• Construção: -280 mil; -170 mil; -82 mil; -121 mil;
• Comércio: +260 mil; -24 mil; +19 mil e -83 mil;
• Alojamento e alimentação: +283 mil; +133 mil; +137 mil e +148 mil;
• Info. com. atividades financeiras, imob. e profissionais: +129 mil; +88 mil; +110 mil e +215 mil;
• Outros serviços: +441 mil; +267 mil; +405 mil e +255 mil, respectivamente.
Este crescimento da ocupação ajudou a interromper a escalada da taxa de desemprego no país, que havia saído de 6,8% para 12,7% nas médias anuais de 2014 para 2017. Agora em 2018, ficou em 12,3%, o que na verdade representa mais uma estabilização do que efetivamente em um recuo da taxa de desemprego.
Porém, a criação de vagas não foi o único fator a gerar melhoras no quadro do emprego. Também contribuiu o fato de o número de pessoas em busca de trabalho ter ficado praticamente estável em 2018. Explica este comportamento um avanço importante do desalento, de +13,4% frente a 2017, o que não é um bom sinal, pois indica o quão difícil vem sendo encontrar um posto de trabalho nos últimos meses.
Além disso, mesmo que esteja na direção correta, a ampliação da ocupação foi acompanhada por um aumento não negligenciável de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas, isto é, que estão disponíveis e gostariam de ter uma jornada maior de trabalho. Para se ter uma ideia, entre 2017 e 2018 estes subocupados tiveram seu número acrescido de 662 mil pessoas (+11,1%), o que representa 54% do aumento do total de ocupados no período.
Este fator acima mencionado mais a trajetória de desaceleração da ocupação ao longo de 2018, bem como uma expansão contida do poder de compra da população decorrente do comportamento do rendimento real do trabalho, podem continuar dificultando a redinamização mais vigorosa do mercado interno de bens e serviços. Em comparação com o ano anterior, o aumento do rendimento real saiu de +2,3% em 2017 para apenas +0,6% em 2018. Com isso, o dinamismo da massa real de salários desacelerou de +2,6% para +2%.
De onde veio o avanço na ocupação em 2018? Principalmente daquelas ocupações de menor qualidade, o que não deixa de estar relacionado com a evolução da subocupação e do rendimento real mostrada anteriormente. Trabalho sem carteira avançou +4,5% frente a 2017 e por contra própria +2,9%. Juntas, adicionaram 1,1 milhão de ocupações (94% do total geral criado no período). Já o emprego com carteira caiu 1,2%, isto é, fechou 412 mil postos frente à média de 2017.
E a indústria, que alguns analistas acham que não tem relevância para a economia, foi fator decisivo para este quadro. O crescimento industrial minguou em 2018 e freou a criação de vagas pelo setor, cuja forma principal de contratação é com carteira assinada. O emprego total da indústria avançou +1,1% em 2017 e somente a metade disso em 2018: +0,6% frente ao ano anterior. Pior ainda foi sua evolução trimestral, pois voltou ao vermelho em out-dez/18: -1,2% ou -141 mil ocupados.
Outros setores onde a ocupação cresceu menos no ano passado foram comércio e reparação de serviços, que também teve o 4º trim/18 negativo (-0,5% ante 4º trim/17), alojamento e alimentação (+3,4% em 2018 contra +11,1% em 2017) e serviços de info., comunicação, financeiros, imobiliários e profissionais (+1,4% contra +3,3%).
Ficaram no negativo em 2017 e permaneceram assim em 2018, embora de forma menos aguda, os setores agropecuário (-6,5% em 2017 e -0,7% em 2018) e de construção (-6,2% e -2,4%, respectivamente). Em situação oposta, isto é, com reforço de resultado, podem ser citados: administração pública, defesa, educação, saúde e serviços sociais (-0,3% em 2017 e +3,4% em 2018) e outros serviços (+5,9% e +7,6%, respectivamente).
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido de outubro a dezembro de 2018 alcançou 11,6%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, julho a setembro de 2018, houve queda de 0,4 p.p, e para o mesmo trimestre de 2017 houve decréscimo de 0,2 p.p, quando registrou 11,8%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos alcançou R$ 2.254, apresentando incremento de 0,8% em relação ao trimestre imediatamente anterior (jul-ago-set), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve crescimento de 0,6%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 204,5 bilhões no trimestre que se encerrou em dezembro, registrando expansão de 1,3% frente ao trimestre imediatamente anterior e incremento de 1,7% quanto ao mesmo trimestre de 2017 (R$ 201,2 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada ficou em 93,0 milhões de pessoas, incremento de 0,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior (jul-ago-set), e aferiu-se expansão de 1,0% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (92,1 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados apresentou queda em 2,4% com 12,1 milhões de pessoas, já para a comparação com o mesmo trimestre de 2017 observou-se decréscimo de 0,9%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 105,1 milhões de pessoas, isto representou expansão de 0,1% frente ao trimestre imediatamente anterior e crescimento de 0,7% em relação ao mesmo trimestre de 2017.
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram expansão da ocupação foram: Outros serviços (5,4%), Transporte, armazenagem e correios (4,3%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,5%), Alojamento e alimentação (2,8%) e Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (2,1%). De outro lado, os agrupamentos que apresentaram variações negativas na ocupação foram: Serviços domésticos (-2,2%), Construção (-1,7%), Indústria (-1,2%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-0,5%) e Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-0,1%)
Por fim, a população ocupada por posição na ocupação, frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou expansões nas seguintes categorias: trabalho privado sem carteira (3,8%), trabalhador por conta própria (2,8%), empregador (2,8%) e setor público (1,4%). Para os demais seguimentos, registraram-se variações negativas: trabalho familiar auxiliar (-2,2%), trabalho doméstico (-1,5%) e trabalho privado com carteira (-1,0%).