Análise IEDI
Panorama setorial da indústria em 2018
Na passagem de 2017 para 2018, o ritmo da recuperação da indústria caiu pela metade e o número de segmentos industriais a perder o passo triplicou. Já aqueles que voltaram ao vermelho aumentou 20%. É o que mostra o levantamento realizado pelo IEDI, a partir dos dados do IBGE, com 93 segmentos da indústria de transformação, cujo balanço geral será sintetizado na presente Análise.
Com a recente divulgação pelo IBGE da pesquisa de produção física da indústria, tornou-se oficial aquilo que o IEDI vinha enfatizando desde os primeiros meses de 2018: a recuperação do setor teve continuidade, mas seu ímpeto foi progressivamente encolhendo. Assim, o avanço de +5% no 4º trim/17 se transformou em declínio de -1,1% no 4º trim/18 na comparação frente ao mesmo período do ano anterior. Como resultado disso, a alta no acumulado do ano passado chegou a mero +1,1%, depois de ter atingido +2,5% em 2017.
Esse movimento foi acompanhado por uma nova rodada de perda de produção em 13 dos 26 ramos industriais identificados na pesquisa do IBGE. A abertura mais desagregada utilizada nesta Análise IEDI permite avaliar o panorama industrial em 2018 como um todo de forma mais detalhada, ao considerar 93 segmentos manufatureiros.
Destes 93 segmentos, 50 registraram aumento de produção em 2018 (54% do total), mas uma parcela significativa de 43 (46%) segmentos ficou no vermelho. Em 2017, tinham sido 58 segmentos em alta e 35 em queda. Isto é, a proporção daqueles em retrocesso avançou 23% e aquela dos segmentos com crescimento recuou 14%, indicando que mais ramos industriais tiveram dificuldade de dar prosseguimento à saída da crise.
Um resumo em 10 pontos do levantamento, que também classificou os segmentos industriais em nove faixas segundo a vitalidade de seu crescimento na comparação com o ano anterior, segue abaixo:
1. Dentre os 50 segmentos com crescimento em 2018, 41 conseguiram um resultado melhor do que o da indústria total, ou seja, menos da metade (44%) do total conseguiu crescer mais de 1,1% em jan-dez/18. Em 2017, 45 segmentos (48%) cresceram mais do que o resultado geral do setor (+2,5%).
2. Embora pouco mais da metade dos segmentos tenham ficado no azul em 2018, nem por isso se livraram da desaceleração. Dos 93 segmentos, 53 registraram um resultado mais fraco do que aquele de 2017, ou seja, 57% do total. Esta proporção é mais do o triplo daquele de verificada em 2017.
3. 23 segmentos cresceram em 2017, mas voltaram para a faixa negativa em 2018. Dentre eles estão segmentos, de bens de capital, como máquinas e equipamentos de uso geral; de bens de consumo duráveis, como fogões, refrigeradores e máquinas de lavar e móveis; de bens de consumo semi e não duráveis, como calçados, confecção de vestuário, tecelagem, exceto malha; além de alguns intermediários, a exemplo de resinas e elastômeros, componentes eletrônicos e gases industriais.
4. Em contrapartida, apenas 39 segmentos (42%) se saíram melhor em 2018 do que no ano anterior. Este é um quadro radicalmente diferente daquele de 2017, quando 76 segmentos (82%) tiveram desempenho melhor do que em 2016. Isso dá ideia da amplitude do movimento recente de desaceleração.
5. Tomadas as faixas de nível de atividade, aquela de crise moderada, isto é, de recuo da produção entre -1% e -4% no acumulado de 2018, foi a mais representativa, com 24 ramos (25% do total). Esta faixa, que contava com apenas 14 segmentos (15%) em 2017, foi a que mais ganhou integrantes no ano passado.
6. Já as faixas identificadas como de crescimento intenso e expressivo, isto é, com resultados superiores a +7%, somaram 15 segmentos industriais (16% do total) em jan-dez/18. Este número é inferior àquele de 2017, quando 22 ramos (24%) registravam tal nível de dinamismo. Em outras palavras, ficou menor a parcela de segmentos na liderança da recuperação industrial em 2018.
7. Ainda mais desfavorável é o fato de que 10 dos 15 segmentos com crescimento intenso e expressivo mostraram desaceleração no 4º trim/18, isto é, 66% deles registraram um desempenho no final do ano inferior àquele de 2018 como um todo, não trazendo uma boa indicação para 2019.
8. Dentre os líderes de crescimento em 2018, estão ramos que acusaram retrações excepcionalmente elevadas durante a crise, a exemplo da indústria automobilística, especialmente cabines, carrocerias e reboques para veículos automotores (+60,7% ante 2017) e caminhões e ônibus (+37,2%); e de bens de capital, como máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e na construção (+18,3%), máquinas-ferramenta (+14%), tratores e máquinas agrícolas (+7,9%) e estruturas metálicas e obras de caldeiraria pesada (+7,5%), entre outros.
9. No extremo oposto, o número de segmentos em crise classificada como intensa, grave ou fulminante caiu de 17 (18%) em 2017 para 13 (14%) em 2018. Esta é uma boa notícia em meio ao desempenho bastante frustrante do ano passado.
10. Dentre esses 13 segmentos em crise de grande magnitude encontram-se integrantes da indústria química, como adubos e fertilizantes e químicos orgânicos; bens de capital, como tanques, reservatórios metálicos e caldeiraria, e sobretudo segmentos de bens de consumo semi e não duráveis: conservas de frutas, legumes e vegetais, fabricação e refino de açúcar, brinquedos e jogos recreativos, artigos de malharia e tricotagem etc.
Um comentário final cabe àqueles setores que somam nada menos do que 5 anos consecutivos de crise. Nestes casos são os efeitos cumulativos do período como um todo, mais do que a intensidade das perdas em um ano específico, que colocam em risco a continuidade de suas atividades. Encontram-se nesta situação, por exemplo, outros equipamentos de transporte, exceto veículos; cimento; equipamentos para distribuição e controle de energia elétrica; geradores, transformadores e motores elétricos; tecidos de malha; tubos e acessórios de material plástico para construção etc.