Análise IEDI
O entrave dos juros
O ano de 2019 começou preservando o movimento de restauração das condições de financiamento da economia, com destaque positivo inclusive para o crédito direcionado às empresas, modalidade que vinha sistematicamente em contração até muito recentemente. O grande limitador da melhora do crédito em geral tem sido os juros cobrados nas operações, que pararam de ceder.
As concessões totais de empréstimos em janeiro deste ano, já descontada a inflação medida pelo IPCA, registraram avanço de +9,9% frente a jan/18. Como tem sido a regra desde o início da recuperação do crédito, quem mais contribuiu para o crescimento foram as operações com condições livremente pactuadas entre as partes, isto é, o crédito livre: +10,6% na mesma comparação. O crédito direcionado, por sua vez, variou apenas +1%.
Embora fraco, este resultado de +1% dos empréstimos oficiais foi possível devido à expansão de +15,9% das operações junto às empresas, alavancadas pelos desembolsos do BNDES. Esta foi a terceira taxa positiva para esta modalidade de financiamento corporativo, que apresentou uma sucessão de variações negativas do final de 2014 até outubro de 2018. A base de comparação muito baixa é o que explica a expansão de dois dígitos agora em janeiro de 2019.
Como mostram as variações interanuais a seguir, as fontes oficiais não contribuíram mais para disponibilizar crédito ao sistema econômico, em janeiro último, devido às operações contratadas por pessoas físicas. Neste caso, quem apresentou retração foram as concessões de crédito imobiliário e as de crédito rural.
• Concessões reais do crédito direcionado total: +9,6% em nov/18; +15,1% em dez/18 e +1% em em/19;
• Concessões reais do crédito direcionado às empresas: +5,3%; +19,5% e +15,9%, respectivamente;
• Concessões reais do crédito direcionado às famílias: +12,6%; +10,2% e -7,7%;
• Concessões reais do crédito livre total: +13,4%; +10,2% e +10,6%;
• Concessões reais do crédito livre às empresas: +12,0%; +8,1% e +13,5%;
• Concessões reais do crédito livre às famílias: +14,5%; +12,2% e +8,6%, respectivamente.
Embora na liderança, a expansão recente do crédito livre vem sendo restringida pelo comportamento das taxas de juros praticadas nestas operações. Em janeiro de 2019, a taxa média destes empréstimos às empresas ficou em 20,2% ao ano, em termos nominais, praticamente o mesmo patamar registrado desde abril do ano passado. A média dos juros de abr/18 a dez/18 foi de 20,3% a.a.
Ou seja, para as empresas, há muitos meses os juros não saem do lugar, embora a inadimplência venha em trajetória cadente: de 4,1% em abr/18 para 2,9% em jan/19. Como os juros pararam de melhorar, as concessões livres às empresas cresceram menos. Segundo a média móvel trimestral, o resultado frente ao mesmo período do ano anterior dessas operações recuou de +20,7% para +10,9% de abr/18 para jan/19.
Do lado das famílias, algo semelhante também ocorreu. As taxas médias de juros interromperam seu movimento de redução sistemática a partir de julho de 2018. Deste mês até dezembro a média dos juros nominais ficou em 51,3% a.a., o mesmo patamar de jan/19 (51,4% a.a.). A inadimplência saiu de 5% para 4,8% neste período.
As concessões reais de crédito livre às famílias, contudo, não refluíram. Mantiveram o ritmo relativamente estável de crescimento, pouco acima de +10% na média móvel trimestral frente ao mesmo período do ano anterior (+11,8% em jan/19). Ajudou para isso a expansão registrada na virada do ano do crédito pessoal não consignado e de cartões de crédito, uma modalidade que, como sabemos, é cara e pode facilmente levar a um endividamento não desejável face a imprevistos.
Os dados de crédito apresentados pelo Banco Central hoje registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,2 trilhões em janeiro, retração de 0,9% no mês. O saldo de crédito a pessoas físicas aumentou em 0,6%, na comparação do mês com o mês anterior (R$ 1,8 trilhão), e na carteira de pessoas jurídicas houve queda de 2,7%, alcançando R$ 1,4 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o saldo total de crédito manteve trajetória de crescimento, com variação positiva de 5,0% relativamente a janeiro de 2018.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$ 1,743 bilhões, decréscimo de 1,0% em relação ao mês anterior e variação positiva de 10,8% quando comparado com janeiro de 2018. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$ 957,8 bilhões, aferindo acréscimo de 1,1% em relação ao mês imediatamente anterior e incremento de 11,4% quando comparado com o mês de janeiro de 2018. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se R$ 785,8 bilhões, decréscimo de 3,4% em relação ao mês anterior e expansão de 10,1% na comparação com o mesmo período de 2018.
O estoque de crédito com recursos direcionados aferiu valor de R$ 1,488 bilhões para janeiro, em termos nominais, indicando uma retração de 0,8% frente ao mesmo mês do ano anterior e queda de 1,0% quando comparado ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$ 849,1 bilhões, expansão de 5,3% quando comparado ao mês de janeiro de 2018. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 639,6 bilhões, decréscimo de 8,3%.
Para o mês de janeiro de 2018, foram concedidos R$ 305,4 bilhões em novas operações de crédito, expansão de 10,0% frente ao montante de R$ 277,7 bilhões observado em janeiro de 2018. Deste volume, R$ 286,7 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 18,8 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, acréscimo de 10,7% para recursos livres e crescimento de 1,1% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 124,6 bilhões), cartão de crédito (R$ 97,8 bilhões), crédito não rotativo (R$ 43,3 bilhões), cheque especial (R$ 31,0 bilhões) e crédito pessoal (R$ 27,3 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$ 22,4 bilhões), cheque especial (R$ 19,0bilhões), conta garantida (R$ 16,4 bilhões) e capital de giro (R$ 13,7 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 5,7 bilhões), crédito rural (R$ 3,1 bilhões), BNDES (R$ 1,1 bilhão) e microcrédito (R$ 900 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o BNDES (R$ 4,7 bilhões), crédito rural (R$ 2,1 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 500 milhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 721,5 bilhões, o que significa um crescimento nominal de 4,4% frente a janeiro de 2018, e as maiores expansões foram em meios aquaviário e aéreo (12,7%), serviços de informação e comunicação (12,1%), bens de capital (11,4%) e veículos automotores (8,8%). Para o setor da indústria aferiu-se o valor de R$ 477,9 bilhões, decréscimo de 3,4% frente ao mesmo mês do ano anterior, e por fim, o setor agropecuário registrou crédito de R$ 23,1 bilhões, incremento de 3,6% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mesmo mês de janeiro de 2018.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,6 trilhões, representando 51,2% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$ 1,0 trilhão, representando 34,1% e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 475,7 bilhões, representando por sua vez 14,7% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das concessões de janeiro cresceu 1,5 p.p., para 24,7% e diminuiu 1,5 p.p. nos últimos doze meses. Na carteira livre, a taxa alcançou 37,7%, aumento de 2,1 p.p. no mês, e elevação de 2,5 p.p. para pessoas físicas (51,4%), refletindo elevações em modalidades com participação mais significativa na carteira, tais como não consignado (+9,2 p.p.), veículos (+0,7 p.p.).