Análise IEDI
Corrente de comércio em baixa
Segundo os dados da balança comercial divulgados hoje, o saldo de fevereiro de 2019 foi superavitário em US$ 3,7 bilhões, registrando alta de 10,2% sobre o mesmo mês do ano passado. Isso, contudo, foi obtido ao custo de uma menor corrente de comércio, já que tanto as exportações (-15,8%) como as importações (-21,2%) recuaram em relação a um ano antes.
De fato, este início de 2019 tem sido marcado por um declínio da corrente de comércio. Isso tem se dado devido à influência de fluxos envolvendo plataformas de petróleo, cuja contabilização vem sendo alterada pelas novas regras do Repetro. No primeiro bimestre do ano, a corrente de comércio (US$ 63,9 bilhões) registrou retração de 3,5% frente ao mesmo período do ano anterior, devido a recuos de mesma intensidade em exportações e importações.
No acumulado de janeiro-fevereiro, as exportações (US$ 34,9 bilhões) foram, pela média diária, 3,6% menores do que no mesmo período de 2018, devido basicamente aos produtos industrializados, sejam eles manufaturados ou semimanufaturados, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Exportações totais: +13,3% no 1º bim/18 e -3,6% no 1º bim/19
• Exportações de produtos básicos: +1,6% e +10,4%, respectivamente
• Exportações de semimanufaturados: +1,7% e -4,6%
• Exportações de manufaturados: +34% e -11,4%, respectivamente.
As vendas externas de manufaturados foi quem mais retrocedeu: -11,4%, segundo as médias por dia útil frente a igual período do ano anterior. Além das plataformas de petróleo e outros ramos, houve diminuição principalmente na indústria automobilística, sintoma de que os efeitos negativos da crise argentina continuam presentes: automóveis de passageiros (-46,2%), veículos de carga (-37,1%), autopeças (-25,5%), motores para veículos e partes (-5,5%) e pneumáticos (-3,9%).
Em direção oposta, os produtos básicos mantiveram desempenho positivo. Avançaram 10,4%, pela média diária, devido às vendas externas de soja em grãos (+70,52%), milho em grão (+48,6%), algodão em bruto (+43,9%) e minério de ferro (+10,5%). Semimanufaturados, por sua vez, também ficaram no negativo, sobretudo em função de óleo de soja em bruto (-64,4%) e açúcar em bruto (-31,7%). De todo modo, semimanufaturados caíram menos do que manufaturados (-4,6% frente ao 1º bim/18).
Já as importações do primeiro bimestre de 2019 (US$ 29 bilhões) registraram resultado 3,5% menor do que em igual período de 2018, segundo as médias diárias. Tal desempenho foi condicionado pelas compras externas de combustíveis e lubrificantes (-22,8%) e por bens de consumo (-7,2%), sobretudo duráveis (-11,9%). Isso pode estar sinalizando uma fraca evolução da demanda doméstica neste início de ano.
Em contraste, as importações de bens de capital (+2%) e de bens intermediários (+0,5%) permaneceram no campo positivo, mas tiveram pequenas variações em relação ao ano passado.
Conforme os dados divulgados pelo Ministério da Economia, no mês de fevereiro de 2019 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 3,673 bilhões, expansão de 10,2%, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês, ao alcançado no mesmo período do ano anterior, US$ 2,999 bilhões.
As exportações alcançaram a valor de US$ 16,293 bilhões, representando retração de 15,8% em relação a fevereiro de 2018, pela média diária. As importações totalizaram US$ 12,620 bilhões, o que significou um decréscimo de 21,2% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
Para o mês de fevereiro de 2019, as médias diárias das exportações registram US$ 814,7 e importações registradas ficaram em US$ 631,0 milhões.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$ 8,363 bilhões no período, incremento de 22,5% em comparação a fevereiro de 2018. Os produtos industrializados alcançaram o valor de US$ 7,930, retração de 22,1% quando comparado a fevereiro de 2018, os manufaturados aferiram US$ 5,956 bilhões, representando por sua vez decréscimo de 32,3% na mesma base de comparação anterior e os semimanufaturados somaram US$ 1,974 bilhões, variação negativa de 21,2%, ainda na comparação com fevereiro de 2018.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com fevereiro de 2018 registrou-se expansão em um dos quatro segmentos analisados: produtos básicos (10,2%). Por outro lado, os demais segmentos apresentaram retração, sendo eles: operações especiais (-99,7%), bens manufaturados (-32,3%), produtos semimanufaturados (-21,2%) e produtos básicos (10,2%).
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com fevereiro de 2018, houve aumento de receita de: soja em grão (+81,6%, para US$ 2,2 bilhões), algodão (+44,5%, para US$ 149 milhões), milho em grãos (+39,3%, para US$ 310 milhões), fumo em folhas (+18,6%, para US$ 196 milhões), minério de ferro (+9,4%, para US$ 1,5 bilhão), café em grãos (+1,7%, para US$ 409 milhões).
No grupo dos manufaturados, quando comparado com fevereiro de 2018, houve diminuição principalmente em: plataformas para extração de petróleo (de US$ 1,5 bilhão para US$ 0,00), veículos de carga (-56,3%, para US$ 95 milhões), automóveis de passageiros (-46,6%, para US$ 369 milhões), máquinas p/terraplanagem (-39,7%, para US$ 148 milhões), autopeças (-25,6%, para 159 milhões), óxidos e hidróxidos de alumínio (-21,2%, para US$ 166 milhões), polímeros plásticos (-19,7%, para US$ 130 milhões), óleos combustíveis (-12,3%, para US$ 202 milhões), pneumáticos (-8,2%, para US$ 99 milhões) e laminados planos de ferro/aço (-0,7%, para US$ 142 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, ainda quando comparado com fevereiro de 2018, as maiores quedas ocorreram nas vendas de: óleo de soja (-76,5%, para US$ 25 milhões), ferro fundido (-43,1%, para US$ 43 milhões), couros e peles (-30,8%, para US$ 111 milhões), açúcar em bruto (-26,6%, para US$ 295 milhões), semimanufaturados de ferro/aço (-22,5%, para US$ 260 milhões), ferro-ligas (-22,4%, para US$ 185 milhões) e celulose (-17,5%, para US$ 600 milhões).
Ao analisar os mercados compradores, caíram as vendas para os seguintes destinos: América Central e Caribe (-46,0%, por conta de pisos e revestimentos cerâmicos, petróleo em bruto, celulose, farelo de soja, arroz em grãos, papel/cartão p/escrita/impressão, máquinas e aparelhos p/terraplanagem, madeira compensada ou contraplacada), União Europeia (-43,9%, por conta de plataforma para extração de petróleo, minério de cobre, minério de ferro, soja em grãos, aviões, ferro-ligas, gasolina, tubos de ferro fundido, farelo de soja, suco de laranja congelado), Mercosul (-40,1%, sendo que para a Argentina retrocedeu 47,1%, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, tratores, autopeças, máquinas e aparelhos p/uso agrícola, semimanufaturados de ferro/aço, máquinas e aparelhos p/terraplanagem, minério de ferro, polímeros plásticos, chassis com motor p/automóveis, pneumáticos), África (-19,6%, em decorrência de açúcar refinado, tratores, carne bovina, óleos combustíveis, chassis com motor p/automóveis, coque e betume de petróleo, tubos de ferro fundido, óxidos e hidróxidos de alumínio) e Oriente Médio (-3,5%, principalmente por milho em grãos, açúcar refinado, açúcar em bruto, chassis com motor p/automóveis, automóveis de passageiros, fornos industriais ou da laboratórios, pedras preciosas em bruto).
Por outro lado, ampliaram-se as vendas para os seguintes destinos: Ásia (+11,7%, sendo que a China, Hong Kong e Macau cresceram 17,1%, para US$ 4,6 bilhões, por conta de soja em grãos, minério de ferro, minério de cobre, fumo em folhas, algodão em bruto, minério de manganês, compostos de funções nitrogenadas, madeira em estilhas, mármores e granitos, em bruto, óleos combustíveis), Oceania (+9,4%, por conta de óleos combustíveis, ônibus e outros veículos p/ mais de 10 pessoas, celulose, máquinas e aparelhos p/uso agrícola, pneumáticos, bombas, compressores e partes, café solúvel), Estados Unidos (+4,7%, por conta de petróleo em bruto, partes de motores e turbinas para aviação, aviões, gasolina, suco de laranja não congelado, celulose, etanol, motores e geradores elétricos, polímeros plásticos, minério de ferro).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 12,620 bilhões importados em fevereiro, US$ 7,995 bilhões foram de bens intermediários, US$ 2,000 bilhões de bens de consumo, US$ 1,383 bilhões de bens de capital e combustíveis e lubrificantes foram US$ 1,237 bilhão.
Na comparação frente ao mesmo período de 2018, considerando a média diária, houve retração em todos os quatro segmentos analisados das importações, puxado por bens de capital (-61,9%), combustíveis e lubrificantes (-34,3%), bens de consumo (-11,4%) e bens intermediários (-2,9%).
Destaques importações. Com relação ao grupo dos combustíveis e lubrificantes a retração ocorreu principalmente pela queda de gasóleo (óleo diesel), petróleo em bruto, propanos liquefeitos, gasolinas, exceto para aviação, gás natural liquefeito.
No segmento bens intermediários, houve queda nas aquisições de hidróxido de sódio em solução aquosa, partes e acessórios de carrocerias para veículos automóveis, partes para aparelhos de telefonia/telegrafia, memórias digitais montadas, sulfetos de minério de zinco, álcool etílico, circuitos integrados, partes para aparelhos receptores de radiodifusão e televisão, catodos de cobre refinado.
No segmento de bens de capital, caíram, principalmente, barcos-faróis/guindastes/docas/diques flutuantes, fornos industriais, motores elétricos de corrente alternada, quadros aparelho interruptor de circuito elétrico, máquinas e aparelhos autopropulsados, escavadoras, máquinas e aparelhos de elevação de carga e descarga, máquinas e aparelhos elétricos com função própria, aparelhos de eletrodiagnóstico.
No grupo dos bens de consumo, as principais quedas foram observadas nas importações de automóveis, produtos imunológicos em doses, medicamentos com anfotericina B a base de lipossomas, calçados de matéria têxtil com sola de borracha/plástico, medicamento com ciclosporina, medicamentos com hormônio de crescimento, terminais portáteis de telefonia celular.
Por fim, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação fevereiro 2019/2018, diminuíram as compras originárias dos principais mercados, a saber: América Central e Caribe (-49,8%, por conta de gás natural liquefeito, produtos semimanufaturados de ferro/aço, artigos e aparelhos de prótese ortopédica, arroz em grão, compostos heterocíclicos, amônia, alumínio em desperdícios e resíduos, obras de plástico, chumbo em bruto); União Europeia (-15,6%, por conta de óleos combustíveis, partes e peças para veículos automóveis e tratores, gasolina, automóveis de passageiros, paládio em formas brutas ou semimanufaturados ou em pó, partes de motores e turbinas para aviação, motores, geradores e transformadores elétricos, maquinas e aparelhos de terraplanagem e perfuração, motores para veículos automóveis e suas partes, fornos industriais ou de laboratório, não elétricos, medicamentos para medicina humana e veterinária, quadros e painéis com aparelhos para comendo e distribuição de energia); Estados Unidos (-12,4%, por conta de óleos combustíveis, gás propano liquefeito, gasolina, hidróxido de sódio, petróleo em bruto, partes e peças para veículos automóveis e tratores, etanol, coque de petróleo, instrumentos e aparelhos de medida, de verificação, maquinas e aparelhos de terraplanagem e perfuração, álcoois acíclicos e derivados halogenados, gás butano liquefeito); Ásia (-9,7%, sendo que a China, Hong Kong e Macau reduziram 4,2%, por conta de hormônios naturais, partes de aparelhos transmissores ou receptores, coques e semicoques de hulha, partes e acessórios de maquinas automáticas para processamento de dados, obras de alumínio, aparelhos transmissores/receptores de telefonia celular, tripas de animais, bombas, compressores, ventiladores, vitamina "e" e seus derivados, antibióticos, vitamina c (ácido ascórbico) e derivados); Oriente Médio (-3,9%, por conta de petróleo em bruto, enxofre, álcoois acíclicos e derivados halogenados, ureia mesmo em solução aquosa, chumbo em bruto, maquinas e aparelhos para impressão tipográfica ou por offset, alumínio em bruto, desperdícios e resíduos de cobre); África (-0,5%, por conta de petróleo em bruto, gás natural liquefeito, gás propano liquefeito, catodos de cobre e seus elementos, adubos e fertilizantes, minérios de alumínio e concentrados, medicamentos para medicina humana e veterinária, barras, perfis, fios, chapas, folhas e tiras de alumínio, platina em formas brutas ou semimanufaturados ou em pó).
Em sentido oposto, aumentaram as compras originárias dos seguintes mercados: Oceania (+74,5%, por conta de hulhas, ácidos carboxílicos, máquinas e aparelhos para encher, fechar e empacotar, inseticidas, formicidas e herbicidas); Mercosul (+7,6%, sendo que da Argentina cresceu 7,6%, por conta de trigo em grão, veículos de carga, naftas, cevada em grão, alumínio em bruto, malte inteiro ou partido, não torrado, leite e creme de leite concentrado/adicionado de açúcar, feijão preto em grão, polímeros plásticos).