Análise IEDI
São Paulo no centro do retrocesso industrial
A virada de 2018 para 2019 levou a indústria brasileira de volta ao vermelho. Por três meses seguidos, inclusive janeiro do corrente ano (-2,6% ante jan/18), o setor perde produção, em um movimento relativamente difundido pelo país, mas que é liderado por seus principais parques regionais, como mostram os dados divulgados hoje pelo IBGE.
São Paulo se destaca por apresentar um quadro ainda mais adverso que o total Brasil. Na comparação frente ao mesmo período do ano anterior, há quedas sistemáticas desde setembro do ano passado, isto é, nos últimos cinco meses. Para uma economia industrial tão dependente de São Paulo, diante desta evolução, o resultado para o agregado do país não poderia ser outro que não uma nova etapa recessiva.
Mas não é apenas a sequência de variações negativas que preocupa. Outros aspectos que chamam atenção são: a força nada desprezível com que a indústria paulista pisou no freio (-5,3% em jan/19 ante jan/18, por exemplo) e a disseminação das quedas dentre seus ramos (em média, 67% deles entre nov/18 e jan/19), sobretudo alimentos, informática e eletrônicos, veículos e outros equipamentos de transporte.
Outras localidades também têm se saído mal nos últimos meses. Ainda na comparação interanual, 10 das 15 localidades pesquisadas pelo IBGE registraram resultados negativos em jan/19, mas houve casos reincidentes, como mostram as variações abaixo:
• Brasil total: -1,0% em nov/18; -3,6% em dez/18 e -2,6% em jan/19;
• São Paulo: -3,6%; -5,4% e -5,3%, respectivamente;
• Rio de Janeiro: -5,3%; -0,3% e -1,5%;
• Nordeste: -1,7%; -6,2% e -5,7%;
• Amazonas: -2,0%; -10,8% e -10,5%;
• Rio Grande do Sul: +12,2%; -2,2% e +5,7%, respectivamente.
Assim como São Paulo, o Rio de Janeiro também só apresentou retração desde set/18, embora em intensidade menor. Agora em janeiro de 2019, a perda de produção foi de -1,5% frente ao mesmo mês do ano passado. Com as indústrias paulista e carioca no vermelho, assim como a do Espírito Santo, e Minas Gerais crescendo pouco, a região Sudeste está no centro do recente retrocesso industrial do país.
Há, contudo, forças adicionais a puxarem a indústria brasileira para baixo. É o caso do Nordeste, com três meses consecutivos de perda (-5,7% em jan/19 ante jan/18), e também do Amazonas, em situação ainda pior: à exceção de out/18 (+2,2%), vem caindo desde agosto do ano passado, atingindo um resultado de nada menos do que -10,5% em jan/19.
Se o Sudeste e o Nordeste claramente contribuíram para a interrupção da recuperação industrial, a região Sul, por sua vez, caminhou na direção oposta. Ainda que alguns de seus estados tenham passado recentemente por períodos de menor dinamismo, vêm conseguindo com certo sucesso preservar resultados positivos, desde que saíram da crise no final de 2016. Em janeiro de 2019, Paraná cresceu +8,1%, Rio Grande do Sul +5,7% e Santa Catarina +1,2% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Na passagem de dezembro para janeiro de 2019, a produção industrial brasileira registrou recuo de 0,8%, a partir dos dados dessazonalizados. Entre os 15 locais pesquisados nove registraram incremento: Amazonas (5,2%), Pernambuco (3,0%), Rio Grande do Sul (2,6%), Goiás (2,6%), Pará (1,7%), Nordeste (1,0%), Santa Catarina (0,8%), Paraná (0,7%) e Minas Gerais (0,7%). De outro lado, as demais regiões que registraram variações negativas: Mato Grosso (-5,4%), Espírito Santo (-2,6%), Bahia (-2,2%), São Paulo (-1,8%), Rio de Janeiro (-1,3%) e Ceará (-0,4%).
Frente a janeiro de 2018 registrou-se retração de 2,6% na indústria nacional, sendo que 5 dos 15 locais pesquisados registraram acréscimos: Paraná (8,1%), Goiás (5,8%), Rio Grande do Sul (5,7%), Santa Catarina (1,2%) e Minas Gerais (1,2%). Para as demais regiões observaram-se retrações: Amazonas (-10,5%), Mato Grosso (-9,2%), Nordeste (-5,7%), Bahia (-5,5%), São Paulo (-5,3%), Pernambuco (-5,0%), Rio de Janeiro (-1,5%), Ceará (-1,4%) e Espírito Santo (-1,1%).
São Paulo. Na comparação com o mês de dezembro de 2018, a produção da indústria paulista registrou retração de 1,8%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a janeiro de 2018, houve decréscimo de 5,3%, com expansões nos seguintes setores: bebidas (10,9%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (4,1%), celulose, papel e produtos de papel (3,4%), produtos têxteis (3,2%) e outros produtos químicos (2,1%). Por outro lado, os cinco setores que apresentaram variações negativas foram: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-32,3%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-19,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-13,6%), máquinas e equipamentos (-8,2%) e coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-7,1%).
Mato Grosso. Na comparação com o mês de dezembro de 2018, a produção da indústria mato-grossense registrou retração de 5,4%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a janeiro de 2018 houve queda de 9,2%, sendo que os setores com maiores contribuições positivas foram: coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (9,4%), outros produtos químicos (4,7%), produtos de minerais não-metálicos (4,1%). Por outro lado, os setores que apresentaram as variações negativas mais expressivas foram: produtos de madeira (-26,0%), produtos alimentícios (-10,1%) e bebidas (-1,3%).
Amazonas. Na comparação com o mês de dezembro de 2018, a produção da indústria amazonense apresentou incremento de 5,2%, a partir de dados dessazonalizados, sendo o estado com maior crescimento nessa base de comparação. Em relação a janeiro de 2018, houve retração de 10,5%. Os setores que registraram os maiores acréscimos foram: indústrias extrativas (18,7%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (11,6%) e outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (6,7%). Por fim, as maiores retrações se deram nos seguintes setores: impressão e reprodução de gravações (-63,7%), máquinas e equipamentos (-38,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-35,3%), produtos de borracha e de material plástico (-25,3%) e bebidas (-23,5%).