Análise IEDI
O hiato creditício
O crédito às empresas caminha para mais um trimestre de recuperação, a contar pelo desempenho das concessões reais nos meses de janeiro e fevereiro de 2019, segundo os dados divulgados hoje pelo Banco Central. A menos tempo no azul, o segmento corporativo vinha funcionando como um entrave à normalização das condições de financiamento da economia.
Se a atual direção se mantiver no próximo mês, serão seis trimestres de expansão. Por ora, o bimestre jan-fev/19 registra uma alta de 12,8% das concessões frente ao mesmo período do ano anterior, já descontada a inflação medida pelo IPCA. Isso significa uma manutenção do ritmo de crescimento ante o último quarto de 2018, mas certa desaceleração em relação ao segundo (+14,3%) e ao terceiro (+18,6%) trimestre do ano passado.
O destaque no financiamento corporativo vem das operações oficiais, que já não caem mais como caíam até pouco tempo atrás. Agora no 1º bimestre de 2019 conta com alta de +20% e soma três meses consecutivos de crescimento acima de 15% na comparação interanual. Evidentemente, depois de tanto retrocesso, bases baixas de comparação ajudam neste desempenho recente.
Já para as famílias, as concessões reais no 1º bimestre de 2019 avançaram +11,6%, sugerindo certa acomodação em relação ao final do ano passado, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Concessões reais totais: +13,8% no 3º trim/18; +12,6% no 4º trim/18 e +12,1% no 1º bim/19.
• Concessões reais às empresas: +18,6%; +12,1% e +12,8%;
• Concessões reais às famílias: +10,4%; +12,9% e +11,6%, respectivamente.
Deste modo, o total dos novos créditos concedidos neste início de ano foi 12,1% maior do que em igual período de 2018, um ritmo que vem se mantendo desde meados do ano passado. Se por um lado, não há ganho de velocidade, ao menos chegamos a uma expansão com magnitude compatível com as perdas mais intensas ao longo da crise. Vale lembrar que as concessões totais registraram queda de dois dígitos ao longo de praticamente todo o ano de 2016.
Embora os dados mencionados sejam positivos, há um longo caminho a ser trilhado. A relação crédito total/PIB, desde meados do ano passado, não consegue avançar para além de algo como 47%, o que faz o quadro do financiamento do país regredir quase 7 anos, dado que este era o patamar em maio de 2012.
Isso para não mencionar o hiato em relação ao ponto mais alto deste indicador, atingido em dez/15. Em fevereiro de 2019 estávamos quase 7 pontos percentuais abaixo: 47% contra 53,7% do final de 2015.
O responsável por tamanha defasagem é o financiamento corporativo, cujas concessões, como dito anteriormente, só há pouco tempo deram sinal de reação, alterando pouco as medidas de estoque. Em fevereiro do presente ano, este segmento de crédito representava 20,7% do PIB. Isso significa nada menos do que um retrocesso de 10 anos e meio, para agosto de 2008, quando a relação também era de 20,7%. Em relação ao pico de dez/15 (28,5%), a defasagem é de cerca de 8 pontos percentuais. Juros mais baixos contribuiriam muito para reverter este quadro.
Os dados de crédito apresentados pelo Banco Central hoje registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,2 trilhões em fevereiro, expansão de 0,3% no mês. O saldo de crédito a pessoas físicas cresceu em 0,4%, na comparação do mês com o mês anterior (R$1,8 trilhão), e a carteira de pessoas jurídicas houve incremento de 0,1%, alcançando R$1,4 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o saldo total de crédito manteve trajetória de crescimento, com acréscimo de 5,5% relativamente a fevereiro de 2018.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$ 1,752 bilhões, variação positiva de 0,5% em relação ao mês anterior e expansão de 11,5% quando comparado com fevereiro de 2018. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$ 961,6 bilhões, aferindo acréscimo de 0,4% em relação ao mês imediatamente anterior e expansão de 12,2% quando comparado com o mês de fevereiro de 2018. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se R$ 790,7 bilhões, crescimento de 0,6% em relação ao mês anterior e expansão de 10,6% na comparação com o mesmo período de 2018.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$ 1,489 bilhões para fevereiro, em termos nominais, indicando decréscimo de 0,7% frente ao mesmo mês do ano anterior e estabilidade quando comparado ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$ 853,3 bilhões, incremento de 5,6% quando comparado ao mês de fevereiro de 2018. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 635,8 bilhões, retração de 8,0%.
Para o mês de fevereiro de 2018, foram concedidos R$ 304,3 bilhões em novas operações de crédito, crescimento de 14,9% frente ao montante de R$ 282,7 bilhões observado em fevereiro de 2018. Deste volume, R$ 282,7 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 21,5 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, incrementos de 14,3% para recursos livres e expansão de 22,2% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 118,2 bilhões), cartão de crédito (R$ 92,1 bilhões), crédito não rotativo (R$ 42,2 bilhões), cheque especial (R$ 30,5 bilhões) e crédito pessoal (R$ 26,8 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$ 25,2 bilhões), cheque especial (R$ 16,8 bilhões), conta garantida (R$ 15,0 bilhões) e capital de giro (R$ 13,8 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 8,0 bilhões), crédito rural (R$ 3,5 bilhões), BNDES (R$ 813,0 milhões) e microcrédito (R$ 893,0 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o BNDES (R$ 3,8 bilhões), crédito rural (R$ 3,2 bilhões) o e financiamentos imobiliários (R$ 545 milhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 741,7 bilhões, o que significa uma expansão nominal de 6,9% frente a fevereiro de 2018, e as maiores expansões ficaram para: outros serviços (30,6%), demais serviços prestados às famílias (21,3%), meios aquaviário e aéreo (11,3%), serviços financeiros (9,5%), bens de capital (9,2%), transporte (8,4%) e serviços via terrestre (8,2%). Para o setor da indústria aferiu-se o valor de R$ 644,8 bilhões, retração de 3,4% frente ao mesmo mês do ano anterior, e por fim, o setor agropecuário registrou crédito de R$ 23,7 bilhões, expansão de 5,3% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mesmo mês de fevereiro de 2018.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional, por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,650 trilhões, representando 50,9% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$ 1,112 trilhão, representando 34,3% e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 479,1 bilhões, representando por sua vez 14,8% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das contratações para fevereiro alcançou 25,0% a.a., o que representou elevação de 0,3 p.p. no mês e redução de -1,8 p.p. em doze meses. O incremento do mês refletiu o crescimento no custo das operações livres com pessoas físicas, 1,9 p.p., atingindo 53,2% a.a., com aumentos nas modalidades cheque especial (2,3 p.p.), crédito não consignado (6,1 p.p.), cartão rotativo (8,6 p.p.) e parcelado (7,4 p.p.). No crédito livre para pessoa jurídica, a taxa de juros das contratações reduziu-se em 0,7 p.p. no mês, alcançando 19,7% a.a., destacando-se a redução nas operações de capital de giro, 0,8 p.p.