Análise IEDI
Quatro sinais de esmorecimento
Na entrada de 2019, temos visto sinais de esmorecimento da recuperação econômica, sendo que alguns deles não são novos. É o caso notadamente da indústria, que voltou à recessão desde o último trimestre do ano passado. Os dados da balança comercial, cujos resultados de março de 2019 foram divulgados hoje, corroboram este quadro geral.
Destacamos a seguir quatro indícios de nosso comércio exterior que convergem para um contexto de menor dinamismo econômico.
O primeiro deles é que o superávit da balança comercial do país (US$ 10,9 bilhões) ficou 11,1% menor do que em igual período do ano anterior, de acordo com as médias por dia útil. Mais do que a intensidade da queda, o que chama atenção é a persistência de resultados negativos, que já tinham marcado 2018 todo, à exceção do 4º trimestre.
O segundo indício é que o encolhimento de nosso superávit comercial se deu ao lado de um declínio da corrente comercial. Em outras palavras, exportações (US$ 53,0 bilhões) e importações (US$ 42,1 bilhões) recuaram neste início de 2019 quando comparadas ao mesmo período de 2018, em um movimento mais acentuado no primeiro caso: -3,0%, pela média diária, contra -0,7% no caso de nossas compras externas.
Este comportamento dos fluxos comerciais, que rompe com o padrão que vinha ocorrendo nos trimestres anteriores, não deixa de expressar diferentes faces de um mesmo processo. Em outras palavras, exportações menores, sobretudo devido a atividades mais integradas internacionalmente, como veremos a seguir, puxam para baixo as importações, ainda mais em uma conjuntura de baixo crescimento do mercado doméstico.
O terceiro indício a ligar o resultado da balança comercial a um quadro de menor dinamismo na entrada de 2019 é a composição da queda das exportações – como mostram as variações interanuais a partir das médias diárias abaixo –, muito concentrada em bens manufaturados, especialmente em setores com fortes interações com outros ramos e não só da indústria.
• Exportações totais: +11,4% no 3º trim/18; +15,6% no 4º trim/18 e -3,0% no 1º trim/19;
• Exportações de manufaturados: +8,4%; +8,9% e -9,8%, respectivamente;
• Exportações de semimanufaturados: -11,3%; +3,0% e -3,3%;
• Exportações de básicos: +28,5%; +33,1% e +8,5%, respectivamente.
O epicentro do declínio das vendas externas de manufaturados tem sido o complexo automobilístico, afetando produtos como veículos de carga (-52% ante 1º trim/18), automóveis de passeio (-45%), autopeças (-22%), chassis (-5%), pneus (-5%) e motores (-2%) e se refletindo em uma queda de quase 50% de nossas exportações para a Argentina.
Apesar disso, também há retrocessos importantes em outros setores industriais (plataformas de petróleo, polímeros plásticos, óxidos e hidróxidos de alumínio, laminados planos etc.) e em outros mercados, notadamente para a Europa, cuja compra de produtos totais brasileiros ficaram 20% menores do que no 1º trim/18.
O quarto e último indício de desaceleração a ser destacado é o comportamento recente de nossas importações de bens intermediários que, como sabemos, atendem um conjunto diversificado de segmentos econômicos e, por isso, reagem mais de perto às mudanças no nível geral de atividade. Depois de cresceram a um ritmo superior a dois dígitos na segunda metade de 2018, registraram expressiva desaceleração no 1º trim/19, variando apenas +2,2% ante mesmo período do ano anterior pela média diária.
Conforme os dados divulgados pelo Ministério da Economia, no mês de março de 2019 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 4,990 bilhões, retração de 14,1%, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês, ao valor alcançado no mesmo período do ano anterior, de US$ 6,420 bilhões.
As exportações alcançaram a valor de US$ 18,120 bilhões, representando decréscimo de 1,0% em relação a março de 2018, pela média diária. As importações totalizaram US$ 13,130 bilhões, o que significou acréscimo de 5,1% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês. Para o mês de março de 2019, as médias diárias das exportações registraram US$ 954,0 e as médias diárias das importações ficaram em US$ 691,0 milhões.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$ 9,689 bilhões no período, decréscimo de 2,4% em comparação a março de 2018. Os produtos industrializados alcançaram o valor de US$ 8,430, retração de 14,0% quando comparado a março de 2018; os manufaturados aferiram US$ 6,148 bilhões, representando por sua vez queda de 15,4% na mesma base de comparação; e os semimanufaturados somaram US$ 2,282 bilhões, retração de 10,0%, ainda na comparação com março de 2018.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com março de 2018 registrou-se expansão em um dos quatro segmentos analisados: produtos básicos (7,9%). Por outro lado, os demais segmentos apresentaram variação negativa: operações especiais (-99,9%), bens manufaturados (-6,5%) e produtos semimanufaturados (-0,5%).
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com março de 2018, os maiores crescimentos estiveram com as vendas de: algodão em bruto (+123,6%), milho em grãos (+86,7%), fumo em folhas (+38,9%), farelo de soja (+30,2%), café em grãos (+29,1%), petróleo em bruto (+14,4%), carne de frango (5,4%) e soja em grãos (+4,7%).
No grupo dos manufaturados, quando comparado com março de 2018, decresceram as vendas principalmente de veículos de carga (-68,2%), óleos combustíveis (-49,6%), automóveis de passageiros (-41,4%), autopeças (-13,4%), óxidos e hidróxidos de alumínio (-11,5%), pneumáticos (-5,9%) e polímeros plásticos (-1,1%).
No grupo dos semimanufaturados, quando comparado com março de 2018, diminuíram as vendas principalmente de açúcar em bruto (-34,6%), celulose (-12,0%) e couros e peles (-10,8%).
Ao analisar os mercados compradores, retraíram-se as vendas para os seguintes destinos: América Central e Caribe (-42,1%, por conta de petróleo em bruto, aviões, celulose, óleos combustíveis, semimanufaturados de ferro/aço, arroz em grãos, papel/cartão para escrita/impressão), Mercosul (-41,3%, sendo que para a Argentina diminuiu 48,4%, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, autopeças, tratores, óleos combustíveis, máquinas e aparelhos para uso agrícola, laminados planos de ferro/aço, máquinas e aparelhos para terraplanagem, minério de ferro), África (-24,3%, em decorrência de petróleo em bruto, açúcar em bruto, açúcar refinado, carne bovina, tratores, chassis com motor para automóveis), União Europeia (-2,9%, por conta de celulose, minério de ferro, óleos combustíveis, aviões, laminados planos de ferro/aço, minério de cobre, semimanufaturados de ferro/aço, tubos de ferro fundido, suco de laranja não congelado, silício).
De outra forma, expandiram-se as vendas para a Oceania (+73,0%, por conta de açúcar em bruto, óleos combustíveis, celulose, ônibus e outros veículos para mais de 10 pessoas, medicamentos para medicina humana e veterinária, veículos de carga, óleo de soja refinado, farelo de soja, sucos de frutas ou produtos hortícolas), Oriente Médio (+57,4%, principalmente por conta de aviões, minério de ferro, farelo de soja, soja em grãos, partes de motores e turbinas para aviação, milho em grãos, carne bovina, laminados planos de ferro/aço), Ásia (+10,2%, sendo que China, Hong Kong e Macau cresceu 6,1%, para US$ 5,6 bilhões, por conta de petróleo em bruto, celulose, algodão em bruto, açúcar em bruto, ferro-ligas, minério de manganês, minério de cobre, hidrocarbonetos e derivados halogenados, coque e betume de petróleo, fumo em folhas) e Estados Unidos (+9,6%, por conta semimanufaturados de ferro/aço, gasolina, máquinas e aparelhos para terraplanagem, partes de motores e turbinas para aviação, ferro fundido, aviões, fumo em folhas, café em grãos, silício e hidrocarbonetos e derivados halogenados).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 13,130 bilhões importados em março, US$ 7,935 bilhões foram de bens intermediários, US$ 1,981 bilhões de bens de consumo, US$ 1.616 bilhões de combustíveis e lubrificantes e US$ 1,597 bilhões de bens de capital.
Na comparação frente ao mesmo período de 2018, considerando a média diária, houve expansão em três dos quatro segmentos analisados das importações: bens de capital (13,0%), bens intermediários (5,8%) e bens de consumo (1,7%). Para o segmento de combustíveis e lubrificantes houve retração de 0,5%.
Destaques importações. Com relação ao grupo dos combustíveis e lubrificantes o decréscimo ocorreu principalmente pela diminuição de óleo diesel, hulhas, gasolinas (exceto para aviação), propanos liquefeitos, óleos lubrificantes sem aditivos, fuel-oil e querosenes de aviação.
No segmento bens intermediários expandiram-se as aquisições de tubos flexíveis de ferro ou aço, sulfetos de minérios de cobre, cloretos de potássio, inseticidas, trigos e misturas de trigo, torneiras e outros dispositivos para canalizações, tubos de plásticos, compostos heterocíclicos, sulfato de amônio e naftas para petroquímica.
No segmento de bens de capital, o incremento registrado ficou principalmente com veículos automóveis com motor a diesel, transformadores de dielétrico líquido, máquinas de sondagem, substações isoladas a gás, veículos automóveis para transporte de 10 ou mais pessoas, robôs industriais, aviões a turbo jato, material fixo de vias férreas, máquinas e aparelhos mecânicos, aviões a turboélice, empilhadeiras autopropulsoras, instrumentos e aparelhos para medida e controle de vazão.
No grupo dos bens de consumo, os principais aumentos foram observados nas importações de medicamentos, terminais portáteis de telefonia celular, automóveis de mais de 6 passageiros, fungicidas, medicamentos contendo outras enzimas, fungicidas.
Por fim, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação com março de 2018, expandiram-se as compras originárias dos principais mercados, a saber: Oceania (+28,2%, por conta de hulhas, inseticidas, formicidas e herbicidas, artigos e aparelhos de próteses, níquel não ligado, instrumentos e aparelhos médicos, celulose, polímeros acrílicos em formas primárias, diodos e transistores), Mercosul (+17,1%, sendo que da Argentina cresceu 24,1%, por conta de veículos de carga, trigo em grãos, naftas, malte inteiro ou partido não torrado, ureia mesmo em solução aquosa, ônibus e outros veículos para mais de 10 pessoas, cevada em grãos, produtos hortícolas preparados), Ásia (+3,0%, sendo que China, Hong Kong e Macau cresceu 7,7%, por conta de motores e geradores elétricos, circuitos impressos para telefonia, aparelhos transmissores/receptores de telefonia celular, coques e semicoques de carvão, adubos e fertilizantes, máquinas e aparelhos de terraplanagem, sulfato de amônio, barras e perfis de alumínio) e Estados Unidos (+0,7%, por conta de naftas, petróleo em bruto, inseticidas, formicidas e herbicidas, tubos e acessórios de plástico, paládio em bruto, motores e turbinas para aviação, carbonatos, pneumáticos, compostos heterocíclicos, medicamentos, trigo em grãos).
Por outro lado, diminuíram as compras originárias do seguinte mercado: América Central e Caribe (-7,3%, por conta de amônia, álcoois acíclicos e derivados, medicamentos, instrumentos e aparelhos médicos, artigos de prótese, borracha natural), Oriente Médio (-4,6%, por conta de ureia, petróleo em bruto, álcoois acíclicos e seus derivados halogenados, óleos combustíveis, enxofre, alumínio em desperdícios e resíduos, óleos lubrificantes), África (-4,4%, por conta de naftas, cacau, hulhas, gás propano liquefeito, adubos e fertilizantes, desperdícios e resíduos de cobre, fosfatos de cálcio, ácido fosfórico) e União Europeia (-1,3%, por conta de óleos combustíveis, autopeças, medicamentos, compostos de funções nitrogenadas, máquinas e aparelhos para moldar borracha e plástico, automóveis de passageiros, naftas, cloreto de potássio, bombas e compressores, quadros e painéis de distribuição de energia).