Análise IEDI
Brasil Mais Produtivo: um caso de sucesso limitado
Uma das principais deficiências da indústria brasileira é o baixo ritmo com que tem evoluído sua produtividade nos últimos anos, como enfatizou o documento do IEDI “Indústria e o Brasil do Futuro ”. Este fator, aliado a sérios entraves à competitividade do setor, tem contribuído para o retrocesso de nossa indústria tanto na estrutura produtiva do Brasil como no sistema industrial global.
Sendo a produtividade o resultado de um processo complexo de interações econômicas e sociais, é quase impossível definir apenas uma causa para sua má evolução no Brasil. Não é difícil verificar a presença de fatores como a baixa qualidade da educação, a parcial e incompleta integração internacional da economia brasileira, o nível de investimento doméstico muito aquém do recomendável e a pequena exposição à concorrência em algumas atividades.
A despeito disso, duas outras causas também se destacam. A primeira delas, como mostrou a Carta IEDI n. 864, é que setores com maior crescimento de produtividade nos anos recentes perderam participação em nosso sistema industrial. Este é o caso da indústria intensiva em engenharia e P&D, cuja produtividade em 2010-2015 avançou 5% a.a. versus 0,7% a.a. da manufatura em geral. Isso porque o Brasil se descuidou de criar condições necessárias para que as atividades industriais mais complexas e de maior conteúdo tecnológico pudessem prosperar.
Ao lado desta causa que remete à composição do sistema industrial do país, a segunda causa a ser destacada é a forte heterogeneidade que existe entre as empresas. Isto é, em um mesmo setor, convivem no Brasil empresas de excelência e empresas de baixíssima produtividade. Neste sentido, os mais prejudicados são geralmente empresas de menor porte, cujo acesso ao crédito, a consultorias técnicas e a mão de obra mais qualificada é muito restrito. Muitas vezes, também operam em mercados isolados por nossa infraestrutura insuficiente e deficiente.
Diante deste quadro, o programa federal Brasil Mais Produtivo (B+P) procurou, entre 2016 e 2018, incrementar a produtividade intrafirma, principalmente de empresas de pequeno e médio porte, por meio da adoção de técnicas de manufatura enxuta. A Carta IEDI a ser divulgada hoje apresenta a avaliação do programa realizada conjuntamente por CEPAL e IPEA, no final de 2018, identificando os sucessos obtidos e as limitações a que esteve sujeito.
Com impacto fiscal muito pequeno (R$ 50 milhões), coordenação do então MDIC e participação de ABDI, SENAI, ApexBrasil, Sebrae e BNDES, o programa atendeu, nesta sua primeira etapa, 3.000 empresas nos setores de alimentos e bebidas, metalomecâmico, moveleiro, vestuário e calçados, prioritariamente localizadas em arranjos produtivos locais (APLs) distribuídos pelas diversas regiões do país.
Os resultados atingidos foram bastante positivos: aumento médio da produtividade das linhas de produção de 52,11%, muito superior à meta previamente estabelecida (20%); redução média do tempo do movimento do trabalho em 60,60% e do retrabalho em 64,82%. As empresas atendidas também relataram esperar obter um retorno anual de mais de 11 vezes o valor por elas investido (R$ 18 mil) na consultoria.
Apesar desses resultados, que podem ser considerados um sucesso, o fato de o B+P ter escala e escopo muito reduzidos torna-o incapaz de fomentar um aumento da produtividade sistêmica da indústria brasileira. O programa tem sentido, assim, se considerado como um experimento inicial para, então, ser ampliado na escala compatível com o tamanho do desafio que temos de enfrentar. A se considerar pelos resultados, este poderia ser um caminho.
Com o acirramento da concorrência internacional e as diversas iniciativas das principais potências industriais do mundo em direção à indústria 4.0, incrementos de produtividade e de competitividade da indústria brasileira, há muito necessários, estão se tornando cada vez mais urgentes e essenciais. A menos que o Brasil aceite ficar à margem do mundo.