Análise IEDI
A relevância do emprego industrial
O quadro recente do emprego no país tem funcionado como obstáculo a uma recuperação mais vigorosa do PIB. Os entraves são de natureza quantitativa, com poucas vagas sendo criadas, e qualitativa, já que predominam as ocupações informais e com menor rendimento. Os dados divulgados hoje pelo IBGE registram o retorno ao positivo do emprego com carteira assinada. Fator decisivo para isso foi a reação da ocupação na indústria.
A sinalização positiva nos dados da Pnad Contínua para o 1º trimestre de 2019 recai sobre a ocupação e também sobre o rendimento real, alavancando a massa de rendimentos, que é a base do consumo popular. Em relação ao mesmo período do ano anterior, o número total de ocupados cresceu +1,8%, a maior variação desde início de 2018.
A boa notícia é que pela primeira vez o aumento da ocupação veio acompanhada pelo crescimento do emprego com carteira assinada. A alta foi de mero +0,2%, como mostram as variações interanuais abaixo, mas significou a interrupção de uma sequência de 49 trimestres móveis de declínio consecutivo.
• População ocupada total: +1,1% no 4º trim/18 e +1,8% no 1º trim/19
• População ocupada na indústria: -1,1% e +0,7%, respectivamente;
• Total dos ocupados com carteira: -0,9% e +0,2%;
• Massa de rendimentos reais: +1,8% e +3,3%, respectivamente.
Como a indústria possui relações de trabalho majoritariamente formais, o retorno ao positivo do emprego industrial funcionou como uma alavanca para a ocupação com carteira. Em relação ao 1º trim/18, foram 83 mil ocupados a mais na indústria (+0,7%) e um total de 81 mil empregados adicionais com carteira assinada.
Por sua vez, dado que tanto o emprego industrial como o emprego com carteira assinada tendem a apresentar maiores salários, o 1º trim/19 registrou elevação de +1,4% do rendimento real habitual, o que, embora não seja muito, é a melhor marca desde 4º trim/17.
Como resultado, a massa de rendimentos reais pôde voltar neste início de 2019 a um patamar de crescimento mais razoável, depois da desaceleração ao longo de 2018. O aumento foi de +3,3% na comparação interanual e, se tiver continuidade nos próximos meses, pode ajudar a alçar o consumo das famílias.
Apesar de favorável, o desempenho em jan-mar/19 precisa ser ponderado pelo quadro geral do emprego, ainda muito longe de virar a página da crise recente. Dentre os aspectos que sugerem cautela na interpretação desses últimos movimentos, podem ser destacados os seguintes.
O número de desocupados ainda soma 13,4 milhões de pessoas. Por isso, a taxa de desemprego atual (12,7%) permanece 60% maior do que aquela de 2015 (7,9%), o primeiro ano de crise econômica. E mais, ela só não é mais alta porque o desalento não para de aumentar: +5,6% frente ao 1º trim/18, chegando a 4,8 milhões de pessoas que desistiram de buscar emprego por não terem esperança de obter sucesso.
Ademais, dentre os postos de trabalho criados em um ano (+1,6 milhão entre o jan-mar/18 e jan-mar/19), 85% são ocupações sem carteira ou por conta própria – os chamados “bicos” – , cujas remunerações são menores, variam mais de um mês para outro e nem sempre contam com jornadas completas.
Como estas ocupações que mais crescem são de menor qualidade, a melhora recente do emprego vem sendo acompanhada de um aspecto preocupante: o aumento sistemático da parcela de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas: +10,2% frente ao 1º trim/18, atingindo 6,8 milhões de pessoas, para quem ter um emprego não impede continuar restringindo sua cesta de consumo.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre janeiro a março de 2019 registrou 12,7%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, outubro a dezembro de 2018, houve incremento de 1,0 p.p, e para o mesmo trimestre do ano anterior houve queda de 0,4 p.p, quando alcançou 13,1%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.291, apresentando expansão de 0,7% em relação ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez). Já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve variação positiva de 1,4%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 205,2 bilhões no trimestre que se encerrou em março, registrando decréscimo de 0,3% frente ao trimestre imediatamente anterior e incremento de 3,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 198,7 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada ficou em 91,8 milhões de pessoas, retração de 0,9% frente ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez) e incremento de 1,8% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (90,7 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu acréscimo de 10,2%, com 13,3 milhões de pessoas. Já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se queda de 1,8%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 105,2 milhões de pessoas, crescimento de 0,3% frente ao trimestre imediatamente anterior e incremento de 1,3% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram variação positiva na ocupação foram: Transporte, armazenagem e correios (4,4%), Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (4,1%), Outros serviços (3,8%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,2%), Alojamento e alimentação (3,1%) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,7%), Indústria (0,7%) e Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (0,08%). De outro lado, os agrupamentos que apresentaram retrações na ocupação foram Serviços domésticos (-1,2%) e Construção (-0,2%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, comparados ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se incrementos nas seguintes categorias: trabalho privado sem carteira (4,3%), trabalhador por conta própria (3,8%), empregador (2,0%), setor público (1,7%) e trabalho privado com carteira (0,25%). Para os demais seguimentos, registraram-se retrações em: trabalho familiar auxiliar (-1,7%) e trabalho doméstico (-1,2%).