Análise IEDI
Manufaturados dá o tom das exportações
Embora os produtos agropecuários e minerais sejam importantes para as vendas externas do Brasil, quem vem dando o tom do nosso desempenho exportador são os produtos da indústria de transformação. Ao assumirem uma trajetória adversa nos últimos meses, as exportações de bens manufaturados não só têm prejudicado a recuperação do setor industrial, como têm puxado para baixo o saldo de balança comercial do país.
Em abril de 2019, nossos embarques totais ficaram praticamente estagnados ao variar apenas -0,1% frente ao mesmo período do ano anterior, segundo a média por dia útil. Resultado não muito diferente da variação pífia de +0,8% em manufaturados, na mesma comparação. Já no acumulado jan-abr/19, foi o declínio de -7,3% dos manufaturados quem condicionou a queda de -2,7% das exportações totais.
Com isso, não estamos afirmando que a situação seja mais confortável para os demais tipos de produtos, pois não é o caso. Utilizando ainda as médias diárias, as exportações de básicos que acumularam alta de +17,6% em 2018 como um todo, crescem apenas +5,8% nos quatro primeiros meses de 2019. Semimanufaturados, por sua vez, já tinham recuado -3,1% no ano passado e agora -1,1% até abr/19.
Foram as exportações de manufaturados, porém, quem sofreu uma reviravolta, já que a alta de 2018 se reverteu em queda neste ano, como mostram as variações interanuais abaixo:
• Exportações totais: +9,6% em jan-dez/18 e -2,7% em jan-abr/19;
• Exportações de manufaturados: +7,4% e -7,3%, respectivamente;
• Exportações de semimanufaturados: -3,1% e -1,1%;
• Exportações de básicos: +17,6% e +5,8%, respectivamente.
As importações, sob influência do menor dinamismo da economia brasileira neste início de ano, também já não crescem mais, embora acumulem entre janeiro e abril de 2019 uma variação negativa de apenas -0,8% frente ao mesmo período do ano anterior, segundo as médias diárias. Ou seja, caem a um ritmo equivalente a 1/3 da queda das exportações totais.
Por essa razão, o saldo geral da balança comercial vem apresentando superávit cada vez menor. No agregado do primeiro quadrimestre do ano, o encolhimento do saldo chegou a -8,7% frente ao mesmo período do ano anterior, ainda que tenha ocorrido avanço de +2,3% apenas no mês de abr/19. Caminhamos, deste modo, para o segundo ano consecutivo de diminuição do saldo comercial.
Como são os produtos manufaturados quem têm influenciado os resultados gerais, vale destacar de onde vêm as pressões negativas. No acumulado de jan-abr/19, fica patente a contribuição da cadeia automobilística, que, como se sabe, reduz persistentemente suas vendas externas devido notadamente à crise da economia argentina, atingindo: veículos de carga (-51,3% ante jan-abr/18), automóveis de passageiros (-40%), autopeças (-21,4%), motores para veículos e partes (-4,0%) e pneumáticos (-3,9%).
Há também outros setores de peso em nossa pauta exportadora de manufaturados com acentuado declínio, a exemplo de óxidos e hidróxidos de alumínio (-16,4%), polímeros plásticos (-13,2%), laminados planos de ferro ou aço (-10,5%) e máquinas e aparelhos para terraplanagem (-10,3%), entre outros.
Quem amortece parcialmente o declínio no primeiro quadrimestre de 2019, entre outros setores, é a cadeia aeronáutica, devido à expansão das vendas externas de aviões e partes de motores e turbinas para aviação. Sem a contribuição destes produtos, a queda de -7,3% das exportações de manufaturados no acumulado do período saltaria para -10%.
Conforme os dados divulgados pelo Ministério da Economia, no mês de abril de 2019 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 6,061 bilhões, expansão de 2,3% frente ao alcançado no mesmo período do ano anterior, US$ 5,922 bilhões, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês,
As exportações registraram a valor de US$ 19,689 bilhões, representando retração de 0,1% em relação a abril de 2018, pela média diária. As importações totalizaram US$ 13,628 bilhões, o que significou decréscimo de 1,2% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
Para o mês de abril de 2019, as médias diárias das exportações alcançaram US$ 937,6 e as importações registradas ficaram em US$ 649,0 milhões.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$ 10,228 bilhões no período, expansão de 2,1% em comparação a abril de 2018. Os produtos industrializados alcançaram o valor de US$ 9,461, crescimento de 2,4% quando comparado ao mesmo mês do ano passado, os manufaturados registraram US$ 6,899 bilhões, representando por sua vez incremento de 0,8% na mesma base de comparação e os semimanufaturados somaram US$ 2,562 bilhões, acréscimo de 7,1%, ainda na comparação com abril de 2018.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com abril de 2018 registrou-se expansão em três dos segmentos analisados: produtos semimanufaturados (7,1%), produtos básicos (2,1%) e produtos manufaturados (0,8%).
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com abril de 2018, cresceram as vendas principalmente de algodão em bruto (+145,2%, para US$ 123 milhões), carne suína (+51,4%, para US$ 110 milhões), carne bovina (+48,1%, para US$ 416 milhões), petróleo em bruto (+43,5%, para US$ 2,7 bilhões), carne de frango (+36,1%, para US$ 497 milhões), café em grãos (+11,6%, para US$ 330 milhões).
No grupo dos manufaturados, frente a abril do ano passado, expandiram as vendas principalmente de tubos flexíveis de ferro ou aço (para US$ 148 milhões), máquinas e aparelhos para uso agrícola (+208,3%, para US$ 190 milhões), partes de motores e turbinas para aviação (+116,9%, para US$ 144 milhões), torneiras, válvulas e partes (+99,7%, para US$ 110 milhões), gasolina (+81,2%, para US$ 127 milhões), óleos combustíveis (+46,5%, para US$ 792 milhões), aviões (+1,7%, para US$ 368 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, ainda quando comparado com o mesmo mês de 2018, cresceram as vendas principalmente de açúcar em bruto (+25,8%, para US$ 310 milhões), celulose (+25,2%, para US$ 806 milhões), ferro-ligas (+23,7%, para US$ 301 milhões), semimanufaturados de ferro ou aço (+23,7%, para US$ 485 milhões), ouro em formas semimanufaturadas (+12,2%, para 169 milhões).
Ao analisar os mercados compradores, cresceram as vendas para os seguintes destinos: Oriente Médio (+79,7%, principalmente por conta de soja em grãos, carne de frango, carne bovina, milho em grãos, bovinos vivos, café em grão, tubos de ferro fundido, aviões, celulose), Oceania (+25,9%, por conta de óleos combustíveis, ônibus e outros veículos p/ mais de 10 pessoas, máquinas e aparelhos p/ terraplanagem, máquinas e aparelhos p/ uso agrícola, café em grão, órgãos e substâncias de animais p/ fármacos, calçados, gelatinas e colas p/ uso industrial, medicamentos para medicina humana e veterinária), Estados Unidos (+22,9%, por conta de aviões, semimanufaturados de ferro/aço, máquinas e aparelhos p/ terraplanagem, partes de motores e turbinas para aviação, café em grãos, gasolina, motores e geradores elétricos, ferro-ligas, rolamentos e engrenagens), África (+12,6%, em decorrência de aviões, carne bovina, óleos combustíveis, arroz em grãos, bovinos vivos, tratores, máquinas e aparelhos p/uso agrícola, zinco em bruto, carne de frango) e Ásia (+0,7%, sendo que China, Hong Kong e Macau cresceu 3,4%, para US$ 5,6 bilhões, por conta de açúcar em bruto, ferro-ligas, algodão em bruto, carne bovina, carne suína, carne de frango, óleos combustíveis, polímeros plásticos, couros e peles). Por outro lado, diminuíram as vendas para o Mercosul (-36,6%, sendo que para a Argentina diminuiu 45,9%, por conta de minério de ferro, óleos combustíveis, soja em grão, óxidos e hidróxidos de alumínio, laminados planos de ferro/aço, fio-máquina, pisos e revestimentos cerâmicos, papel e cartão kraft, polímeros plásticos), América Central e Caribe (-31,7%, por conta de petróleo em bruto, minério de ferro, óleos combustíveis, celulose, arroz em grãos, papel/cartão p/escrita/impressão, arroz em grão) e União Europeia (-2,9%, por conta de minério de ferro, soja em grão, farelo de soja, semimanufaturados de ferro/aço, celulose, caulim, óleos combustíveis, ferro fundido bruto, minério de alumínio, gasolina, madeira compensada, suco de laranja não congelado).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 13,628 bilhões importados em abril, US$ 8,442 bilhões foram de bens intermediários, US$ 1,888 bilhões de bens de consumo, US$ 1.703 bilhões de combustíveis e lubrificantes e US$ 1,595 bilhões de bens de capital.
Na comparação frente ao mesmo período de 2018, considerando a média diária, houve incremento em um dos quatro segmentos analisados das importações, puxado por combustíveis e lubrificantes (10,4%). Por outro lado, os demais segmentos apresentaram retrações sendo eles: bens de capital (-10,0%), bens de consumo (-6,6%) e bens intermediários (-0,2%).
Destaques importações. Com relação ao grupo dos combustíveis e lubrificantes, o crescimento ocorreu principalmente pelo aumento de gás natural liquefeito, querosenes de aviação, petróleo em bruto, gasolinas (exceto para aviação), coque, energia elétrica e propanos liquefeitos.
No segmento de bens intermediários, reduziram as aquisições de sulfetos de minérios de cobre, álcool etílico, ureia, laminados de ferro/aço, naftas para petroquímica, válvulas tipo gaveta, circuitos integrados digitais não montados, motores diesel e vacinas para medicina humana.
No segmento de bens de capital decresceram, principalmente, quadros com aparelhos controladores programáveis, máquinas e aparelhos mecânicos, laminadores a quente e/ou frio, prensas para fabricação de painéis de madeira, veículos de carga, aviões, unidades de processamento digital, máquinas e aparelhos para encher ou fechar latas, quadros para circuitos elétricos, máquinas e aparelhos para carga e descarga.
No grupo dos bens de consumo, as principais retrações foram observadas nas importações de automóveis de até 6 passageiros, sobretudos de fibras sintéticas, medicamentos, automóveis de mais de 6 passageiros, mantos de fibras sintéticas e terminais de telefonia celular.
Por fim, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação com abril de 2018, diminuíram as compras originárias dos seguintes mercados, a saber: Oceania (-31,8%, por conta de hulhas, alumínio em bruto, máquinas e aparelhos para tratamento de pedra e minerais, ácido sulfúrico, miudezas de bovinos), União Europeia (-18,5%, por conta de quadros e painéis de distribuição de energia, autopeças, laminados planos de ferro ou aço, laminadores de metais e seus cilindros, automóveis de passageiros, óleos combustíveis, prensas para fabricação de painéis de madeira, motores para veículos e partes), Mercosul (-3,6%, sendo que da Argentina caiu 6,7%, por conta de automóveis de passageiros, nafta, óleo de girassol em bruto, trigo em grãos, gás propano liquefeito, malte inteiro ou partido não torrado, polímeros plásticos, ônibus e outros veículos para mais de 10 pessoas, autopeças). Por outro lado, cresceram as compras originárias dos seguintes mercados: América Central e Caribe (+73,3%, por conta de gás natural liquefeito, medicamentos para medicina humana e veterinária, desperdícios e resíduos de cobre, borracha natural, pastas, gazes e ataduras, meios de cultura de microrganismos), Oriente Médio (+26,4%, por conta de óleos combustíveis, querosene de aviação, adubos e fertilizantes, alumínio em bruto, compostos heterocíclicos, obras de alumínio, compostos de funções nitrogenadas, petróleo em bruto), África (+29,5%, por conta de gás natural liquefeito, petróleo em bruto, cacau, superfosfatos (adubos/fertilizantes), naftas, platina em bruto, ácido fosfórico), Ásia (+9,7%, sendo que China, Hong Kong e Macau cresceu 10,7%, por conta de circuitos impressos para telefonia, dispositivos semicondutores, compostos heterocíclicos, compostos organo-inorgânicos, fios de fibras têxteis sintéticas ou artificiais, motores e geradores elétricos, aparelhos transmissores ou receptores, barras, perfis e chapas de alumínio, construções e partes de ferro/aço) e Estados Unidos (+3,1%, por conta de gasolina, medicamentos p/ medicina humana e veterinária, petróleo em bruto, gás propano liquefeito, partes e peças de aviões e helicópteros, hulhas, hidrocarbonetos e derivados halogenados, inseticidas e herbicidas e compostos organo-inorgânicos, adubos e fertilizantes).