Análise IEDI
Não é de hoje o declínio industrial
Os dados do IBGE são muito contundentes em mostrar que a indústria entra em uma nova fase recessiva. Já são dois trimestres consecutivos de retração, qualquer que seja a comparação utilizada, afetando grande parte do parque industrial. À medida que este quadro se prolonga, vai ficando cada vez mais difícil falar em recuperação para o setor.
A perda de produção no 1º trim/19 chegou a -2,2% frente ao mesmo período do ano anterior, significando não apenas a continuidade do sinal negativo, mas também um agravamento em relação ao resultado de -1,2% do 4º trim/18. Em relação ao período imediatamente anterior, já descontados os efeitos sazonais, também houve declínio nestes dois últimos trimestres (-1,4% e -0,7%, respectivamente).
Este desempenho recente nada tem de excepcional nem é resultado de fatores pontuais. Ao contrário, não é de hoje que a indústria vem perdendo o passo. Isso pode ser visto de dois ângulos. Na série com ajuste sazonal, os meses de retrocesso foram majoritários, atingindo 9 dos 15 meses do período que vai de jan/18 a mar/19.
Na comparação interanual, é a tendência de longo prazo registrada pelo acumulado de 12 meses que mostra claramente a nova fase descendente da indústria. Depois de ter atingido pico de +3,9% em abr/18, a produção do setor só perdeu ritmo até atingir -0,1% em mar/19. Embora seja provável uma nova fase de aceleração, dando um formato de “W” à série, há motivos para não ser descartada a permanência de dificuldades nos meses futuros.
Um desses motivos é a disseminação dos resultados negativos entre os diferentes ramos industriais. Dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE, nada menos do que 21 deles (81%) ficaram no vermelho no 1º trim/19. Pior ainda, metade deles (isto é, 13 ramos) acompanharam a indústria geral e também tiveram queda no 4º trim/18 e quase ¼ já acumula mais de dois trimestres consecutivos de retração.
Os casos mais graves compreendem a fabricação de alimentos, de produtos têxteis, de vestuário e acessórios, de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos e de móveis, entre outros.
Dentre os grandes macrossetores industriais, todos mergulharam novamente no vermelho, como mostram as variações frente ao mesmo período do ano anterior a seguir:
• Indústria geral: +1,2% no 3º trim/18; -1,2% no 4º trim/18 e -2,2% no 1º trim/19;
• Bens de capital: +7,2%; +3,3% e -4,3%, respectivamente;
• Bens intermediários: +0,5%; -1,6% e -2,0%;
• Bens de consumo duráveis: +7,3%; -2,5% e -3,5%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -0,2%; -0,8% e -1,4%, respectivamente.
Mesmo bens de capital, que ainda conseguia se manter na faixa positiva no final do ano passado, sucumbiu e registrou a queda mais acentuada do 1º trim/19. Seu único segmento que permaneceu crescendo foi bens de capital para a construção, mas que ainda assim sofre forte desaceleração (+56,4% no 1º trim/18 para +6,4% no 1º trim/19). Bens de capital para a própria indústria, que aponta a evolução dos investimentos do setor, está de mal a pior, registrando queda tanto no 4º trim/18 (-5,5%) como no 1º trim/19 (-4,9%).
Bens de consumo duráveis foi quem teve o segundo pior resultado neste início de ano, muito em função do setor automobilístico, cujas exportações estão sendo bastante prejudicadas pela crise argentina, mas não apenas. Móveis e eletrodomésticos, que refletem mais os entraves à reativação da demanda doméstica, caem a um ritmo cada vez maior desde o 3º trim/18, chegando a -8,5% em jan-mar/19 em ambos os casos.
Bens intermediários já vinham de um período de semi estagnação na maior parte de 2018 e avançaram para o terreno negativo desde out-dez/18. Agora no 1º trim/19 suas perdas, sobretudo em função de segmentos associados a alimentos e têxteis, foram majoradas devido a retrocessos em celulose e metalurgia.
Bens de consumo semi e não duráveis não caíram tanto quanto os demais macrossetores industriais, mas neste caso há um longo processo de estagnação que parece estar resvalando mais claramente para uma etapa recessiva. Vale lembrar seu desempenho no acumulado dos dois últimos anos: apenas +0,9% em 2017, quando a indústria geral crescia +2,5%, e -0,2% em 2018. Agora no início de 2019, chegou a -1,4%, puxado por combustíveis, calçados, têxteis e vestuário e farmacêutica.
A partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de março divulgados hoje pelo IBGE, a produção industrial nacional registrou retração de 1,3% frente ao mês de fevereiro de 2019, segundo dados livres de influência sazonal. Para o acumulado de doze meses registrou-se decréscimo de 0,1%, e para o acumulando do ano registrou-se retração de 2,2%. Em comparação a março de 2018, aferiu-se queda de 6,1%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, dos cinco segmentos analisados apenas bens de capital (0,4%) apresentou expansão. Os demais segmentos apresentaram retração: bens de consumo (2,0%), bens intermediários (-1,5%), bens duráveis (-1,3%) e bens semiduráveis e não duráveis (-1,1%).
No resultado observado na comparação com o mês de março de 2018, todos os cinco seguimentos analisados apresentaram retração: bens de duráveis (-15,8%), bens de capital (-11,5%), bens de consumo (-7,7%) e bens semiduráveis e não duráveis (-5,2%) e bens intermediários (-4,4%). Para o índice acumulado nos últimos doze meses, registrou-se crescimento em três dos cinco segmentos analisados: bens de capital (3,6%), bens duráveis (2,9%) e bens de consumo (0,3%). Para os demais segmentos registraram-se retrações: bens intermediários (-0,6%) e bens semiduráveis e não duráveis (-0,5%).
Setores. Na comparação com março de 2018, houve expansão no nível de produção em 4 dos 26 ramos pesquisados: fabricação de bebidas (9,9%), fabricação de produtos de fumo (9,7%), fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (5,0%), fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (3,0%). De outro lado, os demais segmentos apresentaram retrações, sendo as maiores em: impressão e reprodução de gravações (-30,9%), fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-23,7%), fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-22,1%), fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (-13,3%) fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria (-11,8%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-11,8%) e fabricação de móveis (-11,6%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2019 frente igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou crescimento em 5 dos 26 ramos analisados, sendo os maiores: fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (5,4%), fabricação de bebidas (5,0%), fabricação de produtos diversos (4,8%), fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (4,2%). De outro lado, os demais segmentos apresentaram decréscimos, sendo os maiores em: fabricação de produtos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-13,0%), impressão e reprodução de gravações (-11,3%), fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-10,6%), fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-10,5%), fabricação de produtos de madeira (-7,9%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-6,0%), fabricação de máquinas e equipamentos (-4,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4,3%).