Análise IEDI
O retrocesso paulista
Os dados divulgados hoje pelo IBGE permitem qualificar, do ponto de vista regional, a inflexão do setor industrial na virada de 2018 para 2019. Como vimos na semana passada, a indústria já acumula dois trimestres seguidos de retração, não havendo no horizonte nenhum fator contundente que possa recolocá-la nos trilhos de um dinamismo positivo e vigoroso. Ao contrário, as expectativas em relação ao resultado de 2019 só vêm caindo.
Se o quadro do setor como um todo é bastante complicado, há estados que conseguem apresentar um desempenho ainda mais adverso, como São Paulo. Entretanto, embora as perdas sejam disseminadas, há também quem foi capaz de fugir à regra, preservando sua trajetória de crescimento nos últimos meses, como os estados do Sul. A Análise IEDI de hoje dará ênfase a essas duas realidades distintas.
Antes, porém, convém pontuar o quão difundidas foram as variações negativas neste primeiro trimestre de 2019. Do total de 15 localidades acompanhadas pelo IBGE, 10 delas ficaram no vermelho na comparação frente ao mesmo período do ano anterior. Ou seja, 67% tiveram um começo de ano recessivo. No mês de março, o balanço chegou a ser pior, com 12 localidades (80%) em declínio.
Ao todo, 6 localidades das 10 que tiveram queda no 1º trim/19 caíram mais do que o total Brasil (-2,2% ante 1º trim/18). Ainda que não tenha tido uma das quedas mais intensas, o desempenho de São Paulo é dos mais graves sobretudo por sua duração. A indústria paulista já soma três trimestres consecutivos de queda, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Brasil: +1,2% no 3º trim/18; -1,2% no 4º trim/18 e -2,2% no 1º trim/19;
• São Paulo: -1,0%; -4,0% e -2,6%, respectivamente;
• Amazonas: -5,6%; -3,1% e -5,1%;
• Nordeste: +3,0%; -1,6% e -4,4%;
• Rio Grande do Sul: +12,3%; +8,8% e +5,5%, respectivamente.
Com isso, o nível da produção industrial de São Paulo em mar/19 encontra-se cerca de 5% abaixo daquele de jun/18. O retrocesso paulista tampouco foi causado por um ou outro ramo. No 1º trim/19, 72% dos seus ramos apresentaram resultados negativos (com destaque para veículos, alimentos, eletrônicos e máquinas e equipamentos) e dentre estes 70% registram queda há pelo menos dois trimestres consecutivos. Ou seja, em São Paulo as perdas são intensas, disseminadas e reincidentes.
Como São Paulo, há também outros casos que passam por dificuldades que não são de hoje, a exemplo do Amazonas, em queda nos últimos três trimestres, da região Nordeste como um todo, que viu poucos sinais de recuperação até agora, além de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás. Em resumo, praticamente todas as grandes regiões do país têm enfrentado um novo recuo industrial.
A única exceção a esta realidade adversa tem sido a região Sul, cujos estados em maior ou menor grau conseguiram se manter no azul. A indústria do Rio Grande do Sul, que cresceu +5,5% no 1º trim/19, é aquela que apresenta o maior número de ramos em alta. Ao todo, 71% deles cresceram no período, com destaque para veículos, produtos de metal, máquinas e equipamentos e couro e calçados. O único senão desta trajetória gaúcha é a desaceleração que vem ocorrendo desde o 3º trim/18.
Santa Catarina, por sua vez, cresceu +2,8% em jan-mar/19 ante o mesmo período do ano anterior. Tal resultado foi alavancado por 67% dos ramos de sua indústria, sobretudo por máquinas e aparelhos elétricos, máquinas e equipamentos, produtos de metal, metalurgia e minerais não metálicos. Só não cresceu mais devido a quedas em ramos de peso no estado, como alimentos e confecção e vestuário.
Já o Paraná teve aumento de +7,7% da produção em jan-mar/19, o melhor desempenho do trimestre entre todas as localidades acompanhadas pelo IBGE. Neste caso, porém, as altas foram mais concentradas do que nos demais estados do Sul, atingindo 54% dos ramos da indústria paranaense. Três ramos foram os que realmente puxaram o resultado: alimentos, veículos e derivados de petróleo e coque, que juntos representam 60% da estrutura industrial do estado.
Na passagem de fevereiro para março de 2019, a produção industrial brasileira registrou retração de 1,3%, a partir dos dados dessazonalizados. Entre os 15 locais pesquisados, seis registraram incremento: Espírito Santo (3,6%), Rio de Janeiro (2,9%), Goiás (2,3%), Paraná (1,5%), Santa Catarina (1,2%) e Rio Grande do Sul (1,0%). As demais regiões registraram retração: Pará (-11,3%), Bahia (-10,1%), Nordeste (-7,5%), Mato Grosso (-6,6%), Pernambuco (-6,0%), Minas Gerais (-2,2%), Ceará (-1,7%), São Paulo (-1,3%) e Amazonas (-0,5%).
Na comparação frente a março de 2018 verificou-se variação negativa de 6,1% da indústria nacional, sendo que três dos 15 locais pesquisados registraram acréscimos: Rio Grande do Sul (3,4%), Santa Catarina (3,0%) e Paraná (2,4%). Para as demais regiões observaram-se quedas: Pará (-12,5%), Mato Grosso (-12,3%), Espírito Santo (-11,1%), Amazonas (-10,8%), Minas Gerais (-8,2%), São Paulo (-7,3%), Nordeste (-7,0%), Bahia (-6,6%), Ceará (-5,4%), Pernambuco (-4,4%), Rio de Janeiro (-1,4%) e Goiás (-1,1%).
Analisando para o acumulado do ano (janeiro a março de 2019) frente a igual período de 2018 aferiu-se decréscimo de 2,2% para a indústria nacional, sendo que dos 15 locais pesquisados, 5 registraram crescimento: Paraná (7,8%), Rio Grande do Sul (5,5%), Santa Catarina (2,8%), Goiás (2,3%) e Ceará (0,3%). Por outro lado, os estados restantes apresentaram variações negativas: Espírito Santo (-8,5%), Amazonas (-5,1%), Mato Grosso (-5,0%), Nordeste (-4,4%), Bahia (-3,5%), São Paulo (-2,6%), Minas Gerais (-2,5%), Pernambuco (-2,4%) e Rio de Janeiro (-1,5%).
São Paulo. Na comparação com o mês de fevereiro de 2019, a produção da indústria paulista registrou queda de 1,3%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a março de 2018, houve decréscimo de 7,3%. Analisando os dados acumulados do ano frente ao mesmo período do ano anterior, registrou-se retração de 2,6%, no entanto com expansões nos seguintes setores: bebidas (12,5%), outros produtos químicos (3,6%), produtos de minerais não metálicos (2,3%), produtos têxteis (1,9%) e coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (1,6%). Por outro lado, os cinco setores que apresentaram quedas mais expressivas foram: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-21,4%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-8,5%), sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene (-6,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-5,5%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e óticos (-4,4%).
Rio de Janeiro. Na comparação com o mês de fevereiro de 2019, a produção da indústria carioca registrou incremento de 2,9%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a março de 2018, houve retração de 1,4%. No acumulado do ano, aferiu-se variação negativa de 1,5% sendo que os setores com maiores contribuições positivas foram: produtos alimentícios (12,7%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (9,5%), produtos de minerais não-metálicos (4,2%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (3,6%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (3,0%). Por outro lado, os cinco setores com maiores variações negativas, foram: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-58,2%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-19,2%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-10,8%), metalurgia (-10,6%) e outros produtos químicos (-10,3%).
Rio Grande do Sul. Por fim, na comparação com o mês de fevereiro de 2019, a produção da indústria gaúcha apresentou expansão de 1,0%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a março de 2018, houve incremento de 3,4%. Já no acumulado do ano houve crescimento de 5,5%. Os setores que registraram as maiores variações positivas, para o acumulado do ano, foram: veículos automotores, reboques e carrocerias (27,7%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (18,8%), bebidas (17,9%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (16,8%) e produtos do fumo (11,7%). As maiores retrações se deram nos setores de celulose, papel e produtos de papel (-11,7%), produtos de borracha e de material plástico (-8,8%), produtos alimentícios (-7,0%) e outros produtos químicos (-2,9%).