Análise IEDI
Inflexão também no varejo
Além do quadro recessivo na indústria, 2019 também começou com o comércio varejista pisando no freio. Entre janeiro e março, as vendas reais do varejo ficaram virtualmente estagnadas e, se incluídos os segmentos de automóveis, autopeças e material de construção, seu dinamismo caiu à metade daquele do final de 2018. Este é mais um dado que sugere resfriamento da atividade econômica neste início de ano.
No acumulado do primeiro trimestre de 2019, as vendas reais do varejo restrito variaram apenas +0,3% frente ao mesmo período do ano anterior. Em seu conceito ampliado, o crescimento obtido foi maior, de +2,3%, mas bem abaixo da alta de +4,4% do 4º trim/18.
Outro sinal de inflexão do setor, tem sido a evolução titubeante na margem, que conta com correção sazonal. Em seu conceito restrito, o varejo ficou virtualmente parado desde a queda de -2,2% em dez/18: +0,5% em jan/19, 0% em fev/19 e +0,3% em mar/19. Já o varejo ampliado tem intercalado variações positivas e negativas, sem que isso leve a algum lugar: em mar/19 encontrava-se no mesmo nível de venda de nov/18.
Deste modo, o indicador de tendência de mais longo prazo, aferida a partir do acumulado em doze meses frente ao mesmo período do ano anterior, mostra, no início de 2019, um momento mais agudo da trajetória de desaceleração verificada desde o segundo trimestre do ano passado. A involução foi de +7% em abr/18 para +3,9% em mar/19 no conceito ampliado e de +3,8% em mar/18 para +1,3% em mar/19 no conceito restrito.
A perda de dinamismo nesta fase mais recente tem sido provocada, em sua maior parte, por segmentos do varejo mais dependentes da renda corrente das famílias, como supermercados, alimentos, bebidas e fumo; combustíveis e tecidos, vestuário e calçados. Este tem sido o custo da permanência do desemprego em patamares elevados e da preponderância de ocupações de menor qualidade no pouco emprego que vem sendo gerado.
Nem por isso o quadro daqueles segmentos dependentes do crédito se mostrou mais promissor. Cresceram menos que vinham crescendo e houve casos de quem voltou ao vermelho, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Varejo restrito: +1,1% no 3º trim/18; +2,2% no 4º trim/18 e +0,3% no 1º trim/19;
• Varejo ampliado: +4,0%; +4,4% e +2,3%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +2,4%; +2,1% e -0,9%;
• Tecidos, vestuário e calçados: -1,7%; +1,6% e +0,5%
• Móveis e eletrodomésticos: -4,1%; -2,0% e -1,9%;
• Outros artigos de uso pessoal e doméstico: +6,0%; +8,5% e +4,1%;
• Veículos e autopeças: +14,5%; +13,3% e +8,4%, respectivamente.
Assim, os segmentos do varejo podem ser divididos em quatro situações. No primeiro caso, estão aqueles que voltaram a cair no 1º trim/19, como supermercados, alimentos, bebidas e fumo e móveis e eletrodomésticos. Já o segundo caso compreende os ramos que praticamente ficaram estagnados, como combustíveis e tecidos, vestuário e calçados.
Em franca desaceleração é a situação das vendas reais de outros artigos pessoais e domésticos, que inclui as lojas de departamento, e de veículos e autopeças. Estes dois segmentos mais o de móveis e eletrodomésticos, que se saiu pior ainda, podem ter sido influenciados pela desaceleração do crédito às famílias no 1º trim/19, cujas concessões perderam ¼ de seu dinamismo na entrada do ano e tiveram majoração de suas taxas médias de juros, segundo os dados do Banco Central.
Em uma quarta situação bastante distinta ficaram as vendas de equipamentos e materiais para escritório, informática e de comunicação e de material de construção ao registraram aceleração em jan-mar/19. No primeiro caso, em que a evolução tecnológica joga um papel importante, passaram de +0,9% no 4º trim/18 para +3,9% e no segundo caso de +2,5% para +3,6%, respectivamente, muito provavelmente em função da melhora do quadro da construção urbana.
A partir dos dados de março de 2019 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional, na série com ajuste sazonal, registrou acréscimo de 0,3%. Para o acumulado dos últimos doze meses aferiu-se incremento de 1,3%, e para o acumulado do ano verificou-se variação positiva de 0,3%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, houve incremento 1,1% em relação a fevereiro de 2019, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao mesmo mês de 2018, houve retração de 3,4%. Para o acumulado dos últimos 12 meses registrou-se variação positiva de 3,9%, e no acumulado do ano aferiu-se acréscimo 2,3%.
A partir de dados dessazonalizados, três dos oito setores registraram variações positivas frente ao mês imediatamente anterior: equipamentos e matérias para escritório, informática e comunicação (2,9%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (1,4%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,7%). Por outro lado, os demais seguimentos apresentação queda: livros, jornais, revistas e papelaria (-4,1%), tecidos, vestuário e calçados (-2,5%), combustíveis e lubrificantes (-0,8%), hipermercado, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,4%) e móveis e eletrodomésticos (-0,1%). Para o comércio varejista ampliado, houve incremento de 1,1% na mesma base de comparação, sendo que veículos, motos, partes e peças expandiram em 4,5% e material de construção cresceu 2,1%.
Em relação ao mês de março de 2018, registraram-se incrementos em duas das oito atividades que compõem o varejo: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (3,8%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,6%). Em sentido oposto, os segmentos restantes apresentaram retração: livros, jornais, revistas e papelaria (-36,7%), tecidos, vestuário e calçados (-5,7%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-5,7%), móveis e eletrodomésticos (-4,8%), combustíveis e lubrificantes (-4,3%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-3,3%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se decréscimo de 3,4%, com retração de 1,2% em veículos e motos, partes e peças e queda de 0,4% em material de construção.
Na análise do acumulado do ano (janeiro-março de 2019) frente a igual período de 2018, houve incremento em cinco dos oito segmentos analisados: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (6,9%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (4,0%), equipamentos e materiais para escritório, informática, e comunicação (3,9%), tecidos, vestuário e calçados (0,5%) e combustíveis e lubrificantes (0,1%). Para os demais segmentos registraram-se decréscimos: livros, jornais, revistas e papelaria (-29,4%), móveis e eletrodomésticos (-1,9%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,9%). Para o comércio varejista ampliado houve incremento de 2,3%, com crescimento de 8,3% em veículos e motos, partes e peças e expansão 3,5% material e construção.
Por fim, comparando março de 2019 com março de 2018, 7 das 27 unidades federativas apresentaram incrementos no volume de comércio: Acre (4,6%), Espírito Santo (2,6%), Tocantins (2,0%), Amapá (1,4%), Pará (1,1%), Santa Catarina (0,5%) e Goiás (0,2%). Nos demais estados foram registrados decréscimos: Paraíba (-10,7%), Paraná (-9,3%), Piauí (-7,7%), Alagoas (-7,1%), Distrito Federal (6,8%), Rio de Janeiro (-6,8%), Minas Gerais (-6,6%), Pernambuco (-6,6%), Rio Grande do Norte (-6,5%), Ceará (-5,7%), Sergipe (-4,5%), Roraima (-4,4%), Bahia (-4,3%), São Paulo (-4,0%), Rondônia (-3,3%), Rio Grande do Sul (-3,2%), Mato Grosso (-1,7%), Maranhão (-1,4%), Amazonas (-1,3%) e Mato Grosso do Sul (-1,3%).