Análise IEDI
Indústria puxa os serviços para baixo
Como se sabe, a indústria estabelece relações de demanda bastante fortes com outras atividades econômicas a ponto de, com seu dinamismo ou com a falta dele, promover crescimento ou declínio de outros setores. Isso acontece em relação à agropecuária, mas também com o setor de serviços e os dados do 1º trimestre de 2019, divulgados hoje pelo IBGE, mostram bem este fato.
No 1º trim/19, o faturamento real dos serviços manteve-se no positivo, a despeito do declínio pronunciado de março (-2,3% ante mar/18), mas continuou crescendo muito pouco, como tem sido o padrão desde meados do ano passado. O resultado agora foi de +1,1% frente ao mesmo período do ano anterior, muito restringido por aqueles segmentos que refletem mais de perto o dinamismo da atividade econômica e industrial do país.
Foram duas pedras no caminho do setor de serviços neste início de ano. O maior obstáculo coube ao segmento de serviços de transporte, seus auxiliares e correio, que voltou a registrar queda: -1,6% frente ao 1º trim/18, algo que não ocorria desde início de 2017. Este é um dado que indica, sem margem de dúvida, que a economia brasileira não vem se saindo bem e pode estar deixando para trás sua fase de recuperação.
Outro entrave compreendeu os serviços profissionais, administrativos e complementares, que são prestados às empresas. Neste caso a queda tem sido menos intensa, porém persistente. Ao registrar -0,7% no 1º trim/19, este segmento completou 17 trimestres seguidos de perda de faturamento real.
O mau desempenho nestes dois ramos, que se vinculam mais diretamente à indústria, pode vir a retirar ainda mais dinamismo dos serviços caso a produção industrial siga, nos próximos meses, a trajetória descendente que vem apresentando. Por ora, os serviços como um todo, que foi o último grande setor da economia a começar a se recuperar, ainda não sofreram uma inflexão, mas o risco não está totalmente descartado. Em março, o acumulado em doze meses (+0,6%) já apontou uma pequena reversão da tendência de melhora, a primeira desde fev/17.
Assim, quem tem contribuído para os resultados positivos dos serviços são aqueles segmentos baseados na demanda das famílias, como mostram as variações interanuais abaixo. É o caso, evidentemente, dos serviços prestados às famílias, mas também de outros segmentos que igualmente fazem parte do consumo familiar, como serviços de informação e comunicação e outros serviços.
• Total Serviços: +0,7% no 3º trim/18; +0,9% no 4º trim/18 e +1,1% no 1º trim/19;
• Serviços prestados às famílias: +1,7%; +2,8% e +4,4%, respectivamente.
• Serviços de informação e comunicação: +0,5%; +1,8% e +3,4%;
• Serviços profissionais, adm.e complementares: -1,5%; -1,7% e -0,7%
• Transportes, seus auxiliares e correio: +2,3%; +1,0% e -1,6%;
• Outros serviços: -0,6%; +2,9% e +3,2%, respectivamente.
A trajetória recente em todos estes três segmentos em crescimento no 1º trim/19 é de aceleração, o que, se assim permanecer, poderá compensar eventuais deteriorações nos dois segmentos anteriores, cuja demanda segue um perfil mais corporativo.
Os serviços prestados às famílias atingiram um ritmo de crescimento de +4,4% ante o 1º trim/18, impulsionados por seu componente de serviços de alojamento e alimentação (+5,2%), já que o componente outros serviços prestados às famílias parou de cair mas tampouco tem conseguido crescer (+0,1% tanto no 4º trim/18 como no 1º trim/19).
Serviços de informação e comunicação cresceram +3,4%, quase o dobro do resultado do 4º trim/18, devido ao componente tecnologia da informação, cuja alta no 1º trim/19 foi de +14,1%, estimulada pelas inovações da área e a consequente mudança nos hábitos de famílias e empresas.
Já o segmento de outros serviços, que reúne um conjunto bastante diversificado de atividades, embora de forma mais modesta, também reforçou seu ritmo de expansão ao passar de +2,9% no 4º trim/18 para +3,2% no 1º trim/19.
Conforme os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados hoje pelo IBGE para o mês de março, o volume de serviços prestados registrou retração de 0,4% frente a fevereiro de 2019, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior (março/2018) aferiu-se queda de 2,3%. No acumulado de 12 meses registrou-se incremento de 0,6% e para o acumulado do ano houve acréscimo de 1,1%.
Para a comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, dois dos cinco segmentos analisados registraram incremento em relação ao mês imediatamente anterior: serviços prestados às famílias (1,4%) e transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (0,5%). Os demais segmentos apresentaram decréscimos: serviços de informação e comunicação (-1,7%), outros serviços (-0,2%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,1%). Já para o segmento das atividades turísticas registrou-se incremento de 4,8% na mesma base de comparação.
Frente a março de 2018, dois dos cinco segmentos analisados registraram variação positiva: serviços prestados às famílias (4,4%) e serviços de informação e comunicação (0,8%). Por outro lado, os segmentos restantes apresentaram retrações: transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-7,1%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-2,7%) e outros serviços (-1,3%). Ainda para esta base de comparação, as atividades turísticas apresentaram crescimento de 1,9% frente a março de 2018.
Na análise para o acumulado do ano, três dos cinco segmentos analisados registraram variação positiva: serviços prestados às famílias (4,4%), serviços de informação e comunicação (3,4%) e outros serviços (3,2%). De outra forma, os demais segmentos apresentaram queda: transportes, serviços, auxiliares dos transportes e correio (-1,6%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,7%). Para a mesma base de comparação, o segmento de atividades turísticas apresentou incremento de 3,5%.
Na análise por unidade federativa, no mês de março de 2019 comparado ao mesmo mês do ano anterior, 4 dos 27 estados apresentaram crescimentos: Amazonas (2,5%), São Paulo (1,4%), Santa Catarina (0,5%) e Bahia (0,4%). Para as outras unidades federativas registraram-se quedas, com as maiores no: Amapá (-15,6%), Mato Grosso (-10,8%), Rondônia (-9,9%), Roraima (-9,9%), Acre (-9,8%), Piauí (-8,5%), Goiás (-8,5%), Rio de Janeiro (-7,4%) e Ceará (-7,3%).
Por fim, analisando o acumulado do ano, 11 dos 27 estados aferiram variação positiva, sendo as maiores: São Paulo (4,6%), Tocantins (3,8%), Maranhão (3,0%), Distrito Federal (2,3%), Santa Catarina (2,3%), Amazonas (2,1%), Sergipe (0,9%) e Mato Grosso do Sul (0,6%). Para os demais estados houve queda, sendo as maiores no: Amapá (-13,5%), Acre (-12,1%), Ceará (-5,7%), Rondônia (-5,5%), Piauí (-5,4%), Mato Grosso (-4,2%) e Rio de Janeiro (-4,2%).