Análise IEDI
O fator juros
Os dados divulgados hoje pelo Banco Central mostram que, mal começou a melhorar, e o quadro do crédito corporativo já dá novos sinais de retrocesso. Em abril, assim como em março, as concessões cresceram muito pouco em termos reais, sinalizando um giro muito baixo dos negócios, mas também o constrangimento de alguns canais de financiamento, notadamente o BNDES, mas não apenas.
Os novos empréstimos às empresas, que em termos reais tinham registrado expansão de +18% no 3º trim/18, cresceram apenas 9,5% no 1º trim/19, evolução esta que ficou ainda mais fraca no mês passado. A variação foi de meros +2,6% frente a abr/18, já descontada a inflação medida pelo IPCA.
Na origem deste movimento encontram-se tanto as fontes oficiais como as linhas de crédito cujas condições são livremente pactuadas entre as partes. No primeiro caso, ganha destaque a desaceleração do crédito do BDNES deste março último, a retração do crédito rural e a volatilidade do financiamento imobiliário. No segundo caso, são as linhas do crédito livre para capital de giro e desconto de duplicatas que crescem menos, enquanto conta garantida e desconto de cheques sofrem contração.
Assim, a expectativa de o crédito corporativo deixar de ser um obstáculo para a recomposição do financiamento geral da economia pode vir a ser frustrada, caso persista este encolhimento do ritmo de contratação de novos empréstimos às empresas. Não por outra razão o crescimento das concessões totais também refluiu de +12,6% no final de 2018 para +8,7% em abr/19.
Por ora, o crédito às famílias continua mantendo uma expansão muito próxima daquela do final do ano passado, como mostram a seguir as variações frente ao mesmo período do ano anterior.
• Concessões reais totais: +12,6% no 4º trim/18; +9,7% no 1º trim/19 e +8,7% em abr/19;
• Concessões reais às empresas: +12,2%; +9,5% e +2,6%, respectivamente;
• Concessões reais às famílias: +12,9%; +9,8% e +13,6%, respectivamente.
Este comportamento do crédito às pessoas físicas pode, porém, vir a arrefecer em resposta à evolução das taxas médias de juros. Embora em ritmo bastante lento frente ao seu elevado patamar, os juros nominais destes empréstimos têm registrado elevação. Na média das linhas do crédito livre, as taxas cobradas das famílias progrediram de 50,8% ao ano no 4º trim/18 para 52,7% a.a. no 1º trim/19 e para 53,6% a.a. em abril.
O fator juros também pode estar pesando no segmento corporativo. Desde final do ano passado, as taxas nominais destes empréstimos pararam de cair. Se considerarmos a parcela livre do crédito, que reflete melhor as condições de mercado, o patamar médio é de 20% ao ano tanto no 4º trim/18 como no 1º trim/19 e em abr/19.
Estes dados podem estar sugerindo que o ciclo positivo de expansão do crédito, propiciado pelas reduções passadas da taxa básica de juros (Selic) começa a se esgotar e, com isso, a contribuir menos para a renegociação de dívidas em atraso dos agentes e a reativação dos gastos de empresas e famílias.
Os dados de crédito apresentados pelo Banco Central hoje registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,2 trilhões em abril. O saldo de crédito a pessoas físicas expandiu em 0,8%, na comparação do mês com o mês anterior (R$1,8 trilhão), e na carteira de pessoas jurídicas houve retração de 1,1%, com valor de R$1,4 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o saldo total de crédito manteve trajetória de incremento, com variação positiva de 5,4% relativamente a abril de 2018.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$ 1,784 bilhões, crescimento de 0,3% em relação ao mês anterior e incremento de 11,3% quando comparado com abril de 2018. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$ 984,3 bilhões, aferindo incremento de 1,3% em relação ao mês imediatamente anterior e variação positiva de 13,2% quando comparado com o mês de abril de 2018. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se R$ 799,9 bilhões, declínio de 1,0% em relação ao mês anterior e acréscimo de 9,0% na comparação com o mesmo período de 2018.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$ 1,483 bilhões para abril em termos nominais, indicando decréscimo de 0,9% frente ao mesmo mês de 2018 e retração de 0,4% quando comparado ao mês imediatamente anterior. O saldo registrado para pessoas físicas foi de R$ 859,6 bilhões, crescimento de 5,5% frente ao mês de abril de 2018. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 623,9 bilhões, queda de 8,5% na mesma base de comparação.
Para o mês de abril de 2018, foram concedidos R$ 328,5 bilhões em novas operações de crédito, expansão de 9,1% frente ao montante de R$ 301,2 bilhões observado em abril de 2018. Deste volume, R$ 305,3 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 23,1 bilhões de recursos direcionados, o que representou, frente ao mesmo mês do ano anterior, variação positiva de 10,5% para recursos livres e decréscimo de 7,6% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 126,6 bilhões), cartão de crédito (R$ 99,0 bilhões), crédito não rotativo (R$ 48,1 bilhões), cheque especial (R$ 32,5 bilhões) e crédito pessoal (R$ 30,5 bilhões). Já para as pessoas jurídicas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$ 25,2 bilhões), cheque especial (R$ 18,3 bilhões), capital de giro (R$ 15,8 bilhões) e conta garantida (R$ 15,6 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 7,6 bilhões), crédito rural (R$ 6,0 bilhões), microcrédito (R$ 1,0 bilhão) e BNDES (R$ 869,0 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o crédito rural (R$ 4,4 bilhões), BNDES (R$ 1,7 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 555 milhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 744,5 bilhões, o que significa um crescimento nominal de 5,5% frente a abril de 2018, com as maiores expansões verificadas em serviços financeiros (16,7%), geral – bens de capital (15,8%), meios aquaviário e aéreo (12,5%) e via terrestre (11,0%). Para o setor da indústria aferiu-se o valor de R$ 630,9 bilhões, retração de 4,8% frente ao mesmo mês do ano anterior, e por fim, o setor agropecuário registrou crédito de R$ 24,2 bilhões, expansão de 6,5% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mesmo mês de abril de 2018.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,642 trilhões, representando 50,3% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$ 1,135 trilhão, representando 34,8%, e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 489,4 bilhões, 15,0% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das operações contratadas em abril permaneceu estável em 25,3% a.a., acumulando queda de 0,4 p.p. na comparação interanual. No crédito livre a pessoas físicas, a taxa retraiu 0,2 p.p. no mês e 3 p.p. em doze meses, para 53,6% a.a., acompanhando reduções em cartão rotativo regular (-3,4 p.p.), cartão parcelado (-7,7 p.p.) e consignado (-0,3 p.p.). No crédito livre a empresas, a taxa média das concessões alcançou 19,9% a.a., elevação de 0,1 p.p. no mês e queda de 0,9 p.p. em doze meses.