Análise IEDI
Os sinais de fragilidade na evolução do emprego
A situação do emprego no país continua evoluindo, segundo os dados da Pnad Contínua do IBGE divulgados hoje. Isso, porém, vem se dando em uma velocidade muito baixa, mesmo que agora no trimestre móvel findo em abril a criação de vagas tenha sido um pouco mais alta do que no final do ano passado.
Frente ao mesmo período do ano anterior, o número total de ocupados aumentou +2,1% e o emprego com carteira assinada conseguiu registrar um resultado positivo digno de nota (+1,5%), depois de um longo período de retração. Mas, cabe sublinhar que isso pode estar sendo determinado por um efeito defasagem, ainda não refletindo o retrocesso que a recuperação econômica sofreu neste início de ano.
O emprego reage com defasagem à alternância de etapas do ciclo econômico. Convém lembrar que algo semelhante ocorreu no passado recente, com a maior taxa média de desemprego anual (12,7%) sendo atingida só em 2017, após dois anos de fortes perdas no PIB.
Por essa razão, o que os últimos dados de emprego registram pode ter fôlego curto e não ameniza o dramático quadro de elevado desemprego que ainda persiste. No trimestre móvel findo em abr/19, a taxa de desocupação chegou a 12,5% correspondendo a 13,2 milhões de pessoas sem trabalho.
E isso sem falar no número de pessoas desalentadas e do contingente de subocupados, que não param de crescer a um ritmo muito superior ao da ocupação, como mostram as variações interanuais abaixo. Ante fev-abr/18, o desalento, isto é, as pessoas de desistiram de procurar um emprego depois de seguidos insucessos, aumentou 4,3%. Hoje, a taxa de desemprego seria maior se estas pessoas estivessem à busca de um posto de trabalho.
• População ocupada: +1,6% em ago18-out18; +1,0% em nov18-jan19; +2,1% em fev19-abr19;
• População desalentada: +10,6%; +17,2% e +4,3%, respectivamente;
• População subocupada por insuficiência de horas: +10,6%; +7,4% e +11,9%, respectivamente.
Desocupação ainda muito elevada e desalento em alta são sinais contundentes da fragilidade da reação atual emprego no país, que a tornam mais exposta a reveses do nível de atividade econômico, mas há outros.
Um deles tem sido o já referido crescimento da população subocupada por insuficiência de horas, isto é, pessoas que encontraram uma ocupação, mas que não conseguem trabalhar um número tal de horas que lhe assegure uma cesta de consumo considerada adequada. Por isso estão disponíveis e gostariam de trabalhar mais.
O número destes subocupados avançou +11,9% frente a fev-abr/18, somando +745 mil pessoas a mais nesta situação. Este contingente representa nada menos do que cerca de 40% da ocupação total criada neste período (+1,9 milhão). Este é um fator importante para entender o baixo dinamismo do consumo, que vem freando a recuperação do PIB.
Corrobora o que falamos acima o perfil da ocupação que vem sendo gerada, em sua maioria conta própria (que inclui os chamados bicos) e trabalho sem carteira assinada. Juntos, estes dois tipos de ocupação cresceram +3,9% frente a fev-abr/18, totalizando +1,3 milhão de pessoas, isto é, quase 70% da ocupação adicional criada no período.
Pelo fato de que estas são ocupações de menor qualidade, com rendimentos mais baixos e irregulares, dificultando inclusive um acesso ao mercado de crédito em melhores condições, o crescimento médio do total do rendimento real de todos os trabalhos avança pouco: apenas +0,6% em fev-abr/19 frente ao mesmo período do ano anterior.
Isso determina, junto com a evolução do emprego, um dinamismo modesto da massa de rendimentos reais, de +2,8% em fev-abr/19, que é um resultado maior do que foi no final de 2018, mas que está longe da marca entre 3,5% e 4% que já apresentou em meses anteriores. O ritmo atual não é suficiente para impulsionar significativamente o consumo familiar de bens e serviços.
O país poderia estar criando empregos melhores e em maior número se importantes setores como a indústria, o comércio e a agropecuária apresentassem maior ímpeto na criação de vagas e se a construção parasse de demitir, como tem feito sistematicamente desde meados de 2016.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação alcançou 12,5% no trimestre compreendido entre fevereiro a abril de 2019. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, novembro de 2018 a janeiro de 2019, houve acréscimo de 0,5 p.p., e frente ao mesmo trimestre do ano anterior houve decréscimo de 0,4 p.p, quando registrou 12,9%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.295, apresentando retração de 0,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior (nov-dez-jan), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve incremento de 0,6%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 206,8 bilhões no trimestre que se encerrou em abril, registrando queda de 0,3% frente ao trimestre imediatamente anterior e crescimento de 2,8% quanto ao trimestre do ano anterior (R$ 201,1 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada ficou em 92,4 milhões de pessoas, queda de 0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior (nov-dez-jan), e aferiu-se crescimento de 2,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (90,4 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados apresentou crescimento de 4,1%, com 13,2 milhões de pessoas. Já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se decréscimo de 1,4%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 105,5 milhões de pessoas, incremento de 0,6% frente ao trimestre imediatamente anterior e expansão de 1,7% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram variação positiva da ocupação foram os seguintes: Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (4,7%), Transporte, armazenagem e correios (4,6%), Alojamento e alimentação (4,4%), Outros serviços (4,1%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,4%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,9%), Indústria (0,9%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (0,3%) e Serviços domésticos (0,2%). De outro lado, o agrupamento Construção apresentou decréscimo na ocupação (-0,4%).
Por fim, frente ao mesmo trimestre do ano anterior, a população ocupada por posição na ocupação registrou expansão nas categorias: trabalhador por conta própria (4,0%), trabalho privado sem carteira (3,3%), trabalho privado com carteira (1,4%), setor público (1,2%) e empregador (0,8%). Nos seguimentos restantes observou-se decréscimos na mesma base de comparação: trabalho familiar auxiliar (-1,0%) e trabalho doméstico (-0,02%).