Análise IEDI
Sem uma engrenagem de crescimento
Em abril de 2019, a indústria continuou fora dos trilhos da recuperação, segundo os dados divulgados hoje pelo IBGE. A perda de produção chegou a -3,9% frente ao mesmo mês do ano passado, acentuando o retrocesso acumulado nestes quatro meses de 2019. Nem a variação de +0,3% na série com ajuste sazonal retira, por enquanto, a conclusão de que a indústria entrou novamente em recessão.
Assim, um mês após o outro, as quedas vêm se renovando, como resultado de fatores que vão muito além de certas dificuldades, que embora importantes para o recuo mais recente, são de caráter pontual. Entre elas está notadamente os efeitos negativos do desastre de Brumadinho, que provocaram um tombo no ramo extrativo de -16,4% frente a abr/18 e de -24% em relação a mar/19, livre de sazonalidade.
A engrenagem do crescimento industrial está travada por razões muito mais sistêmicas do que isso. A quebra das expectativas favoráveis desde o final do ano passado, diante dos problemas de articulação política para o encaminhamento das reformas estruturais e dos ruídos de comunicação do governo, atingiu tanto empresários como consumidores, prejudicando a demanda de bens duráveis, sejam eles para investimento ou para consumo.
Sem confiança já é difícil sustentar o crescimento da produção de bens de capital e de consumo duráveis, quanto mais em uma situação de financiamento que ainda não foi normalizada, tal como aquela que o país vive. Ao contrário, os sinais dos últimos meses foram de elevação dos juros dos empréstimos, sobretudo para as famílias, e menor expansão das concessões às empresas.
Resultado: os macrossetores de bens de capital e de bens de consumo duráveis acumulam queda de -3,1% e de -2,2% no quadrimestre jan-abr/19, respectivamente. Como mostram as variações interanuais a seguir, são estes os líderes do atual quadro recessivo, que para a indústria como um todo implica declínio de -2,7%.
• Indústria Geral: +4,4% em jan-abr/18; +0,7% em mai-ago/18; -1,5% em set-dez/18 e -2,7% em jan-abr/19;
• Bens de capital: +14,2%; +5,1%; +3,5% e -3,1%, respectivamente;
• Bens intermediários: +2,4%; +0,4%; -2,0% e -3,1%;
• Bens de consumo duráveis: 21,5%; +7,3%; -2,9% e -2,2%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -2,1%; -1,6%; -1,2% e -1,3%, respectivamente.
O desemprego, que permanece muito próximo de seus patamares recordes, e o baixo crescimento da massa de rendimentos reais tampouco favorecem os ramos de bens de consumo duráveis, mas são ainda mais negativos para os de bens de consumo semi e não duráveis, cuja evolução depende da renda corrente das famílias. Neste caso, a retração de -1,3% em jan-abr/19, embora não seja muito intensa, se dá sobre resultado de -0,3% no acumulado de 2018 como um todo.
Além destes fatores internos, há ainda um contexto internacional cada vez mais complexo diante da escalada de tensões comerciais, especialmente entre EUA e China, o que em nosso caso é agravado pela crise da economia argentina. Neste contexto, os problemas de competitividade da produção nacional pesam ainda mais e comprometem o recurso à exportação como meio de compensar o baixo dinamismo do mercado doméstico.
Em quantum, as exportações brasileiras de manufaturados acumuladas em jan-abr/19 registram retração de -5,6% frente ao mesmo período do ano anterior. Isso significa uma degradação importante em comparação com desempenho de +14,9% de jan-abr/18, contribuindo para a interrupção da recuperação industrial.
Refletindo a involução industrial como um todo, o macrossetor de bens intermediários, que produz insumos e componentes para os demais, não só registrou o declínio mais acentuado em jan-abr/19 (-3,1%), ao lado de bens de capital, como também tinha caído no 3º quadrimestre de 2019 (-2,0% ante o mesmo período do ano anterior).
Como as causas do retrocesso são de diferentes naturezas, as variações negativas aparecem de modo bastante difundido. Em abril de 2019 frente a abr/18 metade dos ramos acompanhados pelo IBGE ficaram no vermelho (13 dos 26). No acumulado de jan-abr/19, 73% dos ramos (19 dos 26) ficaram no vermelho.
Dentre os casos mais preocupantes pelos sucessivos meses de queda na comparação interanual estão equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (desde jun/18), produtos de madeira (desde out/18), papel e celulose (desde dez/18) e produtos farmacêuticos (desde jan/19).
Outros ramos com desempenho recente quase sempre negativo incluem alimentos (queda em 11 dos últimos 12 meses), móveis (queda em 8 dos últimos 10 meses), confecção de vestuário e acessórios (queda em 7 dos últimos 9 meses), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (queda em 7 dos últimos 8 meses) e máquinas e equipamentos elétricos e outros equipamentos de transporte (ambos com queda em 5 dos últimos 6 meses).
A partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de abril divulgados hoje pelo IBGE, a produção industrial nacional registrou crescimento de 0,3% frente ao mês de março de 2019, a partir de dados livres de influência sazonal. Para o acumulado de doze meses registrou-se retração de 1,1% e no acumulado do ano houve decréscimo de 2,7%. Em comparação a abril de 2018, aferiu-se queda de 3,9%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, dos cinco segmentos analisados quatro apresentaram crescimentos: bens de consumo duráveis (3,4%), bens de consumo (3,1%), bens de capital (2,9%) e bens de consumo semiduráveis e não duráveis (2,6%). Por outro lado, o segmento de bens intermediários registrou queda de 1,4%.
Na comparação frente ao mês de abril de 2018, apenas bens de consumo duráveis (3,4%) apresentou variação positiva. Todos os demais segmentos registraram retrações: bens intermediários (-6,1%), bens de consumo duráveis e não duráveis (-0,7%), bens de capital (-0,6%) e bens de consumo (-0,3%). Para o índice acumulado nos últimos doze meses, registrou-se incremento em dois dos cinco segmentos analisados: bens de capital (1,8%) e bens de consumo duráveis (0,6%). Os demais apresentaram variações negativas: bens intermediários (-1,5%), bens semiduráveis e não duráveis (-1,4%) e bens de consumo (-1,0%).
Setores. Na comparação com abril de 2018, houve crescimento no nível de produção em 12 dos 26 ramos pesquisados. Os maiores acréscimos estiveram nos seguintes segmentos: fabricação de produtos diversos (9,9%), fabricação de produtos de metal (5,4%), fabricação de couro, artigos de viagem e calçados (5,2%), fabricação de bebidas (5,2%), fabricação de produtos de fumo (4,7%) e fabricação de máquinas e equipamentos (4,4%). De outro lado, os demais segmentos apresentaram decréscimos, sendo os maiores em: impressão e reprodução de gravações (-27,1%), indústrias extrativas (-24,0%), outros equipamentos de transporte (-13,4%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-13,0%) e fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-6,5%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2019 frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou variação positiva em 7 dos 26 ramos analisados, sendo as maiores: fabricação de produtos diversos (6,1%), fabricação de produtos de metal (5,3%), fabricação de bebidas (5,0%), fabricação de produtos de minerais não metálicos (1,7%), fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (1,7%) e fabricação de produtos de fumo (0,9%). De outro lado, os segmentos restantes apresentaram retrações, sendo as mais expressivas em: impressão e reprodução de gravações (-15,7%), indústrias extrativas (-11,8%), fabricação de produtos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-11,3%), fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-11,3%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-9,8%), fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-8,2%) e produtos de madeira (-7,3%).