Análise IEDI
Os obstáculos ao crédito corporativo e o BNDES
Os dados divulgados hoje pelo Banco Central mostram que as concessões reais de crédito continuaram crescendo em maio de 2019. A expansão de +17,1% frente a maio do ano passado foi a taxa mais expressiva dos últimos meses. O quadro geral em 2019, porém, continua sendo de acomodação do ritmo de novas operações, devido a dois obstáculos muito presentes, sobretudo no segmento corporativo: retração do crédito oficial, em particular do BNDES, e esgotamento do ciclo de redução dos juros dos empréstimos.
Assim, o total das concessões reais acumuladas em janeiro a maio de 2019 registrou alta de +11% ante mesmo período do ano anterior, isto é, abaixo, mas ainda próximo, do desempenho de +11,9% de 2018 como um todo. Isso esconde, entretanto, uma perda de ímpeto muito mais acentuada no crédito corporativo, cujo resultado de +9,4% das concessões em jan-mai/19 é 1/3 inferior à alta de +13,8% de 2018.
Como mostram a seguir as variações interanuais das concessões reais acumuladas no ano, é o crédito às famílias quem continua fluindo sem sinais de perda de ímpeto. Não fosse isso, a inflexão da curva de expansão dos empréstimos totais seria muito mais evidente.
• Total das concessões reais: +4,1% em jan-dez/17; +11,9% em jan-dez/18 e +11% em jan-mai/19;
• Concessões reais às pessoas físicas: +8,6%; +10,4% e +12,2%, respectivamente;
• Concessões reais às pessoas jurídicas: -1,3%; +13,8% e +9,4%, respectivamente.
Um dos motivos por trás desta perda de dinamismo dos empréstimos às empresas está o custo dessas operações, que desde junho do ano passado parou de cair, com sua taxa média de juros oscilando em torno de 15,8% ao ano desde então. No segmento em que as condições do crédito são livremente pactuadas entre as partes e que, por isso, reflete melhor a situação de mercado, os juros médios cobrados das empresas são maiores e não vêm registrado melhoras recentes, ficando em torno de 20% ao ano entre jun/18 e mai/19.
Outro motivo que atua diretamente sobre essa desaceleração do financiamento corporativo é a continuada queda do crédito oficial. No acumulado de jan-mai/19 frente a igual período do ano anterior, as concessões reais do crédito direcionado a pessoas jurídicas recuaram -11,3%, isto é, muito além do declínio de 2018 inteiro (-3%).
Este comportamento afetou todos os principais componentes do crédito oficial, mas são as operações do BNDES que vêm encolhendo excessivamente há muito mais tempo. Agora em jan-mai/19, as concessões totais do BNDES às empresas, já descontada a inflação medida pelo IPCA, acumularam queda de -1,4% e têm chances de ficar pelo sexto ano seguido no vermelho.
Como o total dos novos empréstimos às empresas caiu por longo período, de início de 2014 a meados de 2017, e mal começou a se recuperar e já está passando por uma perda de ímpeto, o estoque geral dessas operações vem recuando quase que sistematicamente. Em maio de 2019 atingiu marca correspondente a 20,4% do PIB, a mais baixa desde julho de 2008.
Empresas de todos os setores perderam e hoje se encontram com saldos de crédito inferiores àqueles de antes da crise, mas o quadro do financiamento da indústria é dos mais graves por não ensaiar reação nem estancar a queda da sua relação crédito/PIB, muito em função da derrocada que a política econômica vem determinando no BNDES. Assim, a dificuldade de acesso ao crédito foi no passado e continua sendo na atualidade um componente da recessão industrial.
O estoque de financiamento à indústria como porcentagem do PIB total em maio de 2019 atingiu o patamar mais baixo desde o início da atual série do Banco Central em jan/12: apenas 9%. Dentre os ramos em pior situação estão a construção (1% do PIB), petróleo, gás e álcool (0,6%), bens de capital (0,5%) e química e farmacêutica (0,36%).
Os dados de crédito apresentados pelo Banco Central hoje registraram que o saldo das operações alcançou R$ 3,3 trilhões em maio, crescimento 0,6% no mês. O saldo de crédito a pessoas físicas cresceu em 0,9%, na comparação do mês com o mês anterior (R$1,8 trilhão), e na carteira de pessoas jurídicas houve decréscimo de 0,1%, alcançando R$1,4 trilhão. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o saldo total de crédito apresentou crescimento de 5,5%.
A carteira de crédito com recursos livres registrou R$ 1,810 bilhões, incremento de 1,4% em relação ao mês anterior e expansão de 11,9% quando comparado com maio de 2018. A parcela destas operações realizadas junto a pessoas físicas ficou em R$ 1.001,2 bilhões, aferindo expansão de 1,6% em relação ao mês imediatamente anterior e variação positiva de 14,0% quando comparado com ao mesmo mês do ano anterior. Para as operações junto a pessoas jurídicas aferiu-se R$ 809,5 bilhões, incremento de 1,2% em relação ao mês anterior e expansão de 9,4% na comparação com o mesmo período de 2018.
O estoque de crédito com recursos direcionados registrou valor de R$ 1,475 bilhões para maio, em termos nominais, indicando decréscimo de 0,5% frente ao mesmo mês do ano anterior e retração de 0,5% quando comparado ao mês imediatamente anterior. O saldo referente as pessoas físicas registrado foi de R$ 860,6 bilhões, variação positiva de 5,5% frente a maio de 2018. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 615,2 bilhões, decréscimo de 9,6% na mesma base de comparação.
Para o mês de maio de 2018, foram concedidos R$ 354,7 bilhões em novas operações de crédito, crescimento de 16,8% frente ao montante de R$ 303,8 bilhões observado em maio de 2018. Deste volume, R$ 327,6 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 27,2 bilhões de recursos direcionados, o que representou, quando comparados aos mesmos meses do ano anterior, incremento de 18,9% para recursos livres e variação negativa de 3,9% para recursos direcionados.
Para as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 131,6 bilhões), cartão de crédito (R$ 103,6 bilhões), crédito não rotativo (R$ 50,9 bilhões), cheque especial (R$ 33,3 bilhões) e crédito pessoal (R$ 32,1 bilhões). Quanto as pessoas jurídicas, as principais modalidades ficaram para desconto de duplicatas (R$ 30,8 bilhões), cheque especial (R$ 18,7 bilhões), capital de giro (R$ 18,7 bilhões) e conta garantida (R$ 15,7 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 8,0 bilhões), crédito rural (R$ 7,8 bilhões), microcrédito (R$ 1,1 bilhão) e BNDES (R$ 900,0 milhões). De outra forma, para as empresas, as principais modalidades ficaram com o crédito rural (R$ 5,0 bilhões), BNDES (R$ 2,9 bilhões) e os financiamentos imobiliários (R$ 487 milhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, por atividade econômica, a carteira de operações para o setor de serviços registrou R$ 744,8 bilhões, o que significa um incremento nominal de 4,9% frente a maio de 2018, e as maiores expansões ficaram para: serviços financeiros (18,0%), geral – bens de capital (13,8%), meios aquaviário e aéreo (11,0%) e geral – veículos automotores (9,4%). Para o setor da indústria aferiu-se o valor de R$ 627,8 bilhões, decréscimo de 5,2% frente ao mesmo mês do ano anterior, e por fim, o setor agropecuário registrou crédito de R$ 24,5 bilhões, incremento de 4,6% em termos nominais, quando comparado ao registrado no mesmo mês de maio de 2018.
Analisando a distribuição de crédito do sistema financeiro nacional por controle de capital, temos que as instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,643 trilhões, representando 50,0% do volume de crédito, as instituições financeiras privadas nacionais concederam R$ 1,151 trilhão, representando 35,0%, e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 492,0 bilhões, por sua vez correspondendo a 15,0% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros das concessões em maio atingiu 25,2% a.a. (-0,1 p.p. no mês, +0,4 p.p. em doze meses). No crédito livre, a taxa média aferida ficou em 38,5% a.a., após retrações de 0,4 p.p. e 0,6 p.p. nas mesmas bases de comparação, com reduções mensais de 0,7 p.p. e 0,4 p.p. nos segmentos de pessoas físicas (52,9% a.a.) e de pessoas jurídicas (19,5% a.a.). No crédito às famílias, as principais reduções ocorreram em cheque especial (-2,4 p.p.) e crédito pessoal não consignado (-7 p.p.); no crédito às empresas, destaque para descontos de duplicatas e recebíveis (-2 p.p.) e capital de giro (-0,3 p.p.).