Análise IEDI
Copo meio cheio meio vazio
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que o emprego cresceu no trimestre móvel findo em maio de 2019, contando com avanços em segmentos que até há pouco tempo permaneciam em crise. Esta pode ser considerada a metade cheia do copo. Mas também há uma metade vazia, que corresponde ao ritmo extremamente modesto em que vem ocorrendo a melhora.
Se tomarmos o panorama geral de 2019, não estamos muito longe de onde estávamos em 2018. A taxa de desocupação de 12,3% de mar-mai/19 encontra-se em um patamar elevadíssimo e é praticamente a mesma de um ano atrás (12,7% em mar-mai/18). O mesmo vale para a taxa de 25% de subutilização da força de trabalho, que, ademais, tem ficado progressivamente mais alta nos últimos anos devido ao desalento e aos subocupados por insuficiência de horas trabalhadas.
Do lado positivo, há dois dados a serem ressaltados. O primeiro deles é o emprego com carteira assinada, que, depois de 49 trimestres móveis consecutivos no vermelho, apresentou em mar-mai/19 sua terceira taxa positiva: +1,6% frente ao mesmo período do ano anterior. O segundo dado é a ocupação na construção, que acumulava 33 trimestres móveis seguidos de queda até agora em mar-mai/19, quando ficou estável (0%) em relação a mar-mai/18.
Em ambos os casos, as reações recentes se dão sobre bases muito baixas de comparação. O emprego com carteira permanece 10% abaixo do seu nível mais alto, atingido em meados de 2014, e a ocupação atual na construção é 19% inferior àquela da passagem de 2013 para 2014.
Com a estabilidade na construção, do ponto de vista setorial, não ocorreram no trimestre findo em maio de 2019 variações negativas em relação à situação de um ano atrás, como pode-se ver a seguir. Entretanto, nem tudo caminha em direção de uma recuperação mais vigorosa do emprego.
• Ocupação total: +2,7% ou +2,4 milhões de pessoas em mar-mai/19 ante mar-mai/18;
• Ocupação na agropecuária: +2,7% ou +223 mil;
• Ocupação na indústria: +0,8% ou 91 mil;
• Ocupação no comércio: +0,8% ou +134 mil;
• Ocupação em transporte: +5,6% ou +258 mil;
• Ocupação em alojamento e alimentação: +3,7% ou +193 mil;
• Ocupação em info., com., atividades financeiras, imob., adm. e profissionais: +5,8% ou +580 mil.
A indústria, que é um motor importante para a criação de postos de trabalho de maior qualidade e maior remuneração, vem registrando baixíssimo dinamismo em 2019. A etapa recessiva que a produção do setor vem enfrentando nos últimos meses fez com que a indústria perdesse o protagonismo que tinha apresentado na saída da crise, em 2017, na criação de novos empregos.
Agora em mar-mai/19, o emprego industrial variou apenas +0,8% frente ao mesmo período do ano anterior, ficando, assim, abaixo do crescimento médio da ocupação total, que foi de +2,6%. Também ficou aquém de seu próprio resultado obtido anteriormente, que chegou a atingir a marca de +5% na passagem de 2017 para 2018.
Em contrapartida, são os ramos de serviços quem tem puxado a ocupação. Alojamento e alimentação (+3,7% ante mar-mai/18), transporte (+5,6%), informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (+5,8%) e outros serviços (+6,0%) responderam por cerca de 70% da ocupação criada em mar-mai/19 em relação ao mesmo período de 2018.
As características do emprego neste conjunto de setores são bastante diversificadas, mas é frequente a existência de postos de trabalho sem carteira assinada ou por conta própria, dando acesso a rendimentos irregulares e mais modestos. Este pode ter sido um aspecto de grande influência sobre o retorno ao negativo do rendimento real em mar-mai/19.
Depois de se manter em crescimento desde o último trimestre de 2016, o rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou variação de -0,1% no trimestre findo em maio último, compensando o avanço da ocupação e funcionando como uma trava para a aceleração da massa de rendimentos.
Tanto em mar-mai/18 como em mar-mai/19, a massa de rendimentos reais teve o mesmo desempenho de +2,4% frente ao mesmo período do ano anterior. Ou seja, não houve melhora adicional. Este ritmo, entre 2% e 2,5%, que a massa tem registrado desde o começo de 2018 não é suficiente para dar força ao consumo e, consequentemente, para ajudar a acelerar o crescimento do PIB.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre março a maio de 2019 registrou 12,3%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, dezembro de 2018 a fevereiro de 2019, houve queda de 0,1 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve queda de 0,4 p.p., quando registrou 12,7%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.289, apresentando variação negativa de 1,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior (dez-jan-fev), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve decréscimo de 0,1%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 207,5 bilhões no trimestre que se encerrou em maio, registrando retração de 0,4% frente ao trimestre imediatamente anterior e incremento de 2,4% quanto ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 202,5 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 92,9 milhões de pessoas, incremento de 1,2% em relação ao trimestre imediatamente anterior (dez/18-fev/19), e aferiu-se variação positiva de 2,6% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (90,5 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu decréscimo de 0,5%, com 12,9 milhões de pessoas. Já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se crescimento de 1,6%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 105,9 milhões de pessoas, incremento de 1,0% frente ao trimestre imediatamente anterior e crescimento de 2,1% em relação ao mesmo trimestre de 2018.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram incremento da ocupação foram os seguintes: Outros serviços (6,0%), Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,8%), Transporte, armazenagem e correios (5,5%), Alojamento e alimentação (3,6%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,2%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (2,6%), Serviços domésticos (1,5%), Indústria (0,7%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,7%) e Construção (0,0%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou acréscimos nas seguintes categorias: trabalhador por conta própria (5,1%), trabalho privado sem carteira (3,3%), empregador (2,0%), trabalho familiar auxiliar (1,9%), trabalho privado com carteira (1,5%), trabalho doméstico (1,0%) e setor público (0,9%).