Análise IEDI
Tendência declinante
Desde o ano passado, a indústria não vinha bem, apresentando perda progressiva de dinamismo a ponto de voltar a registrar novos retrocessos na virada de 2018 para 2019. Os meses que se seguiram, inclusive maio último, cujos dados acabaram de ser divulgados pelo IBGE, em nada mudou o quadro. Mês após mês, já descontadas as eventuais sazonalidades, a indústria praticamente não saiu do lugar, mantendo-se em um nível de produção inferior à de um ano atrás.
O resultado de -0,2% em maio frente a abril de 2019 foi a terceira taxa negativa da série com ajuste sazonal, mantendo o padrão de variações muito próximas a zero, que tem caracterizado o presente ano. Isso indica que não há nenhum movimento que possa levantar a indústria do tombo que levou com a entrada do ano.
O desempenho acumulado nos cinco meses de 2019 frente ao mesmo período do ano anterior permanece negativo, em -0,7%, e só não foi pior devido à base de comparação interanual muito baixa para o mês de mai/19, que permitiu uma variação de +7,1%. Cabe lembrar que as últimas semanas de maio de 2018 foram marcadas pela greve dos caminhoneiros, que bloqueou o fluxo de mercadorias e perturbou a linha de produção de muitas empresas.
Ao atenuar este efeito pontual, bem como os impactos negativos concentrados nos últimos meses do desastre de Brumadinho sobre o ramo extrativo, a evolução industrial no acumulado em doze meses permite melhor identificar a tendência recente do setor. Depois de atingir o pico de +3,9% em abril de 2018, o crescimento foi se reduzindo até se esgotar nos primeiros meses de 2019. Em maio último, o resultado acumulado em doze meses foi de 0% de crescimento frente ao mesmo período do ano anterior. Isto é, a indústria parou.
Embora tenha contribuído para a intensidade desta involução, o mau desempenho recente do ramo extrativo é só uma parte do problema. Na indústria de transformação, o acumulado em doze meses também indica claramente uma tendência descendente: a alta de +4,4% em abr/18 se transformou em variação de mero +0,6% em mai/19.
Dos 25 ramos manufatureiros identificados pelo IBGE, 40% estão no vermelho no acumulado jun/18 a mai/19 frente ao mesmo período do ano anterior, com destaque para outros equipamentos de transporte (-6,5%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-8,9%). Juntamente com o ramo extrativo, somam 11 segmentos em queda. Por sua vez, entre os 15 ramos com crescimento no período, 6 estão em uma tendência de desaceleração. Em resumo, o panorama setorial da indústria não é nada favorável.
A tendência para os macrossetores da indústria também é declinante, sem exceção, como mostram as variações interanuais do acumulado em doze meses em dois momentos: na melhor marca durante a fase recente de recuperação, verificada em abril de 2018, e agora no mês de maio de 2019.
• Indústria Geral: +3,9% em abr/18 e 0% em mai/19;
• Bens de Capital: +10,1% e +4,2%, respectivamente;
• Bens Intermediários: +2,6% e -0,9%;
• Bens de Consumo Duráveis: +17,4% e +3,7%;
• Bens de Consumo Semi e Não Duráveis: +2,1% e +0,2%, respectivamente.
Os dois casos mais graves cabem a bens intermediários e a bens de consumo semi e não duráveis. No primeiro caso, a tendência já voltou a ser negativa, em boa medida refletindo os problemas do ramo extrativo, mas mesmo antes apresentava um crescimento muito pequeno. No segundo caso, a quem cabe a mesma observação de registrar há muito tempo um baixo dinamismo, a tendência aponta para um quadro de estagnação.
Já os macrossetores de bens de capital e bens de consumo duráveis, que vinham liderando a recuperação industrial, permanecem neste posto com as maiores taxas de crescimento no acumulado doze meses até o mês de mai/19, mas sofreram uma profunda deterioração nos últimos meses. Para bens de capital, o dinamismo acumulado até abr/18 encolheu 60% em mai/19. Para bens de consumo durável, o corte foi ainda maior: a tendência de crescimento em mai/19 é de apenas cerca de 20% do que era em abr/18.
A Pesquisa Industrial Mensal do mês de maio, divulgada hoje pelo IBGE, mostra que a produção industrial nacional registrou retração de 0,2% frente ao mês de abril de 2019, segundo dados livres de influência sazonal. Para o acumulado de doze meses registrou-se estabilidade e para o acumulando do ano houve retração de 0,7%. Em comparação a maio de 2018, aferiu-se incremento de 7,1%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, dois dos cinco segmentos analisados apresentaram incrementos: bens de intermediários (1,3%) e bens de capital (0,5%). Por outro lado, os demais segmentos apresentaram retrações: bens de consumo (-1,8%), bens semiduráveis e não duráveis (-1,6%) e bens duráveis (-1,4%).
Na comparação com o mês de maio de 2018, todos os cinco seguimentos analisados apresentaram crescimento: bens de consumo duráveis (28,0%), bens de capital (22,2%), bens de consumo (14,9%), bens semiduráveis e não duráveis (11,4%) e bens intermediários (2,3%). Para o índice acumulado nos últimos doze meses, registrou-se variação positiva em quatro dos cinco segmentos analisados: bens de capital (4,2%), bens de consumo duráveis (3,7%), bens de consumo (1,0%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,2%). Para o segmento de bens intermediários registrou-se decréscimo de -0,9%.
Setores. Na comparação com maio de 2018, houve crescimento no nível de produção em 21 dos 26 ramos pesquisados. Os maiores incrementos estiveram nos seguintes segmentos: fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (37,1%), fabricação de bebidas (23,9%), fabricação de móveis (18,6%), fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (16,3%), fabricação de produtos de minerais não metálicos (16,3%), fabricação de produtos alimentícios (16,2%), fabricação de celulose, papel e produtos de papel (14,5%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (14,2%) e fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (14,0%).
Em sentido oposto, os demais segmentos apresentaram retrações, sendo as maiores observadas em: fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-11,7%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-8,5%), fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-3,3%) e fabricação de produtos diversos (-1,5%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2019 frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou variação positiva em 17 dos 26 ramos analisados sendo as maiores verificadas em: fabricação de bebidas (8,1%), fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (7,0%), fabricação veículos automotores, reboque e carroceiras (6,5%), fabricação de produtos de minerais não metálicos (4,5%), fabricação de produtos diversos (4,4%), fabricação de produtos de fumo (3,3%) e fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (2,4%).
De outro lado, os segmentos restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores em: indústrias extrativas (-13,2%), impressão e reprodução de gravações (-12,4%), fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-11,2%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-9,6%), fabricação de produtos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-8,0%), fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,8%) e produtos de madeira (-5,3%).