Análise IEDI
Em direção à estagnação
Segundo mostram os dados divulgados hoje pelo IBGE, não foi apenas a indústria que parou de crescer nos últimos meses. Um quadro de letargia também caracteriza o desempenho das vendas do comércio varejista, muito prejudicadas pelo desemprego em um dos patamares mais elevados da história recente do país e pelas condições de crédito às famílias que deixou de apresentar melhoras adicionais.
Em maio último, as vendas reais do varejo restrito ficaram no negativo, registrando -0,1% frente ao mês anterior já descontados os efeitos sazonais. Variações muito próximas da estagnação (isto é, de 0%) é o que tem marcado a sequência de resultados deste o início do ano. Deste modo, o nível de vendas de maio é virtualmente o mesmo daquele de dezembro de 2018 (+0,1%). Em outras palavras, a recuperação do varejo, assim como a da indústria, vai ficando cada vez mais rarefeita.
Tomado em seu conceito ampliado, isto é, considerando as vendas de automóveis, autopeças e material de construção, o varejo apresenta um quadro menos intenso de prostração, mas que tampouco ajuda muito a superar as grandes perdas sofridas nos últimos anos de crise. Na passagem de abril para maio, já descontada a sazonalidade, o resultado foi de apenas +0,2%, pela segunda vez consecutiva.
Assim, mesmo com algum atraso, o varejo ampliado também oscila em torno da estabilidade no fim do primeiro semestre de 2019. Seu nível de vendas encontra-se 2,3% acima do de dezembro do ano passado, devido sobretudo aos meses de janeiro e março. O que tem causado esta trajetória é o desempenho com forte oscilação de um mês para outro do segmento de automóveis, para quem as altas, ao menos, têm sido mais expressivas do que as quedas.
À medida que os meses passam, a continuidade destes resultados fracos vai dando o tom de 2019 que, na sua primeira metade, tem sido claramente de involução. O caso ainda não é de retorno ao negativo no acumulado do ano, como ocorre na indústria, mas a direção não é nenhum pouco favorável.
Em janeiro-maio de 2019, frente a igual período do ano anterior, as vendas reais do varejo cresceram apenas +0,7%, o que representa cerca de 1/5 do crescimento de jan-mai/18 (+3,2%). Em seu conceito ampliado, o diferencial é de quase metade, graças a bases muito baixas de comparação: +3,3% em jan-mai/19 e +6,4% em jan-mai/18.
As variações interanuais abaixo, indicam situações contrastantes entre os diferentes segmentos do varejo:
• Varejo restrito: +3,2% em jan-mai/18; +0,7% em jan-mai/19;
• Varejo ampliado: +6,4% e +3,3%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +5,6% e -0,5%;
• Tecidos, vestuário e calçados: -3,3% e -0,2%;
• Móveis e eletrodomésticos: +0,6% e 0%;
• Veículos e autopeças: +17,8% e +10,6%;
• Material de construção: +4,8% e +5,3%, respectivamente.
No vermelho, estão segmentos como supermercados, alimentos, bebidas e fumo (-0,5% em jan-mai/19), cujas vendas foram influenciadas negativamente por um ritmo inferior de crescimento da massa de rendimento das famílias e pela inflação de alimentos em domicilio correndo acima do IPCA geral, mas também combustíveis e lubrificantes (-0,3%), tecidos, vestuário e calçados (-0,2%), eletrodomésticos (-1,5%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-27,1%), que passa por transformações estruturais com o avanço da digitalização.
Em crescimento, por vezes em ritmo razoável, estão aqueles segmentos cujas vendas estiveram dentre as que mais recuaram na crise e que, por isso, apresentam hoje muito espaço para recomposição. É o caso de veículos e autopeças (+10,6% em jan-mai/19), mas que ainda assim não deixou de apresentar redução de sua taxa de crescimento em relação ao acumulado dos primeiros cinco meses de 2018 (+17,8%).
Outros setores em alta em 2019 até o mês de maio foram material de construção (+5,3%) e equipamentos e material de escritório, informática e comunicação (2%), cujos avanços adicionais frente ao resultado de jan-mai/18 existem, mas não são intensos. Já bens outros bens de consumo pessoal e doméstico (+5,5%), que incluem as lojas de departamento, crescem menos do que no início do ano passado.
A partir dos dados de maio de 2019 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional, na série com ajuste sazonal, registrou queda de 0,1%. Para o acumulado dos últimos doze meses aferiu-se incremento de 1,3%, e para o acumulado do ano registrou-se crescimento de 0,7%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se incrementos de 0,2% em relação a abril de 2019, a partir de dados livres de influências sazonais. Frente ao mesmo mês de 2018, houve variação positiva de 6,4%. Para o acumulado dos últimos 12 meses registrou-se crescimento de 3,8% e no acumulado do ano aferiu-se incremento 3,3%.
A partir de dados dessazonalizados, seis dos oito setores registraram incrementos em comparação ao mês imediatamente anterior: equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (2,2%), tecidos, vestuário e calçados (1,7%), hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (1,4%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,9%), moveis e eletrodomésticos (0,6%) e livros, jornais, revistas e papelaria (0,4%). Por outro lado, os seguimentos restantes apresentaram retrações: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,4%) e combustíveis e lubrificantes (-0,8%). Para o comércio varejista ampliado, houve incremento de 0,2%, sendo que veículos, motos, partes e peças retraíram em 1,8% e material de construção variou negativamente em 2,1%.
Em relação ao mês de maio de 2018, registraram-se incrementos em cinco das oito atividades que compõem o varejo: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (7,9%), móveis e eletrodomésticos (5,8%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (3,1%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,3%) e combustíveis e lubrificantes (1,6%). Por outro lado, houve retrações nos seguintes segmentos: livros, jornais, revistas e papelaria (-16,6%), hipermercado, supermercado, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,2%) e tecidos, vestuário e calçados (-0,6%). Para o comércio varejista ampliado, registrou-se crescimento de 6,4%, com variações positivas de 22,3% e 11,6% em veículos e motos, partes e peças, e em material de construção, respectivamente.
Na análise do acumulado do ano (janeiro-maio de 2019), aferiu-se expansão de 0,7% no comércio varejista, e registraram-se acréscimos em três dos oito segmentos analisados: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (6,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (5,5%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (2,0%). Para móveis e eletrodomésticos houve estabilidade (0,0%). Nos demais segmentos registraram-se retrações: livros, jornais, revistas e papelaria (-27,1%), hipermercado, supermercado, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,5%), combustíveis e lubrificantes (-0,3%) e tecidos, vestuário e calçados (-0,2%). Para o comércio varejista ampliado houve crescimento de 3,3%, sendo incremento de 10,6% em veículos e motos, partes e peças e expansão 5,3% material e construção.
Por fim, comparando maio de 2019 com maio de 2018, 15 das 27 unidades federativas apresentaram acréscimos no volume de comércio, sendo as maiores variações na ordem decrescente: Amapá (21,0%), Santa Catarina (12,3%), Tocantins (11,4%), Acre (6,5%), Espírito Santo (6,4%), Bahia (5,1%) e Mato Grosso (4,9%). Nos demais estados foram registraram quedas, sendo as mais expressivas verificadas na Paraíba (-7,2%), Piauí (-6,4%), Alagoas (-3,6%), Minas Gerais (-3,2%), Rio de Janeiro (-2,9%) e Goiás (-2,0%).