Análise IEDI
Emprego e rendimento: entraves ao mercado interno
O crescimento econômico do país, desde o ano passado, tem encontrado dificuldades em ganhar vigor e apresentar um caráter mais autossustentado. O consumo das famílias, por exemplo, cresceu no 4º trimestre de 2018 a metade do que havia crescido no mesmo trimestre de 2017. Um dos motivos para isso tem sido uma melhora muito restringida no quadro do emprego, dinâmica que não parece ter registrado grandes progressos neste início de 2019.
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que a taxa de desocupação permanece no mesmo nível elevadíssimo de um ano atrás: 12,4% no trimestre móvel findo em fev/19 contra 12,6% no mesmo trimestre de 2018. Ou seja, nada evoluímos neste tema e o fato é que temos 13 milhões de pessoas sem emprego neste começo de ano.
Dois movimentos concorreram para isso: o número de desocupados praticamente parou de cair (-0,2% nos trimestres móveis findos em jan/19 e em fev/19 ante mesmo período do ano anterior) e o crescimento do número de ocupados estancou em torno de 1% desde o 4º trim/18 (+1,1% em dez/18-fev/19).
A evolução recente da indústria é um destacado fator que tem dificultado que o emprego total avance mais. Frente ao mesmo período do ano anterior, já são quatro trimestres móveis seguidos de contração da ocupação industrial. Isso é um notável retrocesso, já que o setor aumentava em quase 5% o emprego na entrada de 2018. O único atenuante é que ao menos em dez/18-fev/19 a queda se tornou menor (-0,7%). Outros setores no vermelho são construção, comércio e reparação de veículos e agropecuária.
Mas não é só do emprego que vêm as limitações ao mercado doméstico. Outro entrave importante tem sido o desempenho do rendimento real, praticamente estável desde o 3º trimestre do ano passado. A média da variação interanual nestes seis trimestres móveis é de apenas +0,6%. Agora em dez/18-fev/19 o resultado (+0,7%) não foi muito diferente, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Ocupação total: +1% em out-dez/18; +0,9% em nov/18-jan/19 e +1,1% em dez/18-fev/19;
• Rendimento médio real: +0,5%; +0,8% e +0,7%;
• Massa real de rendimentos: +1,7%; +1,9% e +2,0%, respectivamente.
O que explica isso é não apenas o baixo patamar atual da inflação e, consequentemente, a pequena correção dos salários obtida nas negociações do ano passado, mas também o fato de que a maior parte do emprego que vem sendo gerado refere-se a conta própria e trabalho sem carteira, que contam com rendimentos menores.
Empregos com carteira assinada, por sua vez, encolhem sistematicamente desde início de 2015, segundo a Pnad Contínua. Entretanto, embora no negativo, o resultado no trimestre findo em fev/19 não é de se desprezar, pois foi a menor retração registrada ao longo de toda esta sequência. Frente a um ano antes, o recuo de postos com carteira foi de -99 mil pessoas em dez/18-fev/19, muito diferente das 612 mil pessoas a menos em dez/17-fev/18. Este é um sinal favorável, basta saber se perdurará nos próximos meses.
Rendimento travado e ocupação crescendo pouco têm como resultado baixo dinamismo da massa salarial, que é justamente a base do consumo corrente das famílias, daí a acomodação recente que vimos neste componente do PIB. Depois de já ter registrado aumentos entre 3,5% e 4,5%, a massa de rendimentos cresceu somente 2% no trimestre móvel findo em fev/19. Isso, contudo, é um desempenho um pouco melhor do que no final do ano passado (+1,6% em set-nov/18).
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre dezembro e fevereiro de 2019 alcançou 12,4%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, setembro a novembro de 2018, houve crescimento de 0,7 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve retração de 0,2 p.p., quando registrou 12,6%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.285, apresentando incremento de 1,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior (set-out-nov), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve expansão de 0,7%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 205,4 bilhões no trimestre que se encerrou em fevereiro, registrando expansão de 0,5% frente ao trimestre imediatamente anterior e acréscimo de 2,0% quanto ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 201,3 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada ficou em 92,1 milhões de pessoas, decréscimo de 1,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior (set-out-nov), e aferiu-se expansão de 1,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (92,1 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados apresentou crescimento em 7,3% com 13,0 milhões de pessoas, já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se retração de 0,2%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 105,2 milhões de pessoas, isto representou retração de 0,2% frente ao trimestre imediatamente anterior e expansão de 1,0% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram expansão da ocupação foram os seguintes: Transporte, armazenagem e correios (5,4%), Alojamento e alimentação (3,9%), Outros serviços (3,6%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,0%) e Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (2,4%). De outro lado, os agrupamentos que apresentaram decréscimos na ocupação foram: Serviços domésticos (-2,1%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-0,9%), Indústria (-0,7%), Construção (-0,1%) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-0,1%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, comparados ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se expansões nas seguintes categorias: empregador (4,2%), trabalho privado sem carteira (3,4%), trabalhador por conta própria (2,8%) e setor público (1,1%). Para os demais seguimentos foram registradas variações negativas: trabalho familiar auxiliar (-3,2%), trabalho doméstico (-1,7%) e trabalho privado com carteira (-0,3%).