Análise IEDI
Retrocesso do crescimento industrial
A recuperação industrial perdeu o passo em 2018. Cresceu menos da metade do que havia crescido em 2017 e encerrou o último trimestre de volta ao vermelho, deixando claro que não se trata apenas de uma reativação lenta, mas também descontínua. Neste cenário, as indicações para o setor nestes primeiros meses de 2019 não são nada boas.
Como o IEDI tem reiteradamente destacado em suas análises, o desempenho industrial foi encolhendo ao longo de todo o ano passado, desde seus primeiros meses, resultando no acumulado de janeiro a dezembro em uma alta de apenas +1,1%. Em 2017, seu crescimento chegou a +2,5%. Ou seja, ao invés de a recuperação se consolidar e ganhar velocidade, perdeu ritmo.
A greve dos caminhoneiros no final de maio e, mais recentemente, uma crise aguda na Argentina podem até ter influenciado este resultado decepcionante, mas não explicam integralmente o processo de deterioração por que passou a indústria. Exemplo de que as causas são mais sistêmicas é que já no 1º trim/18 o dinamismo da produção (+2,8%) foi reduzido praticamente à metade daquele do 4º trim/17 (+5%).
Desde então, sem trégua, o quadro foi ficando cada vez mais fraco até retornar novamente para a faixa negativa em out-dez/18: -1,1% frente a igual período do ano passado. Desde que saiu da crise, no início de 2017, a indústria não registrava um resultado tão ruim. Se tomarmos o desempenho mais de curto prazo, isto é, a série com ajuste sazonal, a situação não é muito melhor, com a produção ficando virtualmente estagnada. Em outros termos, a contar pelos últimos resultados, o que já não vinha bem parece estar piorando.
Na raiz disso está um quadro político e econômico que pouco deu segurança para decisões importantes de investimento e de consumo, o emprego, que reage muito precariamente, uma recomposição apenas parcial das condições de financiamento no país, uma agenda de investimentos em infraestrutura que não deslancha e uma série de reformas estruturais fundamentais para a competitividade da produção nacional que ainda está por se realizar.
As exportações poderiam estar ajudando mais o setor a ganhar velocidade. Ao invés disso, não só cresceram pouco em 2017 (+2,7%, em quantum) e em 2018 (+2,8%), como não apresentaram nenhum avanço adicional. Deste modo, temos visto uma grande disparidade: retoma-se muito lentamente o nível de produção pré-crise, mas o saldo da balança comercial da indústria caminha rapidamente nesta direção. De 2017 para 2018, seu déficit passou de US$ 3,2 bilhões para US$ 25,1 bilhões.
Nossa indústria precisa retomar sua dimensão exportadora que já teve no passado, o que demanda ações estruturais em prol da competitividade, a exemplo da reforma tributária, e da adoção de políticas industriais modernas e adequadas aos novos tempos, muito em linha com as sugestões e reflexões que o IEDI vem fazendo e que foram sintetizadas no documento “Indústria e o Brasil do Futuro”.
Uma dimensão importante da deterioração do quadro industrial em 2018 foi sua grande amplitude. Os resultados minguaram em todos os seus macrossetores, como mostram as variações interanuais abaixo. Em alguns casos, o movimento foi particularmente forte, como em bens de consumo semi e não duráveis, que chegou a acumular queda de -0,3% no ano, mas também de bens de consumo duráveis (+7,6%) e bens intermediários (+0,4%), que em 2018 cresceram a metade de 2017.
• Indústria geral: +2,8% no 1º trim/18; +1,8% no 2º trim/18; +1,2% no 3º trim/18 e -1,1% no 4º trim/18;
• Bens de capital: +11,1%; +8,0%; +7,3%; +3,4%, respectivamente;
• Bens intermediários: +1,7%; +0,7%; +0,7% e -1,4%;
• Bens de consumo duráveis: +17%; +11,3%; +7,1% e -3,1%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -0,2%; +0,6%; -0,4% e -1,0%, respectivamente.
Além disso, dos 26 ramos identificados pelo IBGE, metade apresentou perda de produção no acumulado de 2018, isto é, 13 ramos. Em 2017 havia sido de apenas 7 ramos nesta situação. Isso significa que o número de ramos em crise no ano passado foi o dobro daquele de 2017, ano em que se davam os primeiros passos da recuperação.
A partir de dados mais detalhados do IBGE, o IEDI também avaliou preliminarmente o desempenho de 93 segmentos industriais em que, mais uma vez, nota-se grande disseminação da perda de ritmo em 2018. No acumulado do ano, 53 segmentos (56%) se saíram pior do que no ano anterior, enquanto em 2017 apenas 17 deles (18%) tinham registraram resultado inferior ao de 2016. Ademais, apenas uma minoria de segmentos (34% do total) cresceu no 4º trim/18 a um ritmo mais forte do que em 2018 como um todo, dando uma sinalização favorável para 2019.
A partir dos resultados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de dezembro divulgados hoje pelo IBGE, para dados livres de influência sazonal, a produção industrial nacional aferiu incremento de 0,2% frente ao mês de novembro de 2018, apresentando uma inflexão frente ao mês de novembro, quando foi registrada retração de 0,1% na mesma base de comparação. Para o acumulado de doze meses, assim como no acumulando do ano, houve expansão de 1,1%. Em comparação a dezembro de 2017, registrou-se decréscimo de 3,6%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, dos cinco segmentos analisados dois apresentaram incremento: bens intermediários (0,7%) e semiduráveis e não duráveis (0,2%). Por outro lado, os demais segmentos apresentaram retrações: bens de capital (-5,7%), bens duráveis (-2,1%) e bens de consumo (-0,6%),
O resultado observado na comparação com o mês de dezembro de 2017, todos os seguimentos analisados apresentaram retração: bens duráveis (-14,3%), bens de capital (-5,6%), bens de consumo (-4,9%), bens semiduráveis e não duráveis (-2,5%) e bens intermediários (-2,3%). Para o índice acumulado do ano, registrou-se expansões em quatro dos cinco os segmentos: bens de consumo duráveis (7,6%), bens de capital (7,4%), bens de consumo (1,3%) e bens intermediários (0,4%). Para o segmento de bens semiduráveis e não duráveis houve retração de 0,3%.
Setores. Na comparação com dezembro de 2017, houve expansão no nível de produção em 5 dos 26 ramos pesquisados: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (25,1%), indústrias extrativas (6,5%), produtos de minerais não metálicos (0,9%), coque, produtos derivados de petróleo e biocombustível (0,7%) e couro, artigos de viagem e calçados (0,7%). De outro lado, as retrações mais expressivas foram observadas nos seguintes segmentos: produtos do fumo (-25,3%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-19,0%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-18,5%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-12,4%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-12,0%), produtos têxteis (-11,1%), produtos de borracha e de material plástico (-10,5%) e produtos diversos (-10,3%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2018, frente igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou expansão em 13 dos 26 ramos analisados sendo os maiores: veículos automotores, reboques e carrocerias (12,6%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (6,1%), celulose, papel e produtos de papel (4,9%), metalurgia (4,0%), máquinas e equipamentos (3,4%), produtos de madeira (3,3%), produtos de metal (2,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (2,6%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (1,4%), indústrias extrativas (1,3%). Para os demais segmentos registram-se quedas, sendo os principais: produtos alimentícios (-5,1%), produtos de fumo (-4,0%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,3%), produtos têxteis (-2,4%), preparação de couros, artigos de viagem e calçados (-2,3%) e outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-2,1%).