Análise IEDI
Dinamismo morno e concentrado
Passado o impulso das promoções do último mês de novembro, o varejo vem apresentando um crescimento fraco, fazendo do início de 2019 um período morno não apenas para a indústria, mas também para o comércio. Além disso, o dinamismo recente se mostra concentrado em poucos ramos varejistas.
Em fevereiro, por exemplo, suas vendas reais ficaram estagnadas (0%) frente a janeiro, já descontados os efeitos sazonais, e recuaram -0,8% em seu conceito ampliado, isto é, consideradas as vendas de veículos, autopeças e material de construção.
Frente ao mesmo período do ano anterior, um efeito calendário contribuiu para que os resultados de fev/19 fossem os mais robustos para este mês desde 2014. As altas chegaram a +3,9% no conceito restrito e +7,7% no conceito ampliado. Porém, descontados os dois dias úteis que fev/19 teve a mais do que fev/18, a magnitude desses resultados seria menor, aproximando-os ao padrão recente de crescimento.
Já as medidas de tendência de mais de longo prazo não deixam dúvida a respeito da moderação dos resultados que vem ocorrendo desde 2018 e adentra 2019. As vendas reais do varejo ampliado, que chegaram a acumular alta de +7% em doze meses até abr/18, frente ao mesmo período do ano anterior, sofreram inflexão e agora em fev/19 registraram +4,9%. Nesta mesma comparação, o varejo restrito saiu de +3,8% em mar/18 para +2,3% em fev/19.
Seguindo este comportamento, o 1º bimestre de 2019 indica um começo de ano não muito diferente do final de 2018 para o varejo restrito, como mostram as variações interanuais abaixo. No caso do varejo ampliado, há algum progresso, ao passar de +4,4% no 4º trim/18 para +5,4% no 1º bim/19.
• Varejo restrito: +1,1% no 3º trim/18; +2,2% no 4º trim/18 e +2,8% no 1º bim/19;
• Varejo ampliado: +4,0%; +4,4% e +5,4%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +2,4%; +2,1% e +1,9%;
• Outros artigos de uso pessoal e doméstico: +6,0%; +8,5% e +8,2%;
• Veículos e autopeças: +14,5%; +13,3% e +13,7%;
• Móveis e eletrodomésticos: -4,1%; -2,0% e -0,3%, respectivamente.
O que também marca o desempenho nos dois primeiros meses de 2019, além de sua magnitude, é a concentração do crescimento em poucos ramos do varejo. Embora 8 dos 10 ramos acompanhados pelo IBGE tenham registraram variações positivas em relação a jan-fev/18, apenas 3 apresentaram contribuições significativas ao resultado geral.
A maior contribuição veio de veículos e autopeças, não apenas porque representa quase ¼ do das vendas do varejo ampliado, mas porque também tem apresentado um ritmo de crescimento de dois dígitos desde início de 2018. Agora no 1º bim/19 avançou +13,7%, contribuindo com 3 pontos percentuais para a alta de +5,4% do comércio ampliado, isto é, mais da metade do crescimento no período.
A segunda maior contribuição, de +0,7 p.p., veio do ramo de supermercado, alimentos, bebidas e fumo. Neste caso, isso se deu mais pelo seu peso no varejo (algo como 30% do total ampliado) do que pelo seu dinamismo recente. Depois de desacelerar de +6,7% para +2,1% do 1º para o 4º trimestre de 2018, ficou em +1,9% no 1º bim/19.
Já o segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que congrega um conjunto diversificado de atividades varejistas, contribuiu com +0,6 p.p. para a taxa de +5,4% do varejo ampliado em jan-fev/19. Aqui, o fator relevante foi sua taxa de crescimento mais expressiva: +8,2%.
Os demais ramos em crescimento pouco ajudaram, assim como o fato de móveis e eletrodomésticos e livros, jornais, revistas e papelaria terem apresentado resultado negativos nesta entrada de ano. No primeiro caso, ao menos, as quedas têm ficado menores, chegando a apenas -0,3% no 1º bim/19. No segundo caso, como há mudanças estruturais em seu mercado devido à digitalização, declínio de -26,8% em suas vendas.
A partir dos dados de fevereiro de 2019 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional, na série com ajuste sazonal, registrou estabilidade (0,0%). Para o acumulado dos últimos doze meses aferiu-se expansão de 2,3%, e para o acumulado do ano houve acréscimo de 2,8%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se estabilidade (0,0%) frente a janeiro de 2019, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao mesmo mês de 2018, houve expansão de 3,9%. Para o acumulado dos últimos 12 meses registrou-se crescimento de 2,3%, e no acumulado do ano aferiu-se acréscimo 2,8%.
A partir de dados dessazonalizados, quatro dos oito setores registraram variações positivas em comparação ao mês imediatamente anterior: tecidos, vestuário e calçados (4,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,0%), livros, jornais, revistas e papelaria (0,2%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,1%). Por outro lado, os seguintes seguimentos apresentação retração: equipamentos e matérias para escritório, informática e comunicação (-3,0%), combustíveis e lubrificantes (-0,9%), hipermercado, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,7%) e móveis e eletrodomésticos (-0,3%). Para o comércio varejista ampliado, houve queda de 0,8% na mesma base de comparação, sendo que veículos, motos, partes e peças retraíram 0,9% e material de construção caiu 0,3%.
Em relação ao mês de fevereiro de 2018, registraram-se incrementos em sete das oito atividades que compõem o varejo: tecidos, vestuário e calçados (10,7%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (10,7%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (10,1%), combustíveis e lubrificantes (3,0%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (2,9%), móveis e eletrodomésticos (2,7%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,5%). Para o setor de livros, jornais, revistas e papelaria houve retração de 24,3%. Para o comércio varejista ampliado, registrou-se incremento de 7,7%, com acréscimo de 19,4% em veículos e motos, partes e peças, e variação positiva de 9,3% em material de construção.
Na análise do acumulado do ano (janeiro-fevereiro de 2019) frente a igual período do ano anterior, houve variação positiva de 2,8% no comércio varejista, com acréscimos em seis dos oito segmentos analisados: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (8,6%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (8,2%), tecidos, vestuário e calçados (4,1%), combustíveis e lubrificantes (2,2%), equipamentos e materiais para escritório, informática, e comunicação (2,2%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,9%). Para os demais segmentos, registraram-se retrações: livros, jornais, revistas e papelaria (-26,8%) e móveis e eletrodomésticos (-0,3%). Para o comércio varejista ampliado houve variação positiva de 5,4%, com incremento de 13,7% em veículos e motos, partes e peças e expansão 5,5% material e construção.
Por fim, comparando fevereiro de 2018 com fevereiro de 2019, 22 das 27 unidades federativas apresentaram acréscimos no volume de comércio, sendo as maiores variações na ordem decrescente: Espírito Santo (12,6%), Acre (9,0%), Pará (8,2%), Goiás (7,8%), Mato Grosso (6,9%), Santa Catarina (6,8%), Bahia (5,7%), Mato Grosso do Sul (5,2%), e Rio Grande do Sul (5,1%), São Paulo (4,9%), Rondônia (4,8%), Tocantins (4,7%) e Rio de Janeiro (4,2%). Em sentido oposto, as maiores quedas forma registradas nos seguintes estados: Piauí (-6,8%), Roraima (-3,0%), Paraná (-1,8%), Amazonas (-1,5%) e Paraíba (-1,0%).