Análise IEDI
Quedas recordes
A crise econômica derivada da pandemia de covid-19 vem mostrando seus efeitos devastadores sobre o emprego. Ontem, os dados do CAGED, que acompanha o emprego formal, registraram em abr/20 saldo líquido de -860 mil vagas, o pior resultado da série. Hoje, a Pnad/IBGE, que pesquisa os mercados formal e informal de trabalho, traz igualmente recordes negativos.
A população ocupada total, segundo a Pnad, recuou -3,4% no trimestre móvel findo em abr/20 frente ao mesmo período do ano anterior. Foi a primeira vez que a ocupação voltou a ficar no vermelho desde meados de 2017 e consistiu no pior resultado da série histórica iniciada em 2012.
Isso sugere que os programas de proteção do emprego que vêm sendo adotados, mesmo indo na direção correta, podem não ser suficientes para evitar uma forte escalada do desemprego no país. Se assim for, será ainda mais essencial tornar eficaz e efetivo o programa de transferências emergenciais de renda à população.
A taxa de desocupação, por sua vez, ficou praticamente estável, em 12,6%, frente ao mesmo período do ano passado, representando 12,8 milhões de pessoas sem trabalho. Isso, porém, só ocorreu porque a população na força de trabalho, que é o denominador desta taxa, caiu também de forma recorde (-3,3% ante abr/19), refletindo o isolamento social, que impede as pessoas de saírem para buscar emprego, e o fechamento de lojas e escritórios.
Como mostram as variações interanuais a seguir, os setores que mais reduziram seu número de ocupados compreendem aqueles cujo funcionamento foi muito atingido pela quarentena e que normalmente contam com uma parcela relevante de informais. Foram os casos de construção, trabalho doméstico e alojamento e alimentação.
• Ocupação total: +1,6% em ago-out/19; +2,0% em nov/19-jan/20 e -3,4% em fev-abr/20;
• Ocupação na indústria: +1,4%; +4,4% e -2,9%, respectivamente;
• Ocupação no comércio: +0,9%; +1,4% e -4,5%;
• Ocupação em alojamento e alimentação: +3,9%; +3,2% e -9,3%;
• Ocupação em serviços domésticos: +2,0%; +0,9% e -10,1%;
• Ocupação na construção: +1,6%; +0,6% e -10,2%, respectivamente.
O comércio, fortemente atingido pelas medidas de combate à disseminação do coronavírus, apresentou uma das reduções (-4,5%) mais intensas em seu número de ocupados, embora não tenha se aproximado de quedas de dois dígitos como nos setores já mencionados. O avanço das vendas online, ao menos em parte, pode ter funcionado como um colchão amortecedor para a crise.
Outros setores não chegaram a encolher tanto sua ocupação quanto os anteriores, muito provavelmente devido a uma participação maior do emprego formal, facilitando o recurso a programas emergenciais de redução de jornada e salário com compensações parciais pelo governo.
É o caso da ocupação na indústria, que não registrou seu pior resultado em abr/20, mas o declínio de -2,9% ante o mesmo período do ano anterior interrompeu não apenas uma sequência de resultados positivos, mas também um movimento de aceleração importante que havia gerado uma alta de +5% no trimestre findo em fev/20, isto é, antes dos primeiros efeitos da crise de covid-19.
Este mesmo comportamento foi registrado no setor de transporte, cuja ocupação que não via um resultado negativo desde meados de 2018 e agora registrou -2,5%. Já os serviços de informação, comunicação, financeiros, imobiliários, profissionais e administrativos, muitos deles podendo ser executados de forma remota, caíram apenas -1,2%, isto é, menos do que na sua crise em 2016.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre fevereiro de 2019 e abril de 2020 registrou 12,6%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, novembro de 2019 a janeiro de 2020, houve expansão de 1,3 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação positiva de 0,1 p.p., quando registrou 12,5%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.425, apresentando acréscimo de 2,0% em relação ao trimestre imediatamente anterior (nov-dez-jan). Já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve expansão de 2,5%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 211,6 bilhões no trimestre que se encerrou em abril, registrando retração de 3,3% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 0,8% quanto ao mesmo trimestre do ano passado (R$ 213,3 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 89,2 milhões de pessoas, apresentando uma variação negativa de 5,2% em relação ao trimestre imediatamente anterior (nov-dez-jan), e aferiu-se retração de 3,4% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (92,4 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu crescimento de 7,5% com 12,8 milhões de pessoas, já frente ao mesmo trimestre do ano passado observou-se retração de 2,8%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 102,1 milhões de pessoas, representando decrescimento de 3,8% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 3,3% em frente ao mesmo trimestre do ano passado (105,5 milhão de pessoas).
Na análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, o único setor que apresentou variação positiva foi o de Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (2,9%). Por outro lado, os agrupamentos que apresentaram decréscimo foram: Construção (-10,2%), Serviços domésticos (-10,1%), Alojamento e alimentação (-9,3%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-4,5%), Indústria geral (-2,9%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,8%), Outros serviços (-2,6%), Transporte, armazenagem e correios (-2,5%) e, Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-1,2%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se acréscimo apenas na categoria setor público (3,9%). De outro lado, as demais categorias apresentaram retrações: trabalho familiar auxiliar (-11,2%), trabalho doméstico (-10,1%), trabalho privado sem carteira (-9,7%), empregador (-4,1%), trabalho privado com carteira (-2,8%) e trabalhador por conta própria (-2,1%).